26° Domingo do Tempo Comum
Quem é quem na justiça do Reino
Mt 21, 28-32
– “O tema central deste domingo é a “parábola dos dois filhos”, que se encontra somente no Evangelho de Mateus. As parábolas exclusivas de Mateus são as coisas novas que ele reservou para o momento certo, querendo com isso sublinhar a ideia básica (justiça do Reino) que percorre todo o evangelho.
– Jesus está em Jerusalém e, mais exatamente, no Templo, centro do poder político, econômico e ideológico daquela época. É aí que ele conta três parábolas, sendo a primeira delas a “parábola dos dois filhos”. Trata-se de parábolas de confronto e de conflito entre o Mestre da justiça e os promotores da sociedade injusta, representados, na parábola de hoje, pelos chefes dos sacerdotes (poder religioso-ideológico) e anciãos do povo (poder econômico).
– A parábola fala de dois filhos com atitudes contrastantes: o filho mais velho é muito impulsivo e reage com um “não quero” quando o pai lhe pede que vá trabalhar na vinha. A seguir, pensa melhor e volta atrás: “depois arrependeu-se e foi”. O filho mais novo é cheio de etiquetas, incapaz de responder impulsivamente: “Sim, senhor, eu vou”, mas acaba não indo trabalhar na vinha”.
QUEM SÃO OS DOIS FILHOS?
– “O filho mais velho representa os pecadores e os marginalizados que aceitam a mensagem de Jesus e se comprometem com a proposta da justiça do Reino. O próprio evangelista Mateus está entre essas categorias sociais, pois era cobrador de impostos (publicano). Junto com as prostitutas, constituíam os grupos sociais mais detestáveis pelas elites religiosas e políticas do tempo de Jesus. Os donos do saber e da religião haviam decretado que essas categorias de pessoas não teriam parte no mundo futuro, exatamente o contrário de tudo o que Jesus ensinou.
– O filho mais novo recorda as “pessoas de bem”, maquiladas de religiosidade e justiça, prontas a se escandalizar e a se levantar em defesa de suposta verdade, mas presas fáceis do dinheiro (os anciãos eram latifundiários), crentes de que estavam cumprindo a vontade de Deus. Desde o começo do Evangelho de Mateus, os chefes dos sacerdotes estão ao lado de Herodes, que pretende matar Jesus (cf. Mt 2, 3-4)”.
UNS ENTRAM NO REINO, OUTROS NÃO
– “Depois de contar a parábola, Jesus pergunta aos chefes dos sacerdotes e anciãos do povo: “Qual dos dois fez a vontade do Pai?” Por trás dessa pergunta ressoam as primeiras palavras que traçam o programa de Jesus segundo o Evangelho de Mateus: “Devemos cumprir toda a justiça”.
– A vontade do Pai está expressa na prática do Filho. Jesus confirma, a seguir, a sentença que as elites inconscientemente deram para si próprias: “Pois eu lhes asseguro que os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu”. Porque João veio até vocês para mostrar o caminho da justiça, e vocês não creram nele. Os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele” (cf. Mt 21, 31b-32a).
– Segundo os estudiosos, a expressão “entrar antes” é um modo de afirmar a exclusão. Não é que os cobradores de impostos e as prostitutas entram antes e os outros entram depois. Afirma, vale dizer, que os primeiros entram e os segundos ficam fora. E isso está de acordo com a parábola, pois o filho mais novo diz sim, e acaba não indo trabalhar na vinha”.
GRAVE ALERTA PARA TODOS NÓS
– “Por que há pessoas que não entram no Reino do Céu? Porque não se sensibilizaram diante de João Batista, nem com a adesão dos cobradores de impostos e prostitutas e, pior ainda, procuram sufocar o caminho da justiça matando Jesus.
– Grave alerta para todos nós que nos julgamos seguidores de Jesus. Há muita gente por aí que, mesmo não frequentando igrejas e não se dizendo cristã, tem um sentido e uma prática de justiça muito mais acurados que os nossos.
– Exatamente como no tempo de Jesus. O sentido da justiça se encontrava justamente naqueles que nada tinham a ver com a religião. Essa é uma grave previsão de futuro: encontrar o sentido da justiça longe das igrejas e das entidades religiosas, entre os discípulos anônimos do Mestre da Justiça.
– Por que? Porque eles descobriram no hoje da nossa história a urgência da justiça que, por si só, já os faz participantes do Reino”.
Padre Walmor Zucco
São Paulo, 1º. de outubro de 2023