Espaços & Laços 80
No próximo domingo o Evangelho continua a apresentação da Jornada de Cafarnaum (Mc 1,21-39), com os outros três âmbitos da ação de Jesus (Mc 1,29-39).
- Jesus opera no espaço doméstico (Mc 1,29-31),
representação do nacionalismo galilaico
Jesus não é Senhor somente da instância sagrada. Ele quer estar e participar também da vida familiar e doméstica, exercer ali o seu “reinado”. A sogra de Pedro está prostrada pela febre (πυρέσσουσα, pyréssusa). A febre é o “fogo” do nacionalismo Galileu. O seu zelo está transtornado e prostrado, provoca morte e já não favorece a vida (compare com 1Rs 18,20-40; 19,10.14). De novo Jesus se confronta com uma situação que atenta à vida e responde com uma atuação vivificante. Recuperada, a sogra de Pedro põe-se a servir.
Para falar do “levantar-se”, referido à sogra de Pedro, após a cura, Mc usa um dos dois verbos que designam a ressurreição: ἠγείρω/ eghéiro. Jesus ressuscitou o nacionalismo galilaico não para matar, mas para servir. Por isso mesmo, uma vez curada por Jesus, a febre é transformada em diaconia: ela se pôs a servi-los (v. 31).
- Jesus age na dimensão sócio-político-econômica (Mc 1,32-34),
instância sob controle do império romano.
A “porta”, aqui, corresponde à “praça” de nossas cidades tradicionais. É o espaço político, social e econômico. Desse âmbito Jesus participa, ali ensina e cura. Também nossa missão precisa ressoar, ser significativa, nas instâncias sócio-político-econômicas.
Cafarnaum era o mais importante centro da Galileia judaica, onde havia diversas categorias de funcionários reais. Representa a instância do senhorio e da ação de Jesus em favor da vida, agora em confronto com o império que tem a pretensão de controlar tudo, mediante a ideologia da “Pax Romana”. Justamente ali Jesus atua agora.
Jesus não tolera ser proclamado e reconhecido sem ser testemunhado e seguido. Na sequela de seu Mestre e Senhor, a missão evangelizadora da Igreja precisa dizer sua palavra no campo social.
- Jesus atua no âmbito do desconhecido e do adverso
(Mc 1,35-39), símbolo das utopias e da missão
Para a apocalíptica judaica o deserto é o lugar reservado aos demônios ou de preparar a missão. Segundo Jesus, é local para entreter-se com o Pai. O mundo não é imundo, o cosmos não pode ser caos. Não há, pois, “lugar perdido” para Jesus que veio para todos. Por isso continuou a pregar e expulsar demônios por toda a Galileia e quer chegar à todas as “Galileias”.
Estamos no âmbito das utopias e da missão. Jesus não se acomodou ao sucesso momentâneo. Utopia não é o impossível. É aquilo que ainda não tem chão (οῡ + τόπος = não chão), mas já está no coração, aguardando realização (οῡτοπία/utopía).
Entende-se, assim, o máximo objetivo da Igreja e de cada fiel, de seguir Jesus, prosseguir sua obra, perseguir seu ideal e conseguir sua plenitude e felicidade.
Mariano,scj.