Missionários da Missericórdia
São João Eudes é um velho conhecido nosso, pela sua preocupação em difundir a devoção ao Coração de Jesus e de Maria. Foi um homem de coração e do Coração. Podemos dizer também que ele foi um incansável missionário da misericórdia de Deus para os seus irmãos e irmãs. Ele sabia realmente arriscar no caminho da misericórdia. Pode-se dizer que a misericórdia o fez missionário e o motivou a entregar sua vida inteira a um empenho que constituiu como que a coluna vertebral de seu ministério.
O trato com as pessoas lhe tinha permitido conhecer bem de perto não só os vícios morais, mas também os profundos males que abatiam o povo de Deus. Ele sabia quais eram as misérias dos miseráveis. E João Eudes começa a sentir necessidade de percorrer o caminho de ‘Jerusalém a Jericó’. A vinda de Cristo, a sua participação na vida dos homens lhe parece sempre mais com a história do Bom Samaritano. Mais tarde, João Paulo II retoma esta idéia na sua encíclica ‘Dives in Misericordia’. Ele nos diz que em Cristo, a misericórdia do Pai tornou-se objeto de nossa experiência e que O Filho de Deus encarnado é a própria misericórdia, no meio de nós.
Em 1644, quando na Europa se consolida o jansenismo, P. Eudes conclui seus “Conselhos aos Confessores”. Trata-se de um breve escrito que resume aquele delicado sentido de caridade pastoral que o Concílio Vaticano II e, mais recentemente, João Paulo II, retomando a herança patrística, têm apresentado como nota constitutiva do verdadeiro pastor segundo o Coração de Cristo.
E, numa de suas raras confidências pessoais, João Eudes escreve: “Conheço muito bem um homem que tem sido escolhido pela divina misericórdia para trabalhar na conversão dos pecadores; encontrando-se perplexo sobre como deveria conduzir-se com eles, se usar de bondade ou de rigor, se misturar os dois, recorreu na oração à Santíssima Virgem, seu habitual refúgio. Antes que tivesse comunicado a alguém suas inquietações, a Mãe das Misericórdias lhe inspirou, através de um mensageiro: quando pregares, usa as armas poderosas da Palavra de Deus para combater, destruir e esmagar o pecado, mas quando te encontrares com o pecador, fala-lhe com bondade, benignidade, paciência e caridade”.
Por isso, ele escreve aos confessores, recomendando-lhes que tenham um coração verdadeiramente paternal, que sejam cordiais e usem de benignidade e compaixão. E explica melhor o que quer dizer: “Com entranhas de misericórdia e com o coração cheio de amor a quantos se apresentarem para a confissão, sem fazer acepção de pessoas nem agir com preferências, salvo quando se tratar de enfermos e inválidos, de mulheres grávidas ou que estão criando os seus filhos, daqueles que vêm de muito longe…” Se aparecer alguém temeroso e com alguma desconfiança de obter o perdão de seus pecados, deve levantar-lhe o ânimo e fortalecê-lo, fazendo-lhe ver que Deus tem um grande desejo de perdoá-lo; que se alegra muito com a penitência dos grandes pecadores; que quanto maior a nossa miséria, mais glorificada é em nós a misericórdia de Deus”.
E, para João Eudes, três coisas são necessárias para que haja verdadeira misericórdia. A primeira é ter compaixão da miséria do outro, pois misericordioso é quem leva no coração as misérias dos miseráveis. A segunda consiste em ter uma vontade decidida de socorrê-los em suas misérias. A terceira é passar da vontade à ação.
Por: Padre Francisco Shenen, scj