CONVENTINHO DE TAUBATÉ. OS DEHONIANOS NO VALE DO PARAÍBA
1.4.5. Elevação à categoria de cidade
A Vila de Taubaté beneficiou-se da favorável posição geográfica entre São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente após a transferência da corte portuguesa para o Brasil e sua instalação no Rio de Janeiro, a 7 de março de 1808. Este evento ajudou a aumentar a circulação pelo Vale. Intensifi-cou-se o relacionamento comercial entre São Paulo e Rio de Janeiro, cujos centros urbanos se desenvolviam, influenciando o progresso das povoações valeparaibanas.
Nesses primeiros anos do século XIX, os habitantes do Vale praticavam a policultura rudimentar, cultivando víveres, tabaco, sem uma base econômica mais forte. Criavam gado, porcos, galinhas… A população feminina ocupava-se com artesanato de esteiras e cestos.
O importante na economia valeparaibana foi a intensificação da cultura da cana-de-açúcar em bases comerciais. Foi o que sustentou a economia do Vale no difícil período transitório entre o declínio da mineração em Minas Gerais e a chegada do café.
Destarte, no início do ciclo do café, a Vila prosperou bastante e, por Lei de 5 de fevereiro de 1842, promulgada pelo Barão de Monte Alegre, foi elevada à categoria de cidade. Foi a primeira da região a receber tal distinção. E, 83 anos mais tarde, através da Lei nº 2.087 de 19 de dezembro de 1925, foi criado o Distrito de Paz de QUIRIRIM. A partir dessa data, Taubaté passou a contar com dois distritos: o da sede e o de Quiririm {cf. Maria M. de Abreu, op. cit., pp. 28-32}.
1.4.6. Café, fonte de riquezas
A cultura da cana-de-açúcar ajudou a economia após a queda da mineração, até a chegada do café ao Vale do Paraíba. Decaiu, pois, a economia brasileira colonial, baseada na monocultura do breve ciclo da mineração e da economia açucareira. A monocultura do café, já no fim do período colonial, marcava um novo ciclo econômico no país.
Os cafeeiros adentraram a província de São Paulo através das cidades do fundo do Vale e espalharam-se rapidamente por outras regiões da província. O período áureo da produção do café no Vale do Paraíba ocorreu na década de 1850 a 1860, quando apareceram os “barões do café”.
Escravidão e aumento da população caracterizaram a evolução da economia cafeeira no Vale do Paraíba, cuja população, em 1886, era de 338.537 habitantes. Só na região de Taubaté, em 1855, existiam 4.345 escravos. Nessa mesma data, um relatório estatístico de Taubaté revelava 240 fazendas dedicadas ao cultivo do café e três fazendas de gado. Outro dado histórico interessantíssimo nos mostra que, em 1888, ano da abolição da escravatura no Brasil, 75% da mão-de-obra escrava existente no Império estava nas fazendas de café do Vale do Paraíba fluminense e paulista. Em muitos inventários e testamentos de fazendeiros, os escravos representavam o patrimônio maior, acima dos valores das terras e cafezais. Mas por outro lado, cabe aqui um registro histórico importante: Taubaté libertou seus escravos antes dos outros terem que fazê-lo por força da lei. Esse feito aconteceu a 4 de março de 1888. Dessa gloriosa página histórica é que se origina o nome da rua Quatro de Março, em Taubaté.
Foi esse grande poder advindo da cultura do café que fez surgir as povoações, vilas e cidades na região valeparaibana: Lagoinha, Jambeiro, Queluz, Lavrinhas, Roseira, Redenção, Natividade da Serra e outras.
Este crescimento econômico, devido à intensificação da produção cafeeira, levou Taubaté a se beneficiar de várias melhorias e incrementos urbanos. As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro são ligadas através da Estrada de Ferro Pedro II (1876) – futura Estrada de Ferro Central do Brasil. Este importante sistema de transporte modificou os hábitos e costumes da população e civilizou a sociedade valeparaibana, através de jornais, revistas, modas, usos, teatros, colégios e dos contatos mais frequentes com a Corte. Em 1878 inaugurava-se a pequena ferrovia de bitola estreita para os bondes a vapor, entre Taubaté e Tremembé – passando pelo bairro do Areão, onde hoje é a Rua Padre Fischer. Neste mesmo ano era inaugurado o Teatro São João, com capacidade para uma plateia de 300 pessoas. Teve a honra de hospedar, em noite de gala, o próprio dom Pedro II. As mais custosas óperas eram montadas. Este teatro funcionou até a década de 1920. A imprensa também ganhava força (em 1861) e inaugurou-se a Empresa Telefônica (1893).
Além desses importantes benefícios para o setor de transporte e comunicação, decorrente da prosperidade econômica gerada pela produção cafeeira, a sociedade taubateana foi amplamente beneficiada no campo sócio-cultural. Surgiram as agremiações artísticas e lítero-musicais, além de conceituados colégios como São João Evangelista (1862), Nossa Senhora do Bom Conselho (1879) e Sagrado Coração de Jesus (1893), frequentados por alunos da cidade e de outras regiões, desenvolvendo-se o nível de ensino e prestígio de Taubaté.
Por sua projeção histórica e sócio-econômica, Taubaté foi indicada (no Projeto de Lei para a Criação da Província do rio Sapucaí, apresentado ao Senado em 5 de outubro de 1887), para ser a Capital da nova Província.
Em 1900, o município de Taubaté passa a ser o maior produtor de café da região. A partir de 1854, passara a ser o centro cafeeiro no Vale do Paraíba Paulista, condição que se estendeu até 1930. Prova disso é o fato de Taubaté ter sediado o CONVÊNIO DO CAFÉ, em fevereiro de 1906. Entre os principais objetivos estava o de valorizar o café, regular seu comércio, promover aumento do seu consumo e criar a Caixa de Conversão.
Com isso a cidade alcançou grande progresso verificado nas ruas com suas construções modernas e residências luxuosas. Essa riqueza e conforto podem ser apreciadas ainda hoje nas antigas fazendas de café com suas sedes, sobrados ou casarões térreos, ostentando a arquitetura colonial. Destacam-se as fazendas de Quilombo, Bonfim, Fortaleza, Santa Leonor, Barreiro, Piedade e São João. É a época dos “Barões do Café”, aristocracia da terra com grande influência econômica, política e social no Império. Na República esta força de poder e influência passou aos “Coronéis” (cf. Maria M. de Abreu, op. cit., pp. 32,37-38 e 42; José Luís Pasin, op. cit., pp. 17-18; Odete Polesi, Bonfim, Fortaleza e Santa Leonor, pp. 16-18).
Pe. José Francisco Schmitt, scj.