Espaços & Laços 79
Para Começar: o espaço sagrado precisa ser purificado
O Evangelho do próximo domingo (Mc 1,21-28) refere-se à 1ª parte da conhecida Jornada de Cafarnaum (Mc 1,21-39) que apresenta uma primeira síntese abrangente da missão de Jesus. Na verdade, individuamos, nela, o alcance da obra de Jesus, em quatro âmbitos, com notório sentido de completude e totalidade.
- Jesus ensina e age no espaço sagrado da sinagoga,
representação do judaísmo oficial.
No dia santo, Jesus entra no lugar sagrado. E ali ensina. Marcos não diz qual o conteúdo do ensinamento de Jesus. Por certo é um ensinamento para a vida. É curioso que tanto sobre o ensinar quanto sobre o operar de Jesus as pessoas testemunham que são feitos com autoridade, ἐξουσία/exusía (cf. Mc 1,22.27), isto é, são transbordamento do ser de Jesus, geram e gerem a vida. Como a Palavra original e criadora do Pai, também a de Jesus, ao realizar a nova criação, é poderosa e eficaz, produz o que afirma. Aliás, Ele é a Palavra de Deus, por quem tudo foi feito, tornada pessoa humana (cf. Jo 1,1.3.14) que faz bem todas as coisas (cf. Mc 7,37).
Na sinagoga Jesus encontra uma “situação impura”. Também no espaço sagrado, de outrora como agora, até mesmo naquele em que nós somos protagonistas, podem acontecer realidades demoníacas, diabólicas e satânicas. Mas o senhorio deste âmbito pertence a Jesus e disso comprometemo-nos a ser testemunhas viventes.
Ali, na sinagoga, um representante do judaísmo oficial, um espírito impuro, procura cooptar Jesus para sua causa. Jesus, porém, não compactua com um sistema que se tornou “impuro”. Mesmo agindo em nome de Deus, a instituição do templo, da qual a sinagoga é extensão, tornou-se “impura”, porque já não fomenta nem garante a vida. Chama nossa atenção que Jesus não aceita o testemunho de quem à proclamação falada não associa o amor vivenciado.
Estamos diante de um grande questionamento. Nossas igrejas, seminários, casas, obras, existem por causa de Jesus e oficialmente agem em nome de Jesus. A pergunta é, se também evangelizamos do jeito dele, com suas motivações, conduzidos por seu Espírito. Se isso não acontecer, Jesus nelas não há de se reconhecer, nem aceitará nossa proclamação de fé descomprometida.
Mas, uma vez convertida, a Igreja, continuadora da obra de Jesus, pleiteará um humanismo integral, que vise a libertação de tudo aquilo que oprime a pessoa humana, em vista do desenvolvimento do homem todo e de todos os homens (Cf. Paulo VI, PP 42 e EN 9).
P. Mariano,scj.