A espiritualidade do esporte
a) O que é espiritualidade?
Espiritualidade é a motivação profunda que dá sentido à vida. É o eixo aglutinador e inspirador das diversas ocupações, atividades e preocupações que tecem o mosaico da existência. É o sopro que mantém vivas as diversas dimensões da vida, unifica-as e as impulsiona ao êxito. É relativa à vida e se lhe coloca a serviço. Precisa, para ser genuína, adequar-se à pessoa, mostrar-se relevante para a vida.
b) Espiritualidade cristã do esporte
Espiritualidade do esporte é, pois, o sentido benéfico para a vida, quer pela sua prática quer acompanhando e incentivando os que o praticam. A mística esportiva transcende o simples exercício do esporte. Ela dá à prática um sentido que ultrapassa o fazer. Torna o esporte realizador, prazeroso, integrador. A mística sensibiliza o esportista para o cuidado de si mesmo. Leva ao respeito à família e aos colegas, aos admiradores e adversários, ao clube e aos profissionais. Reverencia a justiça na observância das normas e no trato e uso dos proventos de sua profissão.
Em perspectiva cristã, espiritualidade configura-se assim: “Se Jesus está em primeiro lugar, tudo está no lugar certo”. Logo, tudo vale a pena, se Jesus é a referência plena. “Quem faz entrar Cristo em sua vida, nada perde, nada, absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande… Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta… Cristo não tira nada, ele dá tudo… Abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira” (Homilia de Bento XVI, 24 de Abril de 2005).
c) Futebol e espiritualidade
Com os pressupostos acima, passemos ao futebol, o evento que mobiliza nosso país. De que jeito nossa espiritualidade pode contribuir para uma justa valorização da Copa do Mundo? Comecemos por fazer uma dupla afirmação: a mística esportiva coloca o evento futebolístico no seu devido lugar; ela sabe extrair do fato em si, algo útil e nobre para a pessoa. Quais as consequências de convicção do gênero?
O futebol é um esporte quase mundial. Logo, sua linguagem expressa abrangência planetária. O mero torcedor assiste ao jogo e fecha-se no fato em si: qual o resultado? Foi justo? Jogaram bem? Foi sofrido, vibrei? Perdi ou ganhei?
O torcedor movido por espiritualidade não exclui nada disso, mas inclui-o no tecido da relevância para a vida: o jogo entre duas equipes é o centro das atenções. Contudo, ele percebe o colorido das raças, a riqueza das culturas, a alegria das cores, a dança das expressões dos diversos povos, as características das respectivas táticas e esquemas de jogo, a localização geográfica do país em questão e sua importância na configuração internacional, sua pertinência no cenário mundial.
A postura ética e aberta, observadora e atenta leva o amante do futebol, movido por espiritualidade, a ulteriores reflexões: é justo todo este investimento para um país como o nosso? Este espetáculo de ostentação não é um deboche às massas sobrantes da nossa nação?
A espiritualidade, no entanto, não gera o sujeito “estraga prazeres”. Uma vez que a Copa foi aprovada e está sendo realizada, vamos extrair o melhor que ela oferece. O torcedor com mística se alegra com o que o evento propicia de positivo: o congraçamento dos povos, o encontro de culturas, o conhecimento mútuo, o fomento da paz, a oportunidade de conhecer e se enriquecer com o diferente, o aprendizado com os outros, o apreço por um esporte profissionalmente organizado e lindamente jogado, a alegria contagiante da torcida, o bom acolhimento do estrangeiro, um encontro do mundo inteiro…
P. Mariano,scj.