A Misericórdia de Deus que alcança a miséria humana – livro do Pe. Mário Marcelo
“A misericórdia de Deus que alcança a miséria humana” é o título do novo livro do Padre Mário Marcelo Coelho, SCJ.
Afirmar que Deus é misericórdia é falar de um Deus com o coração cheio de amor, que em todos os instantes está presente nos caminhos de nossa vida, história e luta, ao nosso lado contra tudo o que oprime e escraviza, que aponta horizontes de esperança àqueles que andam perdidos e desorientados, cuida de todos aqueles que a vida entristeceu e feriu e oferece a todos a vida, o perdão e a salvação. Deus tem um coração que se volta para os “miseráveis”.
A misericórdia divina está no início de tudo e é ela que exige e torna possível a misericórdia de uns para com os outros, então, o mais importante, para nós, é termos uma experiência renovada da misericórdia de Deus e, consequentemente, sermos misericordiosos. Esta é a experiência de Deus por excelência.
O termo misericórdia significa de modo literal ter o próprio coração (cor) próximo aos pobres (miseri); misericórdia = “miseris cor dare” – dar o coração aos miseráveis, ter um coração para os pobres, os miseráveis, os necessitados de qualquer espécie. A misericórdia expressa a soberania de Deus, e em Sua compaixão e bondade Ele mostra a Sua santidade e Sua grandeza. Deus é um Deus que vê a miséria do Seu povo, escuta o Seu grito e desce: O Senhor lhe disse: “Eu vi a opressão de meu povo no Egito, ouvi o grito de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e fazê-los sair desse país para uma terra boa e espaçosa, terra onde corre leite e mel” (Ex 3,7).
Deus não é um Deus morto e surdo às necessidades do Seu povo; Ele é um Deus vivo que está atento às misérias dos homens, fala, age e intervém, liberta e redime. Afirma o Papa Francisco: “A salvação, que Deus nos oferece, é obra da sua misericórdia. Não há ação humana, por melhor que seja, que nos faça merecer tão grande dom. Por pura graça, Deus atrai-nos para nos unir a Si” (Papa Francisco. Evangelii Gaudium, n. 112).
Com a encarnação, Jesus revelava o rosto de um Deus misericordioso que se volta com amor infinito e “doa o seu coração” aos miseráveis, aos necessitados, aos pequenos, aos pobres e aos sofredores. A intervenção de Jesus a favor dos necessitados é plena de compaixão, Ele “via” como as pessoas sofriam e, amando-as ao extremo, dava-lhes vida nova, restituindo-lhes a dignidade de filhos e filhas de Deus.
No Coração de Jesus, o rosto do Pai das Misericórdias, somos convidados a contemplar o amor e a ternura do Deus rico em misericórdia que se derrama sobre todos os homens e, de forma especial, sobre os pobres, os oprimidos, os excluídos, os necessitados de qualquer espécie. No Coração de Jesus reconhecemos que Deus tem coração (cor) por nós, os pobres (miseri), compreendido no senso mais amplo do termo, e que, portanto, Ele é misericors, misericordioso. No entanto, o Coração de Jesus é o símbolo sensível do amor de Deus encarnado em Jesus Cristo. Podemos experimentar no Coração de Jesus os sentimentos de Deus por este mundo e o Seu incessante amor por nós.
A proximidade do Senhor para com os “miseráveis” mostra que o Reino de Deus não pactua com exclusões de qualquer espécie: não há bons e maus, doentes e sãos, filhos e rejeitados, incluídos e excluídos; há apenas pessoas com dignidade, filhos e filhas de Deus que não devem, em caso algum, ser postos à margem da sociedade, ferindo-os em sua dignidade.