CONVENTINHO DE TAUBATÉ. OS DEHONIANOS NO VALE DO PARAÍBA
2.6. A religião do homem taubateano
Na religião do contexto valeparaibano prevalece o catolicismo e o misticismo sertanejo {cf. Francisco Sodero Toledo, Em Busca das Raízes, p. 104}. A Igreja Católica no Vale do Paraíba, para não se restringir só à população de Taubaté, é constituída por um povo de profundas tradições religiosas. Como tal é, por natureza, “conservadora” {cf. Dom Antônio A. de Miranda, “Os rótulos e a realidade”, in: Folha de São Paulo, Sábado (3.8.91), p. 9 – 2}.
O eixo da existência da vida desse povo simples é o mistério, chamado Deus, que sabe tudo, pode tudo e controla tudo, castiga, perdoa e recompensa os méritos humanos. A linguagem do povo circula em torno de “graças a Deus”, “se Deus quiser”. Por aí, podemos perceber bem claramente que a concepção religiosa é de uma “fé inabalável em Deus”. A compreensão de Deus é um tanto justiceira, determinista e fatalista. Essa tendência determinista é percebida pelas expressões muito correntes entre o povo, como: Deus quis assim… É vontade de Deus… Deus sabe que faz, chegou a hora. É forte o seu sentido místico.
De um modo geral, a prática da religião é de mentalidade tradicional, devocionista e sacramental. Quanto à religiosidade, carrega em si alguns matizes, um tanto supersticiosos, quase mágicos. Daí que, por trás dessa religiosidade hereditária, não renuncia a gestos essenciais de fé, como o Batismo dos filhos e a celebração dos sacramentos. Dentro dessa visão, a fé e a religião significam muito. A religiosidade é expressa, preponderantemente, na devoção aos santos, com as típicas e irrenunciáveis festas dos padroeiros das comunidades paroquiais e das capelas. As festas religiosas estão ligadas às novenas e às procissões em honra dos santos. Entre as devoções, as mais populares, figuram a veneração a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Desde a descoberta de Angola, em 1486, a Virgem do Rosário tornou-se padroeira dos negros, tanto em Angola, como em Portugal e, depois, também no Brasil. Ao culto de Nossa Senhora do Rosário se uniu o de São Benedito, trazido pelos escravos.
Entre as festas mais antigas da região valeparaibana está a festa de Santa Cruz. Esta é a primeira festa de cunho religioso realizada em terras brasileiras, introduzida pelos padres jesuítas. A cidade de Taubaté, como as outras cidades da região mantém ainda hoje, as semanas santas, com suas cerimônias de grande solenidade, suas procissões, suas matracas e imagens antigas.
A religiosidade popular caracteriza-se pela marcante devoção a Nossa Senhora, sob as mais diversas invocações, com destaque à de Nossa Senhora Aparecida. O culto ao Bom Jesus da cidade de Tremembé é hoje conhecido e recebe veneradores até mesmo de outros Estados. Entre os santos mais populares sobressaem São Benedito, Santo Antônio, São Pedro, São João e Santa Isabel. A devoção a estes santos protetores está sempre ligada às festas com novenas, promessas e procissões. Nessa índole popular religiosa, dá-se pouca importância para o “novo”. O comum dos fiéis não é muito aberto às mudanças religiosas e sócio-estruturais. Por isso, há muito mais abertura e aceitação dos movimentos e associações religiosas do que para as pastorais de compromisso sócio-transformador das realidades humanas através de uma evangelização, que conjugue conversão pessoal e comunitária. Prevalece a preocupação com a salvação pessoal e espiritualizada, com tendência a divorciar fé e vida.
De modo geral, pode-se dizer que o povo valeparaibano é muito religioso, acolhedor e hospitaleiro. Aceita facilmente os sofrimentos e as agruras da vida… Pode haver nisso, o perigo de deixar-se levar por um espírito de conformismo diante dos problemas e desafios da vida {cf. Francisco S. de Toledo, op. cit., pp. 28, 106}.
Pe. José Francisco Schmitt, scj.