Espaços & Laços 106
Alimentos misteriosos e prodigiosos preanunciaram a Eucaristia. Necessidades prementes e urgentes contextualizaram seu advento. A desafiadora vivência e a cobrada coerência da vocação cristã, por certo, encontram na Eucaristia real possibilidade de êxodo e êxito. Eis a conjugação temática da liturgia dominical e do mês vocacional. “Duas espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos, para se conservarem na perfeição; e, os imperfeitos, para chegarem à perfeição”, recomenda São Francisco de Sales.
Quando não queremos assumir o compromisso benéfico que a vocação nos propõe e a eucaristia nos impõe, murmuramos desculpas e costuramos justificativas. Contudo, a espiritualidade eucarística e a disponibilidade vocacional enveredam por outro caminho: “Este pão é Jesus. Alimentar-nos dele significa receber a própria vida de Deus, abrindo-nos à lógica do amor e da partilha” (São João Paulo II).
Não queremos acostumar-nos às seguranças do status ministerial nem nos habituar às comodidades do estado clerical. Talvez precisemos, diuturnamente, desencastelar-nos da imperturbável mesmice e ousar caminhos não trilhados. Parece-me oportuna a prece inspirada de um cristão inquieto e retomada por um profeta indomável…
“Perturba-nos, ó Senhor, quando estivermos muito satisfeitos conosco mesmos; quando nossos sonhos se tornarem realidade porque sonhamos muito pouco, porque navegamos muito próximos à costa.
Perturba-nos, ó Senhor, quando, com a abundância das coisas que possuímos, nós perdemos a nossa sede pela água da vida; quando, tendo nos apaixonado por este tempo, nós paramos de sonhar com a eternidade.
E, em nossos esforços por construir uma nova terra, nós tenhamos permitido que a nossa visão de céu tenha crescido tão pouco.
Sacode-nos, ó Senhor, para ousarmos mais corajosamente, a nos aventurarmos em oceanos mais amplos, onde as tempestades mostram o teu domínio; onde, ao perdermos de vista a terra, nós possamos encontrar as estrelas.
Em nome d’Ele, que ampliou os horizontes das nossas esperanças e convidou os bravos e bravas a segui-lo. Amém. ”
(Disturb us, o Lord: Oração de Desmond Tutu, inspirada em Francis Drake, 1577, com tradução de Felipe Gustavo Koch Buttelli). (http://www.luteranos.com.br/textos/joao-6-35-41-51).
P. Mariano,scj.