DEHONIANOS DA ESPANHA SÃO PREMIADOS
Um reconhecimento à ousadia criativa (e pastoral)
Os jovens Dehonianos de Espanha foram reconhecidos com o Prémio Carisma pela criatividade na apresentação do Evangelho e da Vida Consagrada nas suas campanhas, imagens e cartazes.
Ángel Alindado, religioso dos Sacerdotes do Coração de Jesus (conhecidos em Espanha por Reparadores ou Dehonianos), é o Coordenador da Delegação da Pastoral Vocacional. Na Delegação trabalha em conjunto com José Antonio Casalé, também ele religioso Dehoniano e responsável pelo Voluntariado Internacional MyMission, e com Gracia Granados, responsável pela Juventude Dehoniana, na pastoral juvenil. A Delegação e a Equipa de Pastoral Juvenil reúnem-se pelo menos 3 vezes ao ano para desenhar as campanhas, os slogans anuais e as diversas atividades destinadas aos Jovens Dehonianos de Espanha.
No próximo mês de junho receberão, em Madrid, o Prémio Carisma da Pastoral Juvenil e Vocacional, atribuído pela CONFER (Conferência dos Religiosos de Espanha), pelas “suas criativas e atuais campanhas de divulgação com o objetivo de promover o conhecimento e a promoção da Vida Consagrada na nossa sociedade”. Um prémio “totalmente inesperado”, nas palavras de Ángel Alindado, mas “precioso reconhecimento ao modo de fazer as coisas, à missão partilhada e à ousadia criativa”.
Como surgem estas campanhas? Como se desenvolve o processo criativo destas campanhas?
Penso que antes de responder à pergunta, é melhor explicar de onde surgem as ideias e a razão de ser delas. Há já muitos anos, que a Pastoral Juvenil e Vocacional, na altura de propor iniciativas comuns às nossas diversas atividades pastorais, trabalha com um lema. inicialmente serviu, sobretudo, para o início do curso e das atividades como o Encontro de Jovens de Salamanca (onde habitualmente se reunia cerca de 150 jovens e adolescentes dos nossos colégios e paróquias). Com o passar dos anos, esses slogans foram sendo assumidos como lemas anuais e converteram-se numa ótima oportunidade para atualizar certos elementos da nossa espiritualidade e aspectos específicos do nosso carisma e missão, com uma linguagem atraente e até mesmo provocadora.
Conseguimos assim que quase todas as nossas obras, especialmente os colégios, andassem de mãos dadas e oferecessem uma base comum de temas, propostas educativas e pastorais, reflexões, atividades, etc., ligadas ao mesmo tema Dehoniano, lema e imagem. A isso juntou-se a “adaptação” (trabalhar de modo mais específico uma parte do tema) nos tempos fortes da liturgia do Advento-Natal e da Quaresma-Páscoa, onde sempre nos sentimos mais “livres” para criar, propor, chamar a atenção. A par deste aspecto é necessário referir de onde surgem muitos dos temas e campanhas pastorais nos tempos fortes mencionados anteriormente. Há alguns anos (penso que 12-15 anos… 10 de um modo mais estruturado) um grupo de jovens entre os 20 e os 35 anos colabora com os religiosos que trabalham na Delegação da Pastoral Vocacional (que inclui também a parte da pastoral juvenil) trazendo a sua experiência em atividades e espaços partilhados e formas de transmissão do Evangelho que causou impacto e deixou marcas nesses jovens. O grupo foi mudando os seus membros, entrando uns, saindo outros, e por isso há sempre novidade. É nos encontros ao longo do ano, pelo menos 3, onde surge a centelha da criatividade, a ousadia e uma ponta de santa “loucura” para recriar o modo de transmitir o Evangelho e a cativante experiência espiritual do Padre Leão Dehon, nosso Fundador.
A criatividade e a originalidade das campanhas devem-se a eles e ao bom design de alguns daqueles que integram a Equipa dos Jovens Dehonianos. Atrás de um slogan, como podes imaginar, não há apenas uma boa frase ou uma boa imagem: há muita, muitíssima Palavra de Deus, muita reflexão sobre os valores que queremos transmitir e também muita oração. Na prática, uma parte das nossas reuniões não se difere muito de uma chuva de ideias ou um briefing de uma qualquer empresa de publicidade. Por vezes inspiramo-nos em marcas conhecidas e reconhecidas, séries, programas de televisão ou filmes, damos-lhes a volta, mudamos os slogans, aproveitamos as mensagens… Nem imaginas a quantidade de loucuras que às vezes surgem, como a campanha que realizámos no Advento, usando o “Eu é que não sou parvo” de uma conhecida loja de produtos eletrônicos à qual acrescentámos uma frase de São Paulo a Timóteo: “Sei em quem confiei”; aquela outra em que falámos dos talentos que Deus nos dá, God’s Talents; ou a última em que refletíamos sobre a novidade de Deus nas nossas vidas, aproveitando o facto de outra cadeia, desta vez de bricolagem, estar a propor para deixar “o novo” entrar nas nossas casas. Quem vê as nossas propostas fica um pouco admirado com a estética, a mensagem e a forma como sabemos dar a volta às mensagens publicitárias do nosso mundo.
São todas “perfeitas”? Claro que não… Estamos sempre a avaliar e ver onde está errado, onde está certo. Mas algumas sim, causam um certo impacto. E nós utilizamos esse impacto para, posteriormente, tentar abrir o coração à autêntica mensagem
que está por detrás de cada imagem e slogan.
A surpresa veio, e vem, quando outras congregações religiosas, de dentro e de fora da Espanha, solicitam os nossos materiais e dinâmicas. Ou quando os responsáveis pastorais das diferentes dioceses usam os nossos cartazes e propostas pastorais. Há paróquias que nos etiquetam, nos felicitam… Nós oferecemos gratuitamente, porque recebemos gratuitamente. E “grátis” vem de “graça”, “dom”. Os dons de Deus devem ser compartilhados.
Vocês detectaram alguma falta de resposta à comunicação tradicional? Como é que se pode adaptar essas mensagens sem distorcer a Palavra de Deus?
A nossa Congregação é relativamente jovem: nasceu na França no século XIX e deu os seus primeiros passos no final do século XIX e início do século XX. Desde o início foi uma Congregação muito internacional e em missão. A partir daí, e da intenção e do esforço do Padre Dehon em traduzir a linguagem da Igreja para o homem de cada época, creio que nasce o interesse de muitos Dehonianos em traduzir e explorar linguagens para uma mensagem, a do Evangelho, antiga mas sempre atual.
Hoje o nosso mundo, pelo menos no campo da comunicação, sente-se atraído por ideias poderosas, imagens poderosas, transmitidas de um modo impactante e com poucas palavras.
Vemos isso no mundo do marketing e da publicidade. Nos últimos anos, também verificamos como não são apenas os encarregados de vender um produto que o vendem. Às vezes, eles nem se preocupam em vender-te as suas características. O seu interesse está centrado em que captes a emoção e o sentimento que este ou aquele produto causa em ti. Não vendem carros, nem perfumes, nem comida: vendem experiências vitais… E acontece que a Igreja não tem só o melhor produto. Não tem apenas a melhor mensagem. Não tem apenas os melhores valores. Podemos oferecer experiências e “A Experiência”, com letras maiúsculas. E aí, penso eu, é onde muitas vezes entramos com as nossas campanhas simples e por vezes ousadas: provocamos e centramo-nos, muitas vezes, na experiência que um jovem pode ter ou o que Deus pode provocar na sua vida…
Quando o jovem capta isso, é o momento de apresentar as características do carro que eu quero vender-te, os benefícios de beber Coca-Cola e o impacto que vais deixar nos outros ao usar este ou aquele perfume. Ou seja, é o momento de encher de conteúdo a fé, que não é só sentimento, mas que tem muito de racional, de ver as possibilidades e a bondade de oferecer a tua no século XIX e deu os seus primeiros passos no final do século XIX e início do século XX. Desde o início foi uma Congregação muito internacional e em missão. A partir daí, e da intenção e do esforço do Padre Dehon em traduzir a linguagem da Igreja para o homem de cada época, creio que nasce o interesse de muitos Dehonianos em traduzir e explorar linguagens para uma mensagem, a do Evangelho, antiga mas sempre atual.
Hoje o nosso mundo, pelo menos no campo da comunicação, sente-se atraído por ideias poderosas, imagens poderosas, transmitidas de um modo impactante e com poucas palavras.
Vemos isso no mundo do marketing e da publicidade. Nos últimos anos, também verificamos como não são apenas os encarregados de vender um produto que o vendem. Às vezes, eles nem se preocupam em vender-te as suas características. O seu interesse está centrado em que captes a emoção e o sentimento que este ou aquele produto causa em ti. Não vendem carros, nem perfumes, nem comida: vendem experiências vitais… E acontece que a Igreja não tem só o melhor produto. Não tem apenas a melhor mensagem. Não tem apenas os melhores valores. Podemos oferecer experiências e “A Experiência”, com letras maiúsculas. E aí, penso eu, é onde muitas vezes entramos com as nossas campanhas simples e por vezes ousadas: provocamos e centramo-nos, muitas vezes, na experiência que um jovem pode ter ou o que Deus pode provocar na sua vida… Quando o jovem capta isso, é o momento de apresentar as características do carro que eu quero vender-te, os benefícios de beber Coca-Cola e o impacto que vais deixar nos outros ao usar este ou aquele perfume. Ou seja, é o momento de encher de conteúdo a fé, que não é só sentimento, mas que tem muito de racional, de ver as possibilidades e a bondade de oferecer a tua vida, apesar das dificuldades, e como vais deixar uma marca indelével no nosso mundo.
Penso que na Igreja não existe comunicação “tradicional”. Os cristãos de cada época têm procurado fazer seus, os meios de que dispõem. Daí surgiram os grandes livros de apologética cristã, as grandes catedrais góticas, passando pelos portais dos templos românicos. E em todas essas expressões encontramos uma tentativa de comunicar a mesma mensagem através de novos meios. Os nossos meios hoje chamam-se, a par da arquitetura, pintura e música, desenho, meios de comunicação, redes sociais, internet, publicidade, imagem… A mesma mensagem, tão antiga e tão nova, mas com os meios do tempo atual. A título de exemplo, gosto de dizer que os nossos cartazes e campanhas são, como se chama na homilética, a captatio benevolentiae, ou seja, o modo de captar a atenção e de deslocar os fiéis e depois “colocar” na homilia as mensagens do Evangelho e da experiência da Igreja. No fundo não estamos a inventar nada, não é verdade?
Qual é o assunto pendente da igreja em matéria de comunicação?
Talvez encontrar o ponto ideal entre a grandeza da mensagem do Evangelho e o modo de criar o impacto necessário para chamar a atenção do nosso mundo. Hoje, a um jovem (e também um adulto), chegam milhares de imagens e de mensagens a cada instante. O nosso desafio é tornar o primeiro anúncio do Evangelho suficientemente significativo para depois, uma vez aberta a porta, chegar ao sentido da vida.
Que pensas do fato de o Papa ter uma conta no Twitter? Parece-te conveniente que a Igreja siga todas as tendências das redes sociais?
O passo do Papa não foi apenas ter uma conta no Twitter. Tudo isso foi acompanhado por uma mudança na estratégia de comunicação. Sim, é verdade que Bento XVI, em 2012, quando permitiu que o papado se “metesse” nessa rede social, deu um passo firme reconhecendo, desse modo, que o “digital” não está em conflito com a mensagem antiga e sempre nova de que falava anteriormente. Francisco, em certas ocasiões, falou do “continente digital” como um espaço a evangelizar. E nessa tarefa estamos todos envolvidos… uns com mais êxito do que outros, com mais ou menos perícia no momento de se apresentar e de apresentar o Evangelho nas redes… Tendências? Nisso eu sou um pouco mais conservador: aquelas que podem servir a Mensagem, ótimo… Outras que só servem para um rápido reconhecimento, ter mais “gostos” e ganhar mais seguidores… penso que é preciso ter mais prudência e reflexão. Dito isto, conheço padres, religiosos e religiosas, leigos comprometidos no anúncio do Evangelho que evangelizam a partir das suas redes sociais cozinhando para pessoas que conhecem e que têm algo para contar, cantando, fazendo coreografias para o TikTok, jogando PlayStation e partilhando os seus jogos no YouTube, fazendo entrevistas impossíveis, ombreando com conhecidos youtubers… E todos têm noção por que estão aí e como a sua vida e o seu sucesso não são para si, mas para Deus.
Depois do sucesso destas campanhas, quais são os vossos próximos passos?
O Prémio Carisma da Pastoral Juvenil e Vocacional, totalmente inesperado, não deixa de ser um precioso reconhecimento do bom trabalho e também de uma certa repercussão na esfera eclesial. Mais do que um prémio que reconhece o sucesso, é um prémio ao modo de fazer as coisas, à grandeza demonstrada pela missão partilhada, à ousadia criativa e ao percurso de todos estes anos. Os passos seguintes serão marcados pelo contexto em que nos encontramos e pelos desaos de transmitir o Evangelho. Oxalá, e aí há muitas dificuldades e desafios, possamos continuar a encontrar os canais adequados para passar do impacto inicial e da primeira mensagem a uma reflexão mais profunda que possa provocar uma transformação no jovem, numa opção de vida, na sua união mais profunda com Cristo…
Raquel Castejón Martínez (https://www.dehoniani.org/)