CONVENTINHO DE TAUBATÉ. OS DEHONIANOS NO VALE DO PARAÍBA
2.2. O Convento Carmelita de Santo Antônio
Pouquíssimas pessoas sabem que Taubaté teve, também, um convento carmelita. O primeiro convento de Taubaté pertencia aos frades carmelitas que Jacques Félix trouxera consigo.
O referido convento foi edificado na década de 1640 e estava entre os quatro prédios públicos de maior importância: a Igreja de São Francisco das Chagas, a Casa do Conselho, a Cadeia e o Convento Santo Antônio. Este Convento Velho não tinha sido instalado numa casa convencional de frades (com clausura, naves, celas e outras exigências conventuais), mas em prédio comum.
Quando Jacques Félix veio para Taubaté, numerosas famílias e pessoas nobres o acompanharam. No ano de 1645, ao solicitar a elevação do arraial em Vila, sua relação de pessoas importantes, enviada ao Governador da Capitania, incluía o nome do frei Antônio da Cruz, pertencente à Ordem de Nossa Senhora do Carmo.
Não se sabe exatamente quando os frades carmelitas deixaram Taubaté. Este convento ficava no alto do caminho onde hoje está a Rua Rebouças de Carvalho, entre as ruas São João e São José, nas imediações da atual capela de Sant’Ana.
O convento deve ter desaparecido no final do século XVII ou início de século XVIII. Fora construído sob a invocação de Santo Antônio e, com a construção do convento franciscano de Santa Clara, passou a ser chamado Convento Velho. Reminiscência histórica deste convento, é o nome de um riacho denominado CÓRREGO DO CONVENTO VELHO. Tal denominação vem do fato de o mesmo passar nas imediações do referido convento, mais exatamente, na proximidade do atual Mercado. Ainda hoje o córrego com o mesmo nome banha a paróquia do Sagrado Coração de Jesus, nos fundos do Conjunto Residencial Monteiro Lobato, fazendo limites com o município de Tremembé {cf. José B. Ortiz, op. cit., Vol. II, pp. 35,38; Emílio A. Beringhs, Amadei, Lendas e Tradições, pp. 23-27}.
2.3. O Convento de Santa Clara
No início da povoação de Taubaté, os habitantes endereçaram um convite aos frades de São Francisco do Rio de Janeiro, para estabelecerem um convento no arraial recém fundado. Só trinta anos mais tarde o pedido foi atendido. Eis o início do segundo convento de Taubaté.
O Convento de Santa Clara de Assis foi fundado aos 25 de março de 1674, pelos frades franciscanos do Convento Santo Antônio do Rio de Janeiro, frei Jerônimo de São Brás, como superior, frei Manoel Leite e mais um irmão religioso. No dia 25 de março, início oficial das obras, os moradores de Taubaté assinaram um documento perante o tabelião, comprometendo-se construir um convento para os franciscanos.
A construção, porém, protelou-se por vários anos, por falta de colaboração do povo, e só foi terminada depois de 1678. O prédio apresenta linhas tipicamente coloniais, sustentado por grossas paredes, construídas de “taipas de pilão”. Situado na periferia da Vila, o convento contribuiu muito para o crescimento da área urbana, pois ao seu redor foram surgindo novas construções. Explica-se a sua importância porque no século XVII, ter um Convento na cidade era privilégio, pois ali chegavam em primeira mão as notícias do Reino.
Concluída a construção, o convento abrigou várias dezenas de religiosos franciscanos. No século XVIII, todavia, com a lei proibitiva do Marquês de Pombal, que impedia as ordens religiosas de ter noviciado e receber novos membros de fora, também o convento taubateano foi se esvaziando. Assim, no ano de 1765, o número de religiosos do Convento de Santa Clara ficou reduzido a dezesseis frades. Em 1832 restavam apenas dois franciscanos.
O edifício conventual, após 168 anos de funcionamento, ficou parcialmente arruinado em decorrência de um incêndio verificado em 17 de setembro de 1842. Brasas de um turíbulo, por descuido, deixado no soalho da sacristia, causaram o incidente, queimando a capela-mor e uma considerável ala da velha construção. Providencialmente, uma tempestade veio salvá-lo de completa destruição.
Depois deste sinistro, o convento entrou em decadência. Assim, a partir de 1847, o prédio foi transformado em Escola Pública (Colégio) da cidade, que funcionou com absoluta regularidade até 1852. Houve tempos em que mais de 80 alunos chegaram a frequentar essa Escola Pública.
Em 1876, graças ao trabalho desenvolvido por frei Caetano de Messina, foram intensificadas as obras de restauração do antigo prédio. Não obstante a restauração, o edifício permaneceu fechado até 1887, quando nele foi instalado o Instituto de Artes e Ofícios, que funcionou até 1891.
Após ter servido de Escola Pública e de Instituto de Artes e Ofício, além de outras utilidades de ordem educacional, o prédio foi doado à Ordem dos Capuchinhos de Trento, em 1891. Os frades não tomaram posse imediata do Convento de Santa Clara, adiando-a para 15 de fevereiro de 1892. Foi exatamente nessa data que eles chegaram à estação Central, em Taubaté, sendo recebidos festivamente pela população. Os novos freis do convento foram: frei Luís de São Tiago (escolhido para o primeiro superior), frei Gregório de Rumo, frei Mansueto Barcatta de Val Floriana, frei Benjamim de Vigo Meano e frei José de Cassana. Este grupo, portanto, constituiu a primeira família de religiosos capuchinhos do Convento de Santa Clara.
Nos séculos coloniais os frades franciscanos haviam prestado grande serviço à população taubateana, quer pelos ensinamentos relativos à saúde (instrução sobre o uso de ervas medicinais, no combate às enfermidades mais comuns), quer pelas artes e ofícios tais como carpintaria, marcenaria, entalhe e escultura (principalmente de imagens, introduzindo, até mesmo, a “arte presepista” em municípios valeparaibanos).
Com a chegada dos frades capuchinhos o Convento de Santa Clara reviveu. Em 1894 foi aberto o Externato do Coração de Maria, que funcionou no sobrado da Ordem Terceira. Eram recebidos, de preferência, completamente grátis, meninos de famílias pobres. Desde os primeiros tempos, os frades não descuidaram do ensino gratuito, quase sempre aos menos favorecidos.
O prédio do Convento de Santa Clara, desde o tempo dos franciscanos fora ampliado e havia zelo por sua conservação, tanto quanto o permitiam os recursos da época. Com o correr do tempo, o abandono acarretou vários estragos, mas foi o incêndio de 1842 que o deixou quase em ruínas.
Quando os capuchinhos tomaram posse do convento, a igreja e o coro necessitavam de grandes reformas. Os frades colocaram mãos à obra de reconstrução, depois continuada sob a coordenação dos outros guardiães, até 1926. Neste ano foi levada a efeito a maior reforma em toda a igreja, caracterizada pela conservação do mesmo estilo externo, principalmente a interessante torre sineira. A reinauguração da igreja de Santa Clara de Taubaté foi realizada de 8 a 16 de outubro de 1927.
Até 1911 o Convento de Santa Clara abrigou o seminário da Ordem, neste ano transferido a Piracicaba. Em 1939 o seminário voltaria a ser instalado no convento taubateano.
Frei Luís de Santiago, o primeiro guardião dos Capuchinhos do Convento de Santa Clara (1892-1894), foi fundador, em Taubaté, do Lar Escola Santa Verônica. Ao mesmo frade deve-se, igualmente, a fundação da Congregação das Irmãs Franciscanas Missionárias do Coração de Maria.
Mais tarde, nos anos de 1967 e 1968, no tempo do frei Alexandre de Bedollo, o convento passou por nova reforma, com substituição, inclusive, do forro e das esquadrias. É importante aqui registrar que o atual formato do edifício do Convento de Santa Clara não é originário. Em 1955, aumentaram-se os braços da Cruz Romana. Esses braços são as partes laterais junto ao altar principal. A ampliação visava oferecer maior espaço para os fiéis. Inicialmente fora feito somente do lado esquerdo do altar-mor. Mais tarde, fez-se a ampliação com o braço direito da Cruz Romana, como até hoje existe. As reformas continuaram com o frei César de Oliveira Bastos até 1972.
Atualmente, do convento original só existe a fachada da igreja que, no entanto, foi alterada. Eis o Convento de Santa Clara, que é uma das mais caras tradições de todo o Vale do Paraíba, um autêntico monumento do passado que conta 323 anos de existência. Em 1986 o edifício foi tombado pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), órgão institucional que cuida da conservação e proteção dos monumentos antigos {cf. José B. Ortiz, op. cit., Vol. II, pp. 657-689; Percival Tirapelli, “O Convento de Santa Clara em Taubaté”, in: Folha de São Paulo, domingo (18.8.91), p. 10-2}.
Pe. José Francisco Schmitt, scj.