PADRE DEHON EM VISITA A SANTA CATARINA (2)
29 de Outubro: Alojamo-nos no Hotel Mueller, semi-brasileiro e semi-alemão. Joinville tem muitos protestantes; seu fundador, no entanto, é um padre: Padre Carlos Boegershausen, que ainda dirige a paróquia. Faleceu alguns meses depois de minha passagem. A igreja sobre a colina é obra sua, mas ele cedeu um terreno vizinho a outros, que depois lá construíram a Loja Maçônica. O bom vigário ainda trabalha, apesar dos seus 75 anos; realizou uma bela primeira comunhão.
De Joinville a São Bento: viagem em viatura; uma carroça puxada por quatro cavalos. Estrada terrível, desumana, esburacada, áspera, pedregosa.
Assim fomos viajando aos solavancos pela Estrada Dona Francisca, nome de uma princeza (sic) imperial. Montanhas, curvas em ziguezague, estrada alpestre. Formosas e espessas matas virgens, árvores altas como as palmeiras, matagais de begônias. Várias árvores sobem umas nas outras, as orquídeas as enfeitam e os cipós as revestem. É uma luta pela vida na natureza.
Um jovem engenheiro, amigo da França, dirige os trabalhos da estrada que o Estado considera estratégica na penetração para o interior. São trinta soldados que estão sob seu comando para a conservação da estrada. O que ele pode fazer? Bem nos diz que o Ministério não lhe dá os meios suficientes para o trabalho útil. Espera que a estrada seja aberta dentro de dois anos. O trabalho está sendo realizado, mas ainda nesses dias uma ponte em construção caiu perto de São Francisco: um comboio tombou no rio, uma máquina perdeu-se, provocando atrasos incalculáveis. Encontramos inúmeras carroças, tipo gaulês, com cinco cavalos, carregados de mate. Esta exportação dura cinco meses por ano. É isso que constrói a estrada.
Pernoitamos no quilômetro 0: albergue de madeira, quartos mal fechados com mais camas, colchões de palha de milhão, comida brasileira indigesta. É uma hospedaria para carroceiros. Noite cansativa!
30 de Outubro: Na manhã seguinte, tempestade e chuva diluviana. Partimos, o tempo melhora. Aqui o povo usa o poncho como no Equador. É uma coberta de lã, com uma abertura no centro por onde passa a cabeça. Protege contra a chuva.
Há bosques com vários tipos de árvores. A região é linda, a estrada atroz. Uma legião de araucárias com vinte metros de altura. A araucária é a rainha dessas florestas. Ela dá o nome a Curitiba. Os índios chamam esta árvore de curi. Coníferas de toda espécie. Pequenos bosques de cactos em flor. Comparo estes cactos floridos com os cactos mirrados que nós cultivamos penosamente nas nossas janelas.
Pássaros maravilhosos ao longo de toda a estrada, especialmente os tucanos com seu pescoço variado de púrpura e de ouro. Pernoite em Campo Alegre, no Hotel Esperança.
Circular SCJ – 15 anos de BSP e BRM.