ENCONTRO DOS BISPOS DEHONIANOS EM ROMA
Evangelização para a Renovação
O Encontro dos Bispos Dehonianos viveu dia intenso na sexta-feira (19/01), com o estudo sobre “O desafio da evangelização”. A teóloga Serena Noceti, professora de teologia sistemática, ofereceu uma qualificada contribuição. Ela exerce o magistério na Faculdade Teológica da Itália Central (Florença), é sócia fundadora da Coordenação de Teólogas Italianas e vice-presidente da Associação Teológica Italiana. Ela estruturou sua reflexão em torno ao tema de uma Igreja em transição. Segundo ele, estamos assistindo a uma quarta fase de recepção do Concílio Vaticano II, ação ditada por Papa Francisco, com a Evangelii Gaudium, documento programático que convida, encoraja e orienta o Povo de Deus à reforma.
Reemerge o Povo de Deus
A categoria de Povo de Deus foi recuperada plenamente e torunou-se premissa de importantes percursos, capazes de superar o modelo gregoriano e tridentino. Sobre este último aspecto a relatora insistiu bastante, mostrando como certas resistências à mudança devem-se à pré-compreensão do modelo tridentino que permanece forte na mentalidade dos responsáveis da Igreja. Num Igreja tornada mundial, culturalmente policêntrica, não é mais possível perpetuar uma imagem eclesiocêntrica.
Chamado à Missão
Uma importante contribuição neste impulso de renovação pode ser oferecido pela recuperação da “Igreja em missão”. Nesta ação, que é o fundamento e o significado da Igreja, as comunidades cristãs resultam evangelizadas e evangelizadoras. Neste sentido a ação missionária torna-se paradigma de toda atividade eclesial e confere à Igreja uma nova posição, um novo olhar sobre a realidade e um novo estilo.
Isso é desejado e ditado de forma precisa por Papa Francisco na sua feliz expressão de “Igreja em saída”. Este sair não é condicionado pelo simples andar de encontro a qualquer coisa, de modo vago ou para alguma realidade. Trata-se de um sair do código sagrado, das seguranças da lei e da norma, da fortaleza da contraposição.
Desenvolvendo novas ações
Na Evangelii Gaudium a relação evangelização e Igreja é marcada por três novidades relevantes: cobra-se uma evangelização inculturada; realizada como “obra coletiva” do Povo de Deus; concretizada mediante uma forma dialógica.
As dinâmicas comunicativas e participativas se instauram através de uma Igreja inclusiva e “anti-elitária”, uma Igreja pobre e dos pobres. Coloca a Igreja local no centro para superar uma comunicação unidirecional, própria do modelo tridentino, e valorizando o “sensos fidei” do Povo de Deus.
Valorização dos Sujeitos
Nessa reestruturação tem notável importância dos sujeitos. O primeiro sujeito é a Igreja, Povo de Deus, com identidade definida na correlação e correspondência. Ao interno do povo torna-se importante redescobrir a tarefa dos leigos, que são a imensa maioria e vem a ser garantia de enculturação, atores de uma perspectiva não eclesiocêntrica, portadores de uma linguagem não clerical.
É preciso descobrir o ministério do casal: com o sacramento do matrimônio torna-se graça e ministério eclesial do “Nós”, sinal da essência do Reino de Deus, manifestado pela comunhão na diferença.
Dentro do Povo de Deus deve ser recuperado o papel das mulheres, palavra inédita. Tudo exige que se repense o ministério ordenado. A opção pelo modelo do “pastor” transforma-se em desafio para interromper a lógica sacral, repensar autoridade-poder, seminários e formação.
Eis um trabalho importante e exigente que viu os 20 bispos dehonianos, reunidos nesse momento de confronto, profundamente motivados a dar curso a um caminho que só pode fazer bem à Igreja e produzir frutos respeitando o tempo de Deus.
Rinaldo Paganelli SCJ
Tradução de E&L.