PADRE DEHON EM VISITA A SANTA CATARINA (4)
Dia 02 de Novembro, dia de Finados: é permitido celebrar três missas em todas as antigas colônias portuguesas e espanholas. Não tenho forças para celebrar mais que duas. Venera-se também Jesus Nazareno, imagem que frequentemente encontrei nas igrejas da Espanha, Portugal e Itália. A origem desta devoção é uma imagem milagrosa, ultrajada em Fez, no Marrocos, em 1632, resgatada pelos Trinitários e honrada por eles em Madri.
Os católicos da Boêmia, bastante numerosos em São Bento, têm o curioso costume de acender na missa pelos defuntos suas velas finas que nós apelidamos de “pavio de cera”. Acredito que se faz o mesmo no norte da Espanha.
Dia 03 de Novembro: Dia de espera. Estou sofrendo. É o primeiro sábado do mês. Peço à Virgem para que me restitua as forças, a fim de poder continuar a viagem, pois estou exausto. Tenho pena dos carroceiros do mate que enchem as estradas. Sua vida é penosa. Conduzem suas carroças em grupos, e à noite param num campo. Informaram-me que ganham 25 mil réis, cerca de 33 francos, por semana e pela viatura. É pouco para um homem e cinco cavalos.
Dia 04 de Novembro: Domingo, dia 4, primeiro domingo do mês: missa e comunhão das moças. Elas em grande número vêm de dez ou doze quilômetros. Nossos padres se esforçam por reavivar nelas a devoção e por ministra-lhes a doutrina.
Capítulo XXVI
Viagem – Blumenau – As colônias – Os Eslavos – Os italianos
Deu-se a partida após a missa matinal. O bom padre Meller, vigário
de São Bento, nos acompanha. Bela estrada pelas montanhas. Os trabalhos da estrada de ferro avançam. Nós a cruzamos várias vezes. Há pontes audaciosas, túneis. A via é entalhada na encosta das rochas. Estas obras de arte nada ficam devendo às da Europa.
Passamos pela aldeia dos polacos. Esta brava gente não fala senão sua
língua. Um dos nossos padres está se interessando pelo estudo do polonês, para poder exercer o ministério entre eles. Existe uma estrada carroçável por Hansa de Hamburgo, sociedade colonizadora. Nesse aglomerado de montanhas vê-se uma que domina, e é visível em toda a região até o mar. É o Morro da Igreja. Este pico em formas fantásticas assemelha-se a uma catedral gótica. Na estrada encontramos bandos de pardais amarelados. São bonitos como os nossos pássaros das Canárias, mas não cantam. Encontramos algumas serpentes, jararacas entre outras, que são perigosas. Matei uma em São Bento, perto da casa paroquial.
Hansa é um povoado no centro de um círculo de montanhas, no vale do Itapocu. Lá dormimos. Que sábado nesse albergue! Crianças, bêbados, empregados: gritam, cantam, andam de tamancos sobre o assoalho, bem noite a dentro. A divisão é feita de tábuas: somos em três num quarto. Camas toscas, infestadas de pulgas. Um bêbado entra de noite e dorme em cima dos bancos. Um sacristão tagarela, da pequena capela de Hansa, fala francês. É de Colônia, foi pintor em Bruxelas, na Rua dos Doze Apóstolos.
Circular SCJ – 15 anos de BSP e BRM.