32ª Meditação – A sobrevivência do Padre
Jesus é imortal, não só no céu, mas também nas almas, na Igreja, no sacerdócio. Nas almas: semeou as virtudes cristãs que sempre se reproduzirão. A penitência de Madalena, a fé de São Pedro, a caridade de São João foram como germes que se reproduzem sem cessar pela fecundidade do exemplo e pela difusão do apostolado.
Na Igreja: é uma organização que envolve sempre mais as almas; é um edifício que cresce sempre, solidamente apoiado sobre os seus primeiros fundamentos. No sacerdócio: Jesus tinha dito: “Eu estarei convosco até ao fim dos séculos” (Mt 28,20). Os apóstolos transmitiam o seu sacerdócio pela imposição das mãos. Sobrevivem assim através dos séculos.
Se o padre evangelizou com cuidado as crianças, que germes de vida não semeou? Aí está uma terra virgem e rica que poderá produzir cem por um. Estas crianças propagarão, elas mesmas, a sua fé e farão obras que hão de durar.
Se recolheu ovelhas desgarradas, que obra de vida o pastor não fez? Estas almas jaziam na morte e espalhavam a morte à sua volta, elas tornam-se de novo vivas e fonte de vida.
Se conservou almas fiéis, se as fez avançar na virtude, se cultivou nelas o fervor, se pôde formar almas de elite, almas unidas a Deus, estas almas também hão de sobreviver e serão fecundas em frutos de vida. O padre será por elas como pelas suas obras, a fonte cujas águas nunca se esgotam (cf. Is 58, 11).
A grande obra de Jesus foi a Igreja. Fundou-a sobre a fé de Pedro e sobre a autoridade dos apóstolos. Ela desenvolve-se, cresce, é imortal.
O padre terá as suas obras. Fundará talvez uma igreja, um oratório, um altar. Fundará uma confraria, uma associação, exercícios periódicos. Fundará obras novas: patronatos, círculos de estudo, grupos de jovens, sindicatos, mutualidades. Estas obras durarão e o padre sobreviverá a si mesmo.
Terá uma alegria íntima no dia da fundação. O dia das sementeiras é um dia de angústias e de dificuldades, mas nos seus últimos momentos o padre terá a alegria de deixar alguma obra viva e fecunda.
Morto, falará ainda pelas suas obras, pelo bem que nelas se fará. Se fundou uma missão periódica, uma obra de imprensa, uma terceira ordem, estas obras prolongarão o seu apostolado. Se publicou ou se divulgou alguns bons livros, pregará ainda depois da morte.
Ó padres, tende a santa ambição de sustentar primeiro as obras úteis que os vossos predecessores fundaram, e de lhes acrescentar, se se der o caso, algumas obras novas. Deste modo haveis de sobreviver a vós mesmos, tereis mesmo sobre a terra a imortalidade, e as vossas obras falarão por vós diante de Deus. Fundai as vossas obras com o zelo, com a caridade, com a ternura que animavam o Coração sacerdotal de Jesus, quando fundava a sua Igreja.
Jesus sobreviveu a si mesmo no sacerdócio. Ele disse aos seus apóstolos: “Ide, ensinai as nações, Eu estou convosco até ao fim dos séculos” (Mt 28,19-20). Deixou um grupo hierárquico de apóstolos e de discípulos, que deviam conservar-se, recrutar-se, desenvolver-se até ao fim dos séculos.
O simples padre não tem que fazer padres. Quando assiste a uma ordenação, é feliz por levantar as mãos com o bispo e de impor as mãos sobre a cabeça dos ordinandos como para lhes transmitir alguma coisa do seu sacerdócio.
Mas se o padre não faz os padres, é ele quem os prepara. É ele quem forma as crianças na piedade. É ele quem discerne as vocações. É ele quem ajuda a criança a escutar o apelo divino.
Samuel estava perturbado e não compreendia a palavra sobrenatural que escutava. Foi procurar o sacerdote Heli. Este compreendeu que era Deus quem chamava o menino, para dele fazer um profeta: Intelexit ergo Heli quia Dominus vocaret puerum (1Rs 3,9).
O padre sobreviverá a si mesmo pelas vocações que tiver discernido, encorajado, favorecido. Ele estará atento ao menino que gosta das cerimônias do culto, do menino que faz de bom grado e piedosamente a santa comunhão. Examinará as condições da família, a piedade da mãe e as outras circunstâncias que podem ajudá-lo a conhecer os desígnios de Deus.
Como são culpados aqueles que se desinteressam das vocações no medo de ter talvez de se incomodar ou de fazer alguns sacrifícios! Estes padres que ajudariam a se formar seriam a sua sobrevivência sobre a terra e a sua coroa no céu.
Há outras vocações ainda pelas quais o padre responderá diante de Deus. Há raparigas chamadas a viver no convento, jovens dos quais a graça quereria fazer religiosos, missionários, irmãos docentes.
O padre deve discernir e favorecer os desígnios da Providência. Ele sobreviverá a si mesmo nas almas que fizerem o bem. Morto, falará ainda: Defunctus adhuc loquitur (Hb 11,4).
Padres de Deus, tenhamos a peito sobrevivermos a nós mesmos para longamente contribuirmos para a glória de Deus e para a salvação das almas.
(Padre Dehon, O Coração Sacerdotal de Jesus).