A cruz e o túmulo
Aos que não crêem como nós, nosso respeito fraterno… Nós achamos que ele ressuscitou.”
Naquela festa de páscoa, mais uma vez os piedosos judeus comemoravam 12 séculos desde a primeira das muitas libertações do seu povo. Havia mais de 1.200 anos que Moisés libertara os hebreus da escravidão do Egito. Naquele dia não se falava de morte e sim de vida. Por isso, as autoridades mandaram descer das cruzes na Colina da Caveira os três condenados que ali morreram. Um ladrão um bandoleiro e um perigoso agitador político religioso que por cerca de trinta meses andara pregando um novo reino. O agitador era o carpinteiro Jesus de Nazaré. Fim de linha para ele. Provocou, morreu!
Também ele tinha comemorado a ceia de páscoa com os discípulos que formara. (Mt 26, 19) Naquela ceia ele predisse que seria traído e morto pelas autoridades religiosas de Israel. (Lc 22,15). Eram tempo difíceis. Contestação em cima de contestação. O templo havia se tornando em centro de arrecadação de impostos para a invasora Roma, o imperador era quem nomeava os sumos sacerdotes e quem questionasse aquele sistema e aquela aliança, morria. Jesus a questionou.
Havia algumas semanas que a perseguição recrudescera, desde que ele derrubou as mesas dos cambistas lá dentro do templo. (Mt 21,22) Chegara a dizer quem em três dias reconstruiria o templo se ele fosse destruído.(Jo 2,19) Com que autoridade? Quem ele achava que era? Pior ainda quando se espalhou a notícia de que ele ressuscitara Lázaro em Betânia (Jo 11, 41-53 ). Que ressurreição que nada! Sua proposta de um novo Reino estava começando a tomar contornos de caminho sem volta.
Os inimigos agiram rápido. Na mesma noite o prenderam, torturaram, julgaram e condenaram. Vararam a madrugada batendo nele. Estava em petição de miséria quando às 9h foi levado à Colina da Caveira e crucificado. Entrou em agonia às 12h, morreu às 15h, logo depois começaram os procedimentos para descê-lo da cruz e ungi-lo. Às 18h, um pouco antes do sol se por começou a procissão do enterro. Foi posto num túmulo escavado na rocha e cedido por José de Arimatéia, homem corajoso e político de respeito.
Foi a páscoa mais dolorosa da vida de sua mãe e dos seus discípulos. A cidade festejava a vida, a libertação de 12 séculos atrás e os líderes religiosos haviam matado quem não fizera outra coisa senão ver seu povo livre por dentro e por fora. Ele nunca pegara me armas e jamais propusera este recurso. Mas tinha sim pedido um outro tipo de justiça. Não aquela que existia em Israel com o povo perdendo suas terras, latifúndios aumentando e com o governo e o templo juntos, arrecadando quase 60% de impostos.
Ficaram lá chorando e orando. Mas na manhã do dia após a páscoa, cedo ao nascer do sol ( Mc 16,2) as mulheres não acharam seu corpo. A pedra tinha sido rolada. Estavam lá as roupas, mas não o corpo.
Na colina uma cruz vazia e no jardim de José de Arimatéia, um túmulo também vazio. E aí, roubaram seu corpo? O que houve com ele? Onde estava? A notícia correu. E foi pior para quem o matou. Começaram a lembrar tudo o que ele predissera e tudo que fizera em vida. Poder ele tinha. Se ressuscitara Lázaro também poderia ressuscitar a si mesmo. Já os inimigos irados garantiam que os mesmos impostores que fingiram a morte de Lázaro para depois capitalizar em cima da notícia roubaram o corpo e um discípulo parecido com ele começou a fazer aparições fictícias.
São centenas as versões sobre a cruz e o túmulo vazios. Naquele tempo seus adversários festejavam a páscoa da libertação com Moisés. Hoje dois mil anos depois 2 bilhões de cristãos festejam a páscoa da ressurreição de Jesus e com Jesus.
Nesse período aconteceu muita violência e muito ódio. Já estamos dialogando. Para nós Jesus não veio destruir o judaísmo. Também não veio jogar ninguém contra ninguém. Fez uma nova proposta. Respeitamos quem não a aceitou e queremos respeito por termos aceitado.
Nosso sermão da paixão é hoje, também o sermão da ressurreição. Sim Jesus morreu. Mas foi só por três dias incompletos. Achamos que ele está vivo. Para nós ele é nossa maior interrogação e nossa maior exclamação.
Aos que não crêem como nós, nosso respeito fraterno. Com os que acreditam que Jesus foi mais do que um simples profeta, nossa prece em comum. Nós temos uma explicação para aquela cruz e para aquele túmulo. Mas isto já é teologia. A história apenas diz que há 2 mil anos atrás, um filho de carpinteiro não teve medo, disse o que tinha que dizer, foi perseguido, torturado e morto por motivos religiosos e políticos e dois dias depois já não estava mais naquele túmulo.
Nós achamos que ele ressuscitou. Ouros acham que não. Por isso vamos ao templo relembrar sua vitória e eles não vão. Mas na rua por causa da nossa fé nós os chamamos de irmãos e irmãs. Foi que Jesus nos ensinou a fazer. Morrer por e como Jesus? Sim. Matar por causa dele? Nunca! Ele jamais aprovaria isso! É a lição daquela cruz e daquele túmulo!
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