CONVENTINHO DE TAUBATÉ, PÁSCOA DIFERENTE
Como aprendemos a lidar com o Dia que o Senhor fez para nós?
Há dois meses ninguém imaginava que a Páscoa de 2020 seria como veio a ser, que teria o protagonista que veio a ter…
Em geral, aqui no Conventinho, Fratres e Padres, já desde o início do ano, junto às atividades regulares, vamos orquestrando a sinfonia de novas perspectivas, experiências surpreendentes, diferentes comunidades, distintas surpresas com que nos defrontaremos na Semana Santa e na Páscoa. Na prática, nós costumamos estar entre os protagonistas de primeira linha, a ponto de, nalgumas paróquias, não ser raro que as celebrações de Semana Santa e Páscoa venham a ser rotuladas como a “Páscoa do Padre ou Frater tal”.
Em 2020, nada disso aconteceu! O protagonista primeiro, evidentemente, é sempre Ele, Jesus Cristo. Porém, quem determinou o onde e o como, com quem e quando, ao menos enquanto causa segunda, foi o novo coronavírus. Dessa feita, segundo notório jargão futebolístico, “titular no campo reserva no banco”, nós fomos colocados onde sempre deveríamos estar, literalmente, no banco de reservas.
Na antessala da Semana Santa, às vésperas de Domingo de Ramos, nossa comunidade, com seus momentaneamente 62 confrades, além das “três Marias”, a mais numerosa comunidade da Congregação, tivemos uma “live” com o Superior Geral, P. Carlos Luis Suárez Codorniú. Vindo do Vietnam e indo para Roma, encontra-se retido em Madrid, epicentro da pandemia na Espanha. Na privilegiada conversa que tivemos com ele apontou, justamente, a peculiaridade e imponderabilidade com que esta Páscoa seria vivida. Teríamos que aprender a acolher e assumir este “Dia que o Senhor fez para nós”.
Aliás, já desde 18 de março as aulas presenciais da Faculdade Dehoniana foram suspensas. Nossas “tertúlias” acadêmico-teológicas passaram a ser virtuais, nossos horários foram reconfigurados, reaprendemos a conviver assídua e intensamente, ainda que mantendo certo distanciamento. Não poucas vezes ouve-se dizer que, ao menos enquanto comunidade reunida, nunca rezáramos tanto e com tanto tempo, sem pressa de terminar nem pressão da próxima atividade iniciar.
No Domingo de Ramos ou da Paixão (05/04) reunimo-nos à frente do Conventinho para iniciar, com procissão, seguida de Missa, nossa Semana Santa. Coube a P. Valdenir presidir a liturgia matinal. Na 2ª feira celebramos as Dores de Nossa Senhora, motivados pela reflexão de Fr. Rodrigo Victor (BRE). A 3ª feira Santa recebeu destaque pela celebração do Senhor dos Passos, na qual orientou-nos P. Marcelo Batalioto. Já no dia seguinte, sob a presidência de P. Joãozinho celebramos o Encontro do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores.
A Quinta-Feira Santa, com sua rica e inspiradora carga de sentido teve P. Cláudio Buss na coordenação. Depois, até às 14h00 do dia seguinte houve grupos em vigília diante da Eucaristia. Na principal celebração da Sexta-Feira Santa a regência ficou por conta do P. Mário Marcelo. Ao cair da tarde fizemos a Via-Sacra, percorrendo as várias estações, desde a Gruta de Nossa Senhora até a Capela.
Muito bem preparada e não menos bem participada foi a Vigília-mãe de todas as vigílias, no Sábado Santo à noite, com celebração plena, todas as leituras e inteira comunidade. Presidiu-a, com muita propriedade, nosso reitor, P. Djalma. Em seguida, aprouve-nos fazer singela confraternização. O Domingo de Páscoa foi marcado pela Missa solene das 10h00, presidida por P. Mariano, e a festiva Adoração/Bênção ao anoitecer.
O que pode ser constatado, com admiração e gratidão, é a magnífica diversidade e a impressionante originalidade em nossa comunidade conventual. Quão lindos os dizeres que nos foram partilhados, que belos os cantares que nos foram dados ouvir. Imagine-se que aqui reuniram-se fratres e padres que habitualmente, nesses tempos solenes, tomam a frente e coordenam celebrações para multidões. Nesse ano, caso único na centenária história do Conventinho, estávamos todos juntos, em casa, em nossa casa. Que maravilha! Pena é que (fez-nos percebê-lo com ligeiro desapontamento, o padre reitor) a exagerada crítica perfeccionista, reinante nas comunidades religiosas, condicionou a natural desenvoltura, leveza e criatividade que marcam a performance dos confrades nas celebrações em outras realidades.
A pandemia Covid-19 dita as novas normas de convivência, o modo de ocupar os espaços e tecer os relacionamentos. Há quem diga que isso é uma guerra. Outros afirmam: “Não, esta pandemia não é uma guerra. As nações não se enfrentam umas às outras, nem soldados a outros soldados. É um teste de nossa humanidade”. Essa crise “tira o melhor e o pior das pessoas. Mostremos aos outros o melhor de nós mesmos”, disse, em apelo à solidariedade, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, no dia 11/04. Há muitas pessoas que doam sua ciência, sua vida e sua competência para socorrer os atingidos pela pandemia planetária. Contudo, na contramão do bom senso e da lucidez, há presidente que preside na incompetência e na estupidez, que infecta sua gente com o vírus da insanidade.
Certamente, essa pandemia que afeta o mundo inteiro, há de passar para a história e terá registro nos livros de história. Pouco de tudo isso compreendemos, mas com certeza cremos: “La providence paternelle de Dieu dirige toutes les joses / A providência paternal de Deus dirige todas as coisas” (Santa Teresinha do Menino Jesus). Todos precisamos reaprender a viver. Nós, aqui no Conventinho, somos imensamente privilegiados, pela casa arejada e pela maravilhosa área verde, arborizada; pelo campo e pelo bosque; pelas quotidianas orações de Missa, Adoração, Rosário na mão, com fé na vida e no coração…
Mariano Weizenmann SCJ (Conventinho, Taubaté/SP).