NO 175º ANIVERSÁRIO DE SEU NASCIMENTO, PADRE DEHON CONTINUA ENSINANDO
O sacerdote homem de zelo e de prudência
(Exame particular, 13.09.1900)
No dia 14 de março celebramos o 175º aniversário de nascimento do nosso Fundador Padre Leão Dehon. Nessa ocasião recordamos uma intervenção dele durante a reunião sacerdotal de 1900, em Bourges. Trata-se de um exame particular guiado por Dehon. Transmite, numa página, preocupações, interrogações e convicções que podem ser fecundas ainda hoje.
Mantemos viva a tentativa de estudar o Fundador em modo sempre novo e como fonte contínua de inspiração para o nosso ser religiosos dehonianos. Segue o texto…
Qual não deve ser o nosso zelo nas presentes condições da sociedade!
“A França é para as nações infiéis um lar de apostolado, realmente. Mas os infiéis não estão somente nos lugares distantes. Os inimigos da nossa fé conseguiram banir todo princípio de religião de um grande número de famílias que vivem numa lamentável ignorância da revelação e numa completa indiferença a tudo aquilo que diz respeito à salvação. Para esses também são necessários apóstolos, sacerdotes ardorosos que trabalham com o mesmo zelo dos nossos admiráveis missionários na evangelização de seus compatriotas”. Nós o somos?
Cumprir pacificamente as funções ordinárias do santo ministério não é suficiente. É preciso ir em busca das almas. É preciso esforçar-se em ganhar os homens e sobretudo a classe mais numerosa, os operários. Nós realmente começamos a fazê-lo? É um estado de ânimo que precisa se formar em nós, uma disposição para ir aos homens, ao povo, por todos os meios favoráveis.
Em nossas igrejas, os homens do povo têm um lugar adequado? As nossas instruções são adaptadas às necessidades intelectuais e sociais? Fora da igreja, agimos em favor dos homens por meio das visitas paroquiais, pela propagada da boa imprensa, pela organização de alguma associação?
Não nos mantivemos longe dos homens, por timidez, por rotina? Interessamo-nos pelo seu trabalho, pela sua vida quotidiana a fim de ganhar a sua confiança? Amamos bastante a sociedade contemporânea, para não manter em relação a ela uma atitude de capricho? Se ela trouxe leis lamentáveis contra nós, não lhe demos espaço ao favorecer uma imprensa de oposição às instituições atuais, espalhando brochuras e panfletos, aconselhando certos livros aos homens de diferentes classes sociais? Não nos esquecemos do conselho de São Paulo: “Omnibus omnia factus sum?” [1Cor 9,22].
O zelo dos inimigos de Deus deve nos dar vergonha. Quão grande esforço eles fazem para ganhar as massas por meio da imprensa, pelas obras em favor da juventude, pelas associações de todos os gêneros. É preciso zelo, um zelo ardoroso, animado e sustentado pela oração. É necessária uma vida ativa, uma vida de trabalho e de sacrifício, ao mesmo tempo que uma vida exemplar. É preciso que o zelo seja discreto e prudente.
É preciso ir ao povo sem, todavia, nos aventurar em reuniões onde nossa presença serviria somente a excitar a paixão dos ímpios, sem proveito para ninguém. É preciso que nosso zelo seja discreto. As obras devem ser estudadas, preparadas e fundadas sabiamente sem, contudo, que as regras de sabedoria sejam uma desculpa para a nossa covardia.
Oh! Quanto a sociedade atual precisa do sacerdote, do verdadeiro e santo sacerdote, para que ele seja o sal desta terra insípida, a luz deste mundo obscurecido e o lar que aquecerá os corações congelados.
Jamais houve uma confusão tão grande de doutrina em questão social, em questão política, em questão religiosa. A caridade é de tal forma arrefecida que as diversas classes da nossa sociedade se odeiam e a guerra social se prepara para o grande dia.
Se o sacerdote é a luz que espalha sobre o mundo o brilho da doutrina revelada, ele deve ser particularmente neste tempo atual o mestre e o apóstolo da ciência social cristã. Ele somente pode pacificar os conflitos sociais e reconciliar todas as classes. Ele possui a fonte da caridade cristã que tira da autoridade do Sagrado Coração de Jesus. Acresçamos que os sacerdotes edificarão se derem sempre um exemplo de união e de caridade entre si, seja entre os sacerdotes seculares, seja entre esses e os religiosos. O sacerdote do nosso tempo deve ainda ser, antes de tudo, o homem da oração e do sacrifício, para aplacar a justiça divina, irritada pela corrupção dos costumes, e para fazer descer as graças divinas sobre a sociedade atual.
Ele deve ser o homem dos estudos e das obras sociais, para trazer o reino da justiça e para fazer reviver a vida de associação. Enfim, para levar a este tempo de divisão e de ódio um remédio novo, uma caridade abundante; ele deve ser o adorador fervoroso, o discípulo e o apóstolo da eucaristia e do Sagrado Coração de Jesus.
Da “Newsletter”, March 2018, do Centro Studi Dehoniani