Espiritualidade do Coração de Jesus
Derrama o teu Espírito sobre nós
No capítulo segundo dos Atos dos Apóstolos, temos uma passagem profunda e misteriosa. Pedro, no dia de Pentecostes, diante daquele fato prodigioso que todos observavam, lhes diz: “Jesus, exaltado pelo Pai, recebeu a promessa do Pai, o Espírito prometido que ele enviou sobre os homens. É o que vós estais vendo”.
Nestas palavras de Pedro, se faz referência ao fato de que Jesus, ao ser exaltado à destra do Pai, recebe o Espírito Santo e que esta plenitude é a que se derrama sobre a Igreja no momento de Pentecostes. Teríamos, então, além daquela invasão do Espírito sobre a humanidade de Jesus Cristo no batismo do Jordão, outra invasão misteriosa, diríamos, um Pentecostes intratrinitário. A humanidade de Cristo, em sua ascensão, chegando-se ao Pai, em seu processo que poderíamos chamar de divinização, recebe a plenitude do Espírito Santo que o diviniza, que é o dom do Pai à humanidade esposa, admitida à vinculação nupcial definitiva e eterna dentro da Trindade. E daí vem a efusão do Espírito Santo sobre o mundo. Temos, pois, aqui uma nova invasão de comunicação à humanidade de Cristo.
Por todos estes títulos, bem pode o Espírito Santo chamar-se Espírito de Cristo. Além de tudo isso, Jesus comunica o Espírito a nós. E, também neste sentido, pode chamar-se Espírito de Cristo. Com isto, começamos a segunda parte de nossas reflexões sobre o Espírito Santo e o Coração de Jesus: O Coração de Cristo nos dá o Espírito Santo.
Para falar sobre isto, vamos deter-nos no Batismo de Jesus, assim como nos foi relatado pelo evangelista São João. Ao descrever este fato fundamental no seu Evangelho, João usa uma terminologia interessante. Com palavras diversas fala de ver, contemplar, penetrar. Primeiro fala que vê (como vê qualquer pessoa) Jesus que vem chegando. Depois, João Batista fala que não o conhecia (em se caráter de Messias). Em seguida, vê o Espírito descendo sobre ele (no sentido de contemplar fixamente um fato). Ele viu o Espírito descer e repousar sobre Jesus. E termina com outro ver diferente: Eu vi que ele é o Messias, o que batiza no Espírito Santo. Este ver significa chegar à conclusão, à convicção, penetrar no mais profundo, compreender o que antes havia visto apenas sensivelmente.
João vê que Jesus é aquele que batiza no Espírito Santo. Esta é, para João, a definição de Jesus: aquele que batiza no Espírito Santo. Ele é o batizante no Espírito Santo. Isto significa que a obra de Jesus, no seu conjunto, é dar o Espírito Santo. Poderíamos dizer que Jesus é aquele que submerge o mundo no Espírito, aquele que envia torrentes do Espírito, o que batiza no Espírito Santo.
Tudo isso nos recorda o Antigo Testamento que anuncia uma grande efusão escatológica do Espírito de Deus sobre o povo. Estes textos falam do plano de Deus de preparar-se um povo santo que ame a sua Lei, que O conheça, e isto pela comunicação do seu Espírito, por um batismo no Espírito.
O Evangelho escrito por João (1,25-34) apresenta Jesus como o artífice desta efusão do Espírito. Ele é quem a realiza. Esta é a grande novidade do Novo Testamento: atribui a Jesus uma ação própria de Javé. Jesus é quem batiza no Espírito Santo. Por isso, João percebe a messianidade de Jesus. Esta consiste, precisamente, em formar este povo novo, pela comunicação do Espírito Santo.
P. Francisco Sehnem, scj.