Missa do Centenário do Conventinho SCJ – Homilia
Celebração Eucarística de encerramento do Centenário do Convento SCJ – Taubaté, SP
10 de novembro de 2023 às 19h
Memória de São Leão Magno, Papa e Doutor da Igreja
Rm 15, 14-21; Sl 97 (98); Lc 16, 1-8
Caríssimos Confrades Dehonianos e queridas irmãs e queridos irmãos!
Ao celebrar a Eucaristia de encerramento do Ano Centenário do Convento Sagrado Coração de Jesus, queremos render graças a Deus por todos os benefícios recebidos ao longo desses 100 anos e, ao mesmo tempo, renovar nosso compromisso de fidelidade ao carisma dehoniano. Faz bem ao coração recordar experiências sentidas e vivenciadas… A liturgia comemora hoje São Leão Magno, Papa e Doutor da Igreja. No seu longo pontificado realizou a unidade da Igreja… Combateu as heresias dos pelagianos, maniqueus, nestorianos e, sobretudo, dos monofisitas, com a célebre Carta dogmática, na qual expõe a doutrina católica das duas naturezas de Cristo em uma só pessoa. Os seus 96 sermões e as 173 cartas chegadas até nós mostram-nos um Papa paternalmente dedicado ao bem espiritual dos fiéis, aos quais se dirige com uma linguagem sóbria e eficaz. O seu pontificado corresponde a um dos períodos mais atormentados da história. O Evangelho que escutamos, é insistente na crítica a uma religiosidade hipócrita, que desliga a realidade cultural “daquela existencial” e censura de forma mais veemente o exacerbado apego aos bens, tornado tantas vezes um ídolo substituto do próprio Deus…
A visão economicista da religião desvirtua o sentido primordial da sua natureza, desloca a centralidade da sua missão e acaba por “desespiritualizar” uma realidade nascida para alimentar a fé e o interior de cada um. O evangelista Lucas é taxativo em relação ao apego aos bens: a verdadeira riqueza está na fidelidade a Deus e ao seu projeto, e não na quantidade de bens adquiridos ao longo da vida. Em sua narrativa, Lucas faz recordar, em certa medida, a realidade política e econômica que vivemos e alguma desonestidade que, infelizmente, pauta as ações de muitos de nossos contemporâneos… Também nós e a Igreja podemos padecer desta tentação de transportar para a missão e ação eclesiais o espírito mundano do lucro, do apego aos bens, da falta de honestidade na relação com o dinheiro…
Jesus não faz rodeios: “Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes” (Lc 16, 10). Significa que a nossa (honesta) relação com os bens deste mundo atesta, em certa medida, a fidelidade aos bens celestes, vividos na liberdade de filhos e conscientes de que somos meros administradores dos dons divinos, e não proprietários. O administrador foi denunciado por não administrar de forma adequada os bens do seu patrão. Podemos questionar: a denúncia tem razão de ser ou será uma mera calúnia contra o administrador? Não sabemos… Na iminência de ser despedido, o administrador começa a “preparar” o futuro. Podemos achar que foi desonesto, falsificando o livro-caixa, aliviando as dívidas dos devedores para com o patrão. Ou, por outro lado, acabou por ter um lampejo de “misericórdia” e abdicou da sua comissão, em vista a colher alguns benefícios futuros. Poderíamos dizer que não foi desonesto nos atos, mas o foi na intenção… É por isso que Jesus, em tom irônico, diz: “Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16, 8), no trato com os seus semelhantes. Sabemos muito bem que Jesus quer que a nossa relação com o dinheiro seja livre e desprendida. Mas quer também que as nossas relações humanas sejam puras e transparentes. Através desta parábola, Jesus quer nos ensinar a acolher tudo como dom: o dinheiro, o trabalho, as amizades. “Se formos capazes de transformar riquezas em instrumentos de fraternidade e solidariedade, quem nos receberá no Paraíso não será apenas Deus, mas também aqueles com os quais partilhamos, administrando-o bem, o que o Senhor colocou em nossas mãos”. (Papa Francisco, Angelus, Praça de São Pedro, 22.9.2019).
Estimados Confrades,
Com nossos corações jubilosos e sentimentos de profunda gratidão à Santíssima Trindade, fonte e início de nossa vocação, aqui estamos para recordar e fazer transparecer nosso júbilo interior, por esses 100 anos do Conventinho. Em hebraico, “jubileu” significa “toque da trombeta de Deus”, convocando para uma grande celebração festiva, como a nossa de hoje. Mais atrás no tempo, conhecido também como “chácara dos alemães”, o Conventinho tornou-se referência obrigatória para todos os dehonianos da Província… Na verdade, quem aqui chega, logo se sente em casa. Agradecer é um gesto cristão. Há omissões e ausências que ferem o coração de Deus e o nosso também… Daí a razão porque, nesta celebração de ação de graças, não queremos nos omitir de agradecer a todas as pessoas que, de uma ou de outra forma, tornaram possível a existência desta magnífica obra chamada Conventinho e suas realizações. Sim, agradecer e jubilar por tantos dehonianos e pessoas generosas, dedicadas, zelosas, abnegadas, idealistas, disponíveis, que deram tudo de si, colaborando nesta Casa “mãe de coração aberto”, formando e preparando verdadeiros luminares para a Igreja, a Congregação e para o mundo. Esses heróis da sabedoria divina e do saber humano, que por aqui passaram, e continuam a fazer escola com seu testemunho de vida, merecem todo o nosso reconhecimento e profunda gratidão.
Os que fizeram esses 100 anos de história linda e sagrada acontecer, nos deixam o legado de que a “missão dehoniana” na Igreja e na sociedade, inspira-se sobremaneira no testemunho da transcendência de Deus e de seu amor em Jesus Cristo. Nosso querido Fundador Pe. João Leão Dehon, sempre incentivou e recomendou a nós seus filhos, o estudo aprofundado das disciplinas científicas, filosóficas e teológicas, porquanto a Igreja e a Congregação necessitam de Padres e religiosos cultos, santos e dinâmicos. O Centenário oferece igualmente ocasião ímpar para escutar e discernir o que o Espírito tem a dizer à privilegiada Comunidade do Conventinho, em vista dos próximos cem anos! Com nossos “corações ardentes”, e “pés a caminho”, queremos, outrossim, render graças ao Pai, que nos pensou, quis e amou; ao Filho, que nos escolheu e chamou; e ao Espírito Santo, que nos plenificou com seus dons e nos consagrou com sua santa unção, para sermos “profetas do amor e ministros da reconciliação”, a serviço da Igreja e do mundo, prestando com nossa vida o culto de amor e reparação que o Coração de Jesus tanto deseja (cf. Const. 6 e 7).
De modo especial, queremos nos unir à ação de graças de nossos confrades jubilares da Província Brasil São Paulo (BSP), quais sejam:
25 anos de Vida Religiosa:
– Pe. Cristiano Francisco de Assis;
– Pe. Geovane Inácio dos Santos;
– Pe. Ronaldo Rodolfo Ferreira.
50 anos de Vida Religiosa:
– Pe. Alcides Vendelino Pedrini;
– Pe. Mateus Buss;
– Pe. Paulo Hülse.
60 anos de Vida Religiosa:
– Irmão Antônio Galvão Honorato.
25 anos de vida presbiteral:
– Pe. Antônio Luciano da Silva.
50 anos de vida presbiteral:
– Pe. Cláudio Weber.
60 anos de vida presbiteral:
– Pe. Aloísio Wilibaldo Knob.
Merecem uma saudação especial nossos confrades residentes nesta Comunidade:
– Pe. Paulo Hülse – 50 anos de Vida Religiosa;
– Irmão Antônio Galvão Honorato – 60 anos de Vida Religiosa.
Parabéns!
Gratidão e alegria brotam também de meu “ser dehoniano”, toda vez que me lembro dos quatro inesquecíveis anos de teologia aqui transcorridos. A passagem pelo Conventinho, como frater e aluno de teologia – nos anos 1961 a 1964 – , me deixou marcas profundas, inesquecíveis e agradecidas. Carrego com imensa alegria no escrínio do coração as inapagáveis experiências aqui vividas e adquiridas… Inda hoje, um livro de teologia, abrindo, me faz lembrar das aulas, sabiamente ministradas pelos saudosos nossos mestres: a começar por nosso estimado e amigo Reitor Pe. Valério Cardoso, bem como os PADRES professores: Adelino Effting, José Stolfi, José Antônio do Couto (Bispo), Emílio Mallmann, Ivo Scheid, Bernardo Emmendörfer, Waldemar Goedert, João Heidemann, Elemar Scheid. Além dos Padres professores, tivemos a graça de conviver aqui, no Conventinho, com os Padres idosos: Pedro Storms, Pascoal Lacroix, Antônio Wollmeiner, Geraldo Claassen, Cirilo May, transmitindo para nós estudantes seu testemunho de vida religiosa dehoniana. O desafio agora é fazer-se ao largo em busca de novas conquistas, abrindo-se à parrésia, isto é, à coragem nascida da paixão pelo Reino do amoroso e sempre escancarado Coração de Jesus. Incalculáveis foram as graças derramadas pelo Coração de Jesus sobre o centenário Conventinho e sobre quantos aqui fizeram sua morada.
A Virgem Maria, Mãe de Jesus e da Igreja, nos acompanhe na missão de fazer frutificar nosso Carisma, conforme as exigências da Igreja e do mundo, disponíveis de coração e de atitudes, para acolher o Hoje de Deus (cf. Const. 1 e 147).
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo emérito de Santo André