Concílio Vaticano II e diálogo
A Palavra de Deus revelada recebe distinção especial da Escritura: “os Evangelhos gozam de merecida primazia, pois constituem o principal testemunho sobre a vida e a doutrina do Verbo Encarnado, nosso Salvador” (DV 18). Por isso a Igreja sempre venerou as Escrituras da mesma forma que o próprio mistério eucarístico do Senhor. Daí que a Palavra é a “suprema regra de fé” da Igreja (cf. DV 18; 21).
A Sagrada Liturgia, a comunidade de fé reunida, celebra o mistério da Palavra, do vinho e do pão e, nos sacramentos, a graça do amor. A Eucaristia atualiza o Mistério Pascal de Cristo e os sacramentos distribuem ao povo o tesouro da fé e da graça. É a “obra da redenção” acontecendo para o Povo de Deus.
Com as Igrejas cristãs e as orientais, a Igreja relaciona-se por sua natureza ecumênica, pelo diálogo de interlocutores em nível de igualdade e fraternidade, e pelas ações solidárias comuns; não de um disfarçado proselitismo conquistador, mas para favorecer a unidade dos cristãos (cf. UR; UUS). O ecumenismo é a esperança e o caminho para futura restauração da unidade do Cristianismo de acordo com o projeto de Cristo. A manifestação de que havia clima para o ecumenismo está nos encontros de estudos anteriores ao próprio Concílio que reuniam biblistas católicos e protestantes.
A Igreja reconhece na pessoa humana de qualquer raça, povo, etnia ou crença a dignidade que a torna capaz de chegar ao conhecimento da ideia de Deus, porque o homem é naturalmente religioso: seja por inspiração da Natureza, seja pela busca da verdade, da justiça e do amor (cf. NA 2;AG; LG 8; GS 22).
Em que nível a ciência e a cultura poderão esperar o novo relacionamento dialógico com a Igreja? A Igreja afirma que a mesma inteligência que pesquisa o macro e o micro cosmo é a que pesquisa os mistérios de Deus para melhor crer. Afinal, as leis que governam o universo não têm mistério, elas são perfeitamente inteligíveis à nossa inteligência humana. Por isso, não há contradição entre a fé e a ciência e a cultura, respeitados os respectivos âmbitos de atuação. As entidades culturais, científicas e educacionais da Igreja seguem hoje a recomendação de Bento XVI de que a fé não pode deixar de dialogar com a razão, porque ambas são necessárias como as duas asas do pássaro para voar.
Conhecendo o mundo pelo diálogo com as ciências e as diferentes culturas, a Igreja se aperfeiçoa no modo de expressão da sua proposta. A abertura ao diálogo reforça a responsabilidade de escutar os questionamentos do interlocutor.
Pe. Augusto César Pereira SCJ.