SABERES E SABORES DE COMPAIXÃO
Auxílio Mútuo
Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se quanto possível contra os golpes do ar gelado e de intensa tempestade, quando foram surpreendidos por uma criança semimorta na estrada, ao sabor da ventania de inverno. Um deles, fixou o singular achado e exclamou, irritadiço:
– “Não perderei tempo! A hora exige cuidado para comigo mesmo. Sigamos em frente”.
O outro, porém, mais piedoso, considerou:
– “Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade”.
– “Não posso, disse o companheiro endurecido. Sinto-me cansado e doente. Este desconhecido seria um peso insuportável. Precisamos chegar à aldeia próxima sem perda de minutos”.
E avançou para adiante em largas passadas. O viajante de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o menino estendido, demorou-se alguns minutos, colando-o paternalmente ao próprio peito, e aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora mais lentamente. A chuva gelada caiu metódica pela noite adentro, mas ele, amparando o valioso fardo, depois de muito tempo, atingiu a hospedaria do povoado que buscava. Com enorme surpresa, porém, não encontrou o colega que havia seguido na frente.
Somente no dia seguinte, depois de minuciosa procura, foi o infeliz viajante encontrado, já sem vida, numa vala do caminho completamente alagado. Seguindo às pressas e a sós, com a ideia egoísta de preservar-se, não resistiu à onda de frio que se fizera violenta e com o aumento da intensidade da chuva, tombou encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao congelamento.
Enquanto que o bondoso companheiro, recebendo em troca o suave calor da criança que sustentava junto do próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, salvando-se de semelhante desastre. Ajudando o menino abandonado, ajudara a si mesmo. Avançando com sacrifício para ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços do caminho, alcançando as bênçãos da salvação recíproca.
“As atitudes são muito mais importantes do que os fatos” (Alexander Fleming).
Ana Cláudia, Parábolas (https://pt.slideshare.net/aclmoraes/parbolas).