Palavra de Padre Dehon: O Coração Sacerdotal de Jesus
Segunda Meditação
A Vocação Sacerdotal de Jesus: Deus Pai envia o seu Filho ao mundo para que aí ele seja o seu sacerdote (1)
Introdução
As diversas escolas teológicas têm sentimentos diferentes sobre os motivos da Encarnação. Queria Deus em todo o caso dar-nos o seu Filho para ser nosso chefe, nosso rei, nosso pontífice, ou quis a encarnação apenas por causa da reparação do pecado de Adão? Este é o seu segredo.
Seja como for, desde o momento em que uma Pessoa divina se encarna, ela será, antes de tudo e acima de tudo, sacerdote de Deus. Primeiramente, porque a glorificação do nome de Deus, dos seus atributos e dos seus direitos, é o objetivo desta encarnação, como é o objetivo universal das obras divinas. Ou, esta glorificação é a missão, a obra e como o ser mesmo do sacerdócio. Em segundo lugar, porque um Deus que se faz homem deve ser o chefe da religião de toda a criatura.
1. O Deus feito homem será sacerdote
O Deus feito homem será, portanto, sacerdote. Será primeiro para si mesmo, porque deverá oferecer um sacrifício a Deus como criatura. Mas será, acima de tudo, Pontífice universal, prestando a Deus, na sua qualidade de Chefe e de Mediador, todas as homenagens que a criação inteira deve ao seu Criador (cf. Padre Silvano Giraud, 1830-1885).
Ora, entre as pessoas divinas, é ao Filho que convém encarnar para se tornar Pontífice supremo da criação. Está para isso preparado pelo caráter próprio da sua filiação que é de ser a glória de seu Pai. “Para este divino sacerdote, diz Jacques Benigne Bossuet (1627-1704), é preciso ser nascido senão de Deus; e vós tendes a vossa vocação, ó Jesus, pelo vosso eterno nascimento” (Élevations sur les mystères, XIIIe. semaine).
O autor da Carta aos Hebreus insinua a mesma doutrina: “Cristo não se deu a si mesmo a glória do Pontificado; mas recebeu-a d’Aquele que disse: Vós sois meu Filho, hoje vos gerei” (Hb 5,5). É o pensamento de Santo Tomás de Aquino e dos Padres: “Era ao Filho que convinha encarnar para ser o sacerdote de Deus, para prestar glória ao seu Pai” (STh III, q. 3, a.8).