Espaços & Laços 97
Para Começar: Ano da Vida Consagrada
Dois ícones da Vida Consagrada: Bento e Francisco, dois nomes, duas montanhas, duas iniciativas, duas experiências
De longa data, já bem antes e para além da tradição judaico-cristã, a história das religiões reconhece à “montanha” significados múltiplos e prenhes de sentido. Entre esses excele o de “lugar do encontro com a divindade”.
No último final de semana tivemos contato com duas dessas montanhas referenciais. Os Capitulares visitaram o Monte Subiaco, na região do Lácio (sábado); a maioria dos brasileiros peregrinou a Assis e, por tabela, ao Monte Subásio, situado na Úmbria (domingo). Estas Montanhas oferecem diversas similitudes: uma e outra localizam-se na Itália Central; as duas são locais de originais experiências místicas na sequela Christi, ambas tem nomes semelhantes.
Os protagonistas da nossa epopeia cristã são originários da Úmbria (il Cuor verde d’Italia). São Bento nasceu em Núrsia, na Úmbria e na mesma região umbra veio à luz Francisco. Outras semelhanças entre nossos heróis: Bento está na origem da vida monástica no Ocidente cristão ao passo que Francisco inaugura nova forma de vida religiosa em comunidade e com apostolado; Francisco é padroeiro da Itália, enquanto Bento o é da Europa; Bento alimentou grande intimidade com sua irmã (monja com ele) Escolástica e, semelhantemente, Francisco nutriu notável proximidade com sua concidadã (religiosa como ele) Clara.
São Bento de Núrsia
São Bento de Núrsia viveu aproximadamente entre 480 (Núrsia) e 547 (Abadia do Monte Cassino). Fundou a Ordem dos Beneditinos, uma das maiores ordens monásticas do mundo, e escreveu sua Regra que inspiraria muitas comunidades religiosas monásticas. Era irmão (gêmeo?) de Santa Escolástica. Papa Paulo VI proclamou-o “Patrono da Europa” (1964), além de sê-lo da Alemanha.
De nobre família romana foi destinado a estudar filosofia em Roma. Decepcionado com a frivolidade da grande cidade abandonou-a para fazer vida de oração nas imediações do Monte Subiaco. Um eremita chamado Romano encontrou Bento, deu-lhe um hábito de monge e lhe ensinou os rudimentos da vida eremítica, levando-o para uma gruta escondida: il Sacro Speco (gruta santa), no monte de Subiaco.
São Bento ficou ali por 3 anos em orações e estudos. Mais tarde passou a pregar aos pastores da região e aconselhar as pessoas que sempre mais vinham procurá-lo.
Por causa de sua fama de santidade, São Bento foi chamado para ser o abade do convento de Vicovaro. Depois de algum tempo, porém, os monges sentiam-se incomodados pela seriedade de Bento e tentaram envenená-lo. Com sua bênção, no entanto, a taça do vinho fatal se quebrou. Tendo perdoado os irmãos, Bento abandonou o convento e voltou para Subiaco.
São Bento fundou em poucos anos doze mosteiros, a saber que antes os monges viviam como eremitas, isolados, sozinhos. Ele organizou a vida monástica comunitária e os mosteiros começaram a florescer, orientados por sua famosa Regra de São Bento. As famílias nobres de Roma começaram a mandar seus filhos para estudarem nos mosteiros para serem orientados por São Bento. Santo Plácido e São Mauro estavam entre seus discípulos.
Mais tarde Bento transferiu-se a Monte Cassino onde permaneceu até sua morte. Se quiser conhecer algo mais de São Bento, veja e ouça:
https://www.youtube.com/watch?v=zbxj6pJ6-jY ;
Regra de São Bento: http://www.osb.org.br/regra.html .
São Francisco de Assis
L’Eremo dei Carceri (o eremitério dos cárceres) parece ser a melhor expressão da alma contemplativa de Francisco. O nome “Carceri”, (palavra italiana que significa literalmente “Cárceres”) é uma referência às grutas ali encontradas, e que eram utilizadas por Francisco e seus frades como celas eremíticas. Situado nas alturas do monte Subásio, serviu de refúgio espiritual para São Francisco e alguns de seus companheiros.
O Monte Subásio é uma montanha da cadeia dos Apeninos, localizado na Úmbria. Em seus flancos situa-se Assis que, cujo entorno foi declarado parque natural. Ali nasceu Francisco em 1182 e morreu em 1226.
Ainda hoje, peregrinos do mundo inteiro sobem o Subásio para visitar este santuário que fica no meio da floresta. Todos ficam impressionados com a beleza do lugar, com a simplicidade das construções e a contagiante atmosfera contemplativa. Ali, tudo aponta para o mistério divino e convida o fiel a mergulhar em Deus pelo silêncio e a oração.
Muitos companheiros de Francisco viveram neste santuário: entre outros, Frei Leão, Frei Rufino, Frei Silvestre, Frei Egídio, Frei Masseo e Frei Bernardo. Ao final do século XIII surgiu a primeira construção, ainda muito simples, ao lado de uma rústica capela. A partir desta data, foram sendo erguidas muitas outras dependências até ser concluído o santuário que conhecemos nos tempos atuais.
Eis, na pena de Tomás de Celano, a impressão causada pela oração de São Francisco: “Rezando nas florestas e nos lugares solitários, enchia os bosques de gemidos, banhava os lugares de lágrimas, batia com a mão no peito e aí, encontrando como que um esconderijo mais oculto, conversava muitas vezes com palavras com seu Senhor. Aí respondia ao Juiz, suplicava ao Pai, conversava com o Amigo, divertia-se com o Esposo. (…) Assim, transformado não só em orante, mas em oração, dirigia toda a atenção e todo o afeto a uma única coisa que pedia ao Senhor” (2Celano 95).
Para sintonizar-se com Francisco de Assis, veja e ouça:
www.fundacaotorino.com.br/cl/wp…/Beatriz-Kattah-San-Francesco.pps
Regra de São Francisco:
http://procamig.org.br/portal/index.php/regra-nao-bulada/ (não bulada);
http://procamig.org.br/portal/index.php/regra-bulada/ (bulada).
P. Mariano,scj.