17ª Meditação – Preparação do sacerdócio de Jesus Cristo
Jesus crescia em idade, em sabedoria e em graça (Lc 2,52). Ele quis este crescimento aparente e mesmo real no que diz respeito à ciência experimental. Era para passar por todas as nossas fraquezas, exceto o pecado, e para nos dar o exemplo em todos os estados da vida. Pela mesma razão, quis que houvesse uma espécie de preparação do seu sacerdócio, na qual encontramos ensinamentos e encorajamentos preciosos.
uma preparação aparente
Jesus é sempre sacerdote: Tu es sacerdos in aeternum. Desde o instante da sua concepção, é sacerdote. Em seu coração presta ao seu Pai todos os deveres e todas as homenagens da adoração, do amor, da gratidão, da reparação, da oração.
Um só instante da vida humana, a humilhação da Encarnação ser-lhe-ia suficiente para satisfazer ao seu Pai. Mas Ele não é sacerdote somente para o seu Pai, é-o por nós, sacerdotes e fiéis, e, para que nós compreendêssemos bem todas as características do seu sacerdócio, quer desenvolvê-lo sob os nossos olhos durante trinta e três anos. Quer passar por todas as fases de uma vida sacerdotal: preparação, ministério público, consumação no sacrifício.
Foi sobretudo para nós sacerdotes, que Ele quis isto, e para nos fornecer o exemplar da vida sacerdotal. Se o divino Coração amou todos os homens, não amou particularmente os seus apóstolos? “Vós não sois somente meus servos, disse-lhes, mas vós sois meus amigos” (Jo 15,15).
A vocação sacerdotal é muitas vezes preparada por piedosos antepassados. Há muitas vezes entre as causas determinantes da nossa vocação os exemplos, as orações, os méritos de uma mãe, de uma avó ou de outros familiares. Não vemos também aqui, como prelúdio ao Ecce venio de Jesus, o Ecce Ancilla de Maria, e a vida santa e pura da Virgem imaculada, a humildade de José, pai adotivo do Salvador, a dignidade de Santa Ana e de São Joaquim? Jesus quer que nós guardemos a recordação destas santas preparações. São Paulo diz a Timóteo: “Recorda-te da fé da tua avó e da tua mãe” (2Tm 1,5).
Muitas vezes também, houve nas gerações precedentes da família do sacerdote, outras vocações de sacerdotes, de religiosos, de religiosas. Jesus, por Maria, descendia simultaneamente da família de Judá e da tribo de Levi. Muito frequentemente os piedosos antepassados do sacerdote passaram por provações. Santa Ana e São Joaquim foram desprezados, Maria e José viveram na pobreza.
Se nós reconhecemos o toque divino na origem da nossa vocação, exprimamos a nossa gratidão ao divino Coração de Jesus.
O sacerdócio é ordinariamente preparado por uma infância piedosa. A santa infância de Jesus é o modelo dos nossos pequenos clérigos, dos nossos seminaristas. Para colocar este modelo diante dos nossos olhos, Jesus compraz-se em manifestar exteriormente os seus crescimentos aparentes de graça e de virtude. “Jesus, diz São Lucas, crescia em sabedoria e em graça diante de Deus e diante dos homens, ao mesmo tempo que avançava em idade” (Lc 2,52). Acomodando-se à fraqueza humana, rezava e praticava a virtude, primeiro como criança, depois como adolescente, depois como homem.
Obedecia, sobretudo, é o cunho da sua vida durante trinta anos. Ajudava os seus pais nos trabalhos da casa. Ia com eles à sinagoga e ao Templo. Aí desempenhava sem dúvida as pequenas funções que eram confiadas às crianças. Observava os costumes litúrgicos (Lc 2,42). Regressemos em pensamento à nossa infância. Agradeçamos a Deus as graças recebidas e peçamos-Lhe perdão pelas falhas que nos escaparam.
Quais eram as disposições do Coração de Jesus durante a sua infância e a sua juventude? Eram já todas sacerdotais. Ele oferecia sem cessar um sacrifício perfeito ao seu Pai. Mas segundo a economia que tinha adotado, podemos pensar que se considerava apenas como um sacerdote em preparação. Crescia em graça, crescia em sabedoria; renovava sem cessar as suas aspirações para o tempo em que exerceria o seu ministério público, para o tempo em que ofereceria a missa do Cenáculo e a missa do Calvário. “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco” (Lv 22,15).
Quantas lições para o jovem clérigo, e para o sacerdote que tem a missão de preparar crianças e jovens para o sacerdócio! Obediência, estudo, piedade, tal é o programa desta longa preparação! Durante os seus longos anos de Nazaré, Jesus pensou nos jovens clérigos de todos os tempos, abençoou-os, rezava, sacrificava-se por eles. Que interesse temos pelos jovens clérigos? Que sacrifícios fazemos por eles?
Ó Jesus, Vós vivestes para mim e preparastes todas as graças da minha infância e da minha juventude. Perdão por todos os abusos que cometi dos vossos dons! Obrigado por todos os proveitos espirituais que deles pude colher!
(Padre Dehon, O Coração Sacerdotal de Jesus).