Culto ao Coração de Jesus
Chamados a serem proféticos “cultos ao Coração de Jesus”
As Constituições dos Sacerdotes do Coração de Jesus nos recordam qual é a identidade da nossa vocação: “Comprometidos com Ele, para reparar o pecado e a falta de amor na Igreja e no mundo, prestarão, com toda a sua vida, suas orações e trabalhos, seus sofrimentos e alegrias, o culto de amor e reparação que seu Coração deseja” (Const. SCJ, 7).
O culto ao Coração de Jesus prestado pelos religiosos dehonianos não está nas orações que faz ao longo do dia a esta “Fornalha de Amor” – obviamente, passa por aí – mas vai além, e atinge o tocante à vida pessoal de cada religioso. Nosso “culto de amor e reparação” se concentra naquilo que somos e não naquilo que fazemos.
O Padre Léon Dehon não se contentou com uma prática devocional ao Coração de Jesus. Se isto bastasse, jamais teria fundado um Instituto Religioso, bastaria que se filiasse ao, recentemente nascido, Apostolado da Oração (1884). O desejo do coração do Venerável Fundador era unir o culto ao Coração de Cristo (marcado pela atitude habitual da reparação e do sacrifício), a profecia (vocação religiosa) e o ministério apostólico (vocação sacerdotal). Estas três realidades, sintetizadas em um único religioso, deveriam constituir um caminho de santidade que passaria pela escolha da vontade de Deus, mesmo que fosse marcada pela cruz.
O intuito de Dehon, pois, era fundar uma Congregação de “profetas do amor e ministros da reconciliação” (Const. SCJ, 7). Mas, o que significa isso? Bom, as palavras “profetas” e “ministros” apontam para a nossa vocação dentro da Igreja, isto é, religiosos-sacerdotes. E, os termos “do amor” e “da reconciliação” funcionam como adjetivos que apontam para a maneira específica que devemos viver esta vocação eclesial (nossa identidade SCJ), conforme o próprio Fundador afirma: “os votos devem ser emitidos e vividos no espírito de amor e de imolação que lhes é peculiar” (Diretório Espiritual, 78).
Nossa vocação é um combate profético
A Igreja possui dois grupos bem distintos de fiéis, isto é, aqueles que são ordenados e aqueles que não são ordenados. A estes damos o nome de “leigos” (vem de laikós que significa:povo) e àqueles chamamos “clérigos”. Esta distinção foi definida pelo próprio Jesus, quando chamou os doze para estarem “junto dele”, atribuindo-lhes as diversas atividades de seu ministério apostólico (cf. Lc 6, 12-17).
Todavia, tanto entre o laicato quanto entre o clero existe um grupo de fiéis que receberam uma vocação especial, isto é, viver radicalmente o seu batismo. Léon Dehon, que havia sido ordenado sacerdote diocesano, percebeu que Deus o chamava para um estilo de vida mais austero. Foi então que no dia 14 de fevereiro de 1877, no Santuário da Anunciação e da Encarnação, em Loreto (Itália), aos pés da imagem da Virgem Maria, responde definitivamente ao seu chamado especial: “pela graça de Deus, serei religioso”.
A vocação religiosa constitui, de fato, um chamado especial, porque é uma graça que Deus concede a alguns – devido à sua exigência específica. A vida do religioso é, por definição e origem, um combate à idolatria. Ao correr dos nossos dias podemos colocar coisas no lugar de Deus, pessoas no lugar de Deus ou posso, eu mesmo, colocar-me no lugar de Deus. Para combater esta tendência presente em nós, devemos adotar um estilo de vida de combate à idolatria – aquilo que chamamos de voto.
Pelo voto de pobreza esforçamo-nos para nos desapegar dos bens materiais, vencendo assim a idolatria das coisas, conforme o próprio Padre Dehon afirma: “a pobreza, o desapego das criaturas, a renúncia são condições indispensáveis para a união com o Sagrado Coração de Jesus e para a vida de amor e de imolação” (DE, 79), isto é, para a vivência do nosso carisma.
Pelo voto de castidade vencemos a tentação de colocar pessoas no lugar de Deus. Esta castidade, não se restringe apenas ao âmbito sexual, mas vai além, significa que devemos amar sem possuir. Dehon nos lembra que o coração do religioso “deve pertencer completamente ao Coração de Jesus” (DE, 88).
Pelo voto de obediência combatemos aquele ímpeto que nos impulsiona a sermos deuses, idolatrarmos nosso próprio “eu”. “Eu quero que a minha vontade seja feita, assim na terra como no Céu”. Nosso Fundador nos recorda: “considerada em cada religioso, a obediência oferece a Deus aquilo que o homem tem de mais precioso e apreciado – a sua vontade” (DE, 89).
Fr. Thiago Pereira Domingos,scj.