Memórias da nossa História
Conventinho de Taubaté. Os Dehonianos no Vale do Paraíba
8.3. Traços biográfi cos dos primeiros dehonianos em Taubaté
O que hoje somos e temos em nossa modesta história, devemos, sem embargo, à coragem e generosidade dos que nos precederam. São os nossos pioneiros. A história do Conventinho e da Província está ligada à vida desses homens que acreditaram e assumiram a missão que lhes foi confiada. Nesse sentido, vamos apresentar em rápidos traços vida e fatos de alguns dos nossos pioneiros que estiveram em Taubaté. Os fatos mais pitorescos não devem ser interpretados no sentido superficial e de falta de respeito com esses homens de Deus. Esses episódios nos revelam com que seriedade e amor eles viviam e tratavam as coisas importantes da Congregação e da
Igreja.
8.3.1. Irmão José João Berchmans Koitek
João Koitek nasceu em Nassen/Bischofsburg (Ostpreussen), na Alemanha, aos 5.9.1893. Serviu como soldado na 1ª Guerra Mundial. Veio ao Brasil em 1922. Desde maio de 1922 esteve no seminário diocesano de Taubaté como porteiro. Aos 1.6.1923 veio morar na Chácara dos Padres, tornando-se o primeiro habitante do Convento
SCJ. Esta é a data da fundação do Convento. Aí ele trabalhava com os empregados e foi cozinheiro do primeiro grupo de fratres alemães que vieram em 23.11.1923. Ficou em Taubaté até setembro de 1935, quando foi transferido para Brusque. Além de estadias curtas em Vila Maria, São Bento do Sul, Trindade (Florianópolis) e Castro (PR), dedicou-se o irmão João durante 20 anos ao teologado em Taubaté e zelou com todo o carinho por 11 anos da portaria e sacristia de Cristo Rei (paróquia Sagrado Coração de Jesus) no Méier, Rio de Janeiro. A partir de maio de 1960, irmão João esteve de novo a Taubaté e fi cou aí até setembro de 1965, quando foi transferido para Rio Cerro (noviciado).
Ele é lembrado pelo seu espírito de pobreza, sua disponibilidade ao serviço da
comunidade seja como cozinheiro, seja como sacristão e outros ofícios que lhe foram confiados pelos superiores. Acompanhava com muito interesse o desenvolvimento da Congregação e o trabalho dos missionários, o que bem denota seu espírito missionário. Estava a par de tudo, lendo as revistas da Congregação. Padre Zezinho, ao escrever a biografi a do irmão Koitek, diz que cada vez que for lembrado o nome desse irmão se compreenderá melhor o sentido da palavra irmão cooperador.
Sua vida de fraternidade defi niu em plenitude o que signifi ca ter um religioso irmão numa comunidade de clérigos e sacerdotes
Irmão Koitek veio a falecer a 30.10.1966, em Jaraguá do Sul. Foi sepultado em Rio Cerro. E aos 28.10.1983, os seus restos mortais foram transladados para o Seminário de Corupá. Ele permanece vivo no Senhor. O Conventinho de Taubaté deve muito a esse servo de Deus {cf. Crônicas Decker (Jaraguá do Sul, aos 22.9.1983), p. 8; José Fernandes, op. cit., p. 67}.
8.3.2. Padre Pedro Silvestre Storms
Padre Pedro Storms era também conhecido como Padre Pedrinho, por sua pequena estatura. Ele nasceu em Lümbach/Heinsberg (Rheinland), Alemanha, a 5.2.1879. Em 9.6.1906, na Bélgica, recebeu a ordenação sacerdotal das mãos do Cardeal Mercier. Foi contemporâneo do Padre Fundador e o conheceu quando aluno e sacerdote.
Era um homem de Deus, um verdadeiro scj. Foi discípulo do padre André Prévot e seu vice-mestre. Encarnou o seu estilo de vida, na ascese, na renúncia, na pobreza e na piedade…
Foi um homem muito pobre. Sua batina era surrada, porém, sempre limpa. Recomendava o asseio. No trem viajava em 2ª classe. Nas viagens longas levava ovos cozidos, não tomava refeições em restaurantes, mas sabia onde se podia tomar um bom cafezinho de que gostava. Não encostava na cadeira ou no banco da capela: assim praticava a mortificação.
Padre Pedrinho foi um homem providencial para a nossa Província manter a união e o
espírito da Congregação. Nesse intuito visitava frequentemente os padres que viviam isolados nas paróquias a fi m de evitar que vivessem sozinhos e desligados da Congregação. Ao partir deixava o seu “bilhetinho” com as recomendações necessárias. Quase sempre aparecia de repente, de surpresa, o que motivou o apelido de “Submarino”.
Era hospitaleiro sobretudo para com o clero secular. Queria que os nossos padres
estivessem sempre prontos para auxiliá-los e substituí-los para que eles tivessem oportunidade para fazerem seu retiro ou tirarem um tempo para férias. Gostava de repetir a recomendação do Padre Fundador: ut nostri clerici saecularis coadiutores sint (“que os nossos sejam auxiliares do clero secular”).
Como superior urgia a prática dos exercícios em comum. Na capela era sempre o
primeiro. Consta no fi chário pessoal que ele foi superior na casa de Taubaté.
Toda vez que estava de passagem na cidade episcopal, não deixava de fazer uma
breve visita ao prelado. Recomendava este gesto aos seus religiosos.
Era um homem apostólico. Não fugia do trabalho. Quando de passagem em alguma
de nossas paróquias, já marcava com antecedência que capelas visitaria. Estava sempre pronto para atender aos doentes. Não deixava de atender as confissões. Revelava grande solicitude pela catequese. Gostava de pregar, embora, pelo seu jeito de falar, as suas homilias fossem cansativas.
Dava grande importância à vida comunitária. Nos recreios gostava de conversar e de
contar as peripécias de suas viagens e de relatar os trabalhos por ele realizados nas visitas às capelas, etc.
Padre Pedrinho tinha grande caridade para com os pobres. Tinha sempre seus trocados no bolso para dar a quem lhe pedisse uma esmola. Em Varginha fundou, em 1926, a Conferência Vicentina, hoje muito florescente (com mais de 20 conferências). O Asilo São Vicente ostenta seu retrato (foto) como fundador. Padre Pedrinho seguia as recomendações do Fundador em atender paróquias de preferência pobres e carentes de clero (por exemplo: Parati, Trindade, Camboriú, Lucas, Inhaúma
e Guaratiba (em 1921), Cunha (1923-1927), Vila Maria (SP), etc.
Padre Pedro Storms veio para o Brasil em 1907. Viveu no Brasil de 1907-1914 e 1921-
1961. Foi superior regional no Brasil Meridional de 1912-1914 e de 1928-1934; superior
provincial na Província Alemã, de 1918-1921; superior provincial na Província Brasileira
Meridional, de 1934-1941. Os anos de superiorato (1928-1941), ele os exerceu em Taubaté.
Durante esses mandatos, ele também acumulou a função de superior local (reitor) na casa de Taubaté. Não obstante estar a sede em Taubaté, a maior parte do tempo ele viajava pela região e mais tarde pela Província. Os últimos dias de sua vida passou-os em Taubaté onde, aos 81 anos de idade, veio a falecer a 3.1.1961. Foi o primeiro religioso a ser sepultado no cemitério particular do Conventinho {cf. Crônicas Decker (Jaraguá do Sul, aos 22.9.1983), p. 1; José Fernandes, op. cit., p. 10}.