COMO O MÊS DE MAIO TORNOU-SE O MÊS DE MARIA? (1ª PARTE)
Reportemo-nos às origens do cristianismo… Em menos de um século, o cristianismo passou de religio illicita (religião proibida) à officialis religio (religião oficial, com Teodósio I, pelo Edito de Tessalônica, em 380), passando pelo estatuto de religio licita (religião permitida, em 313, mediante o Edito de Milão, do imperador Constantino).
Pode-se imaginar que a abrupta mudança da sorte dos cristãos não tinha como ser acompanhada por uma catequese adequada. Não é de todo injusta a acusação de que esta mudança foi mais “conversão do cristianismo ao paganismo e ao império” do que “conversão do império pagão ao cristianismo”.
As massas populares que aderiram ao cristianismo, mais por conveniência do que por convicção, estavam longe de entender o significado e os compromissos da nova religião. Por isso mesmo, paralelamente às celebrações cristãs oficiais pululavam os cultos pagãos. Para nós interessa a questão mariana. As religiões politeístas cultuavam inúmeras deusas, com destaque para a deusa da natureza e da fertilidade, das florestas e das flores. Na Grécia chamava-se Ártemis ou Artemísia; em Roma era conhecida por Flora.
Justamente na primavera (estamos no hemisfério norte), depois dos rigores do frio hibernal, a festa da deusa mãe atraia adeptos e marcava a estação da vitalidade recuperada. Não raro, as festivais de danças e ritos de fecundidade metamorfoseavam-se em orgias sexuais. Diante desse quadro, o cristianismo alarmado e desafiado decidiu por uma reação de mais intensa evangelização.
Naturalmente foi um longo processo de purificação e ressignificação da religiosidade popular. É de se supor que a verve retórica dos evangelizadores, catequistas e pregadores tenha feito recurso à grandiloquência para convencer os ouvintes: “Não temos deusa mãe (porque não existe) para nos amparar. Mas temos a Mãe de Deus (que o próprio Senhor nos deu) para nos ajudar”.
As festividades de cunho hedonista foram substituídas pelas celebrações de ordem espiritual. Não poucas das qualidades positivas da deusa mãe foram transferidas a Maria, como outras deusas emprestaram características para as santas cristãs.
O fervor da devoção até passou a conferir a Nossa Senhora atributos próprios do Espírito Santo. A rigor, também este expediente encontra justificação pelo fato de a Mãe de Deus ser “pneumatizada e pneumatófora”, de sorte que sua intimidade e sintonia com o Espírito é tal que se lhe pode atribuir secundarium et dependenter (secundária e dependentemente) o que primus et absolutus (primária e absolutamente) é do Espírito Santo.
P. Mariano SCJ.