Memórias da nossa História
Conventinho de Taubaté. Os Dehonianos no Vale do Paraíba
7.5.4. Capela do Conventinho e o Cristo Vivo
Dentro do conjunto arquitetônico do novo Conventinho destaca-se a capela da comunidade religiosa. A capela não é unicamente, nem sobretudo, o lugar onde se conserva a Eucaristia. É, antes de mais, um lugar sagrado, reservado a Deus. É o recinto, por excelência para a oração. Deve ser o lugar mais nobre e o centro de atenção de uma casa religiosa. É o lugar do encontro do religioso com seu Deus. Por isso, a capela deve ter um ambiente acolhedor. A própria arte deve estar a serviço da contemplação, da elevação do espírito humano ao Criador.
É isto que se constata na capela do novo Convento. Temos aí um espaço amplo e com muita luz. Dentro do conjunto interno das linhas modernas da capela, destaca- se no presbitério, para além do altar, um grande crucifixo. O Cristo vivo.
Para discorrer sobre este Cristo vivo, nada melhor que transcrever do Jornal Católico “Santuário de Aparecida”, em sua edição de 18 de novembro de 1973, na coluna Ponto de Encontro, um artigo publicado pelo então padre Murilo Sebastião Ramos Krieger, intitulado o Cristo Controvertido. São considerações em torno do crucifixo que orna a capela do Instituto Teológico, obra realizada pelo escultor plástico José Demétrio Silva, a pedido do padre Valério Cardoso. Eis as considerações do padre Murilo:
“A capela estava pronta: linhas modernas, muita luz, ambiente agradável. Ficara de acordo com todo o prédio do Instituto Teológico.”
Não eram apenas os estudantes e professores de teologia que a elogiavam: todos os que a visitavam eram unânimes em reconhecer sua beleza. Mas faltava o Cristo.
Havia, sim, o Cristo eucarístico, sempre acolhedor em seu silêncio que fala. Não havia, contudo o crucifixo, expressão visível do amor desse mesmo Deus.
O lugar estava reservado e as ideias se multiplicavam: Vamos fazê-lo de madeira. – Não, de bronze! – Que tal só a cruz? – Acho melhor um Cristo bem moderno! – Não, não: poderia chocar o pessoal! – Eu, por mim, faria um Cristo pregado na cruz como a gente está acostumado a ver. – Eu, nunca. Se dependesse de mim…
Do diálogo nasce a luz. Foi então que se decidiu: a imagem deveria estar de acordo com as linhas da capela.
O mais importante, porém, é que não seria um Cristo morto, por mais expressiva e sugestiva que é a figura do Filho de Deus que, tendo cumprido a vontade do Pai, deixa a cabeça tombar.
Seria, sim, a representação do Cristo vivo, em seus últimos momentos. Um Cristo que ao mesmo tempo estivesse fazendo ao Pai aquela pergunta que denota tanta dor (‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?’) e, por outro lado, que estivesse entregando em Suas mãos todo o seu ser, toda a sua vida.
Afinal, cumprira seu papel e podia dizer: ‘Tudo está consumado!’
O escultor foi convocado, a ideia lhe foi exposta e o trabalho, iniciado. Passados alguns dias o Cristo ficou pronto.
Não há angústia em seu olhar, mas em toda a expressão de sua face a dor está fortemente gravada. O seu rosto nos chama a atenção para uma realidade um tanto esquecida por nós: que, depois de uma noite e um dia de interrogatórios e suplícios, de um caminho longo e cansativo, de três horas de cruz – a expressão de Cristo não poderia mesmo ser doce ou meiga.
Não há angústia em seu olhar, mas em toda a expressão de sua face a dor está fortemente gravada. O seu rosto nos chama a atenção para uma realidade um tanto esquecida por nós: que, depois de uma noite e um dia de interrogatórios e suplícios, de um caminho longo e cansativo, de três horas de cruz – a expressão de Cristo não poderia mesmo ser doce ou meiga.
De tanto vermos um Cristo meigo na cruz, nos sentimos um pouco constrangidos diante de uma lembrança mais forte de dor.
Colocado na capela, o Cristo passou a ser tema de conversas, de discussões, de apreciações. Havia os que o elogiavam. Outros eram sinceros em dizer que o Cristo não lhes agradava. Ninguém conseguia ficar indiferente diante dele.
Ao ver a sua boca aberta, num esforço para falar, a expressão mais ouvida era quase invariável: ‘Mas Ele está vivo!’.
Sim, Ele está vivo. Talvez seja mais difícil e desagradável para nós vê-lo vivo.
Não é reconfortante, a não ser que nos lembremos que ali, naquela hora, cada um de nós esteve presente em seu pensamento. Que sua dor, transformada pelo amor, se tornou para nós meio de salvação e nos aproximou do Pai. Além disso, sua presença ‘viva’, na Capela do Instituto Teológico, poderá melhor recordar aos estudantes, professores e visitantes, que da mesma forma Ele está vivo em cada irmão que passa em seu caminho – principalmente naqueles que mais se lhe assemelham pela dor, pelo abandono e pela deformidade física ou moral.
‘Mas Ele está vivo!’ Ele está sempre vivo diante de todos. Talvez seja por isso que sua pessoa continua tão controvertida: Ele obriga cada um de nós a confrontar continuamente as próprias ideias com sua maneira de ver e amar o mundo e os homens.
Seu amor o levou até o Calvário onde, para abraçar os homens, Ele abriu os braços, deixando claro que amar, hoje, significa crucificar-se pelos outros” {Circular SCJ (abr. 1973), pp. 699-700}.
Ao entrarmos em nossa capela, vendo o Cristo crucificado vivo, tornam-se oportunas as palavras de João Paulo II:
“Crer no Filho crucificado significa ‘ver o Pai’, significa crer que o amor está presente no mundo e que este amor é mais forte do que toda espécie de mal em que o homem, a humanidade e o mundo estão envolvidos. Crer neste amor significa acreditar na misericórdia (…) Deus revela também de modo particular a sua misericórdia, quando solicita o homem, por assim dizer, a exercitar a ‘misericórdia’ para com o seu próprio Filho, para com o Crucificado” {João Paulo II, in: Dives in Misericordia, ns. 7 e 8}.
Além do Cristo vivo, nossa capela apresenta a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Essa linda imagem é oferta da Província Portuguesa. Foi obtida pelo então padre Eusébio Scheid que, a convite da Cúria generalícia de Roma, em abril de 1976, pregou retiros e encontros em Portugal, na Ilha da Madeira (Funchal) e em Fátima.
Para falar sobre essa imagem de Nossa Senhora de Fátima, passamos a palavra para dom Eusébio Scheid, hoje arcebispo de Florianópolis (SC):
“É de cedro da LEIRIA, réplica da melhor imagem de Nossa Senhora de Fátima, segundo depoimento da Irmã Lúcia (a vidente de Fátima) que, assim mesmo, a achou muito feia em comparação da Virgem que ela vira” {Carta de dom Eusébio (Florianópolis, 21.10.1993)}.
A imagem foi enviada por navio, iniciativa do provincial português daquela época, padre Moisés Gouveia, scj.
Ampliemos o panorama de nossa capela… Ao entrar, logo à direita, podemos contemplar a via-sacra, esculpida pelo artista Max Hartmann (Ituporanga, SC). Essa obra estava no Seminário de Corupá, mas sem ser exposta. Padre Murilo S. R. Krieger trouxe-a para a nossa capela {A disposição das estações da Via-Sacra, como se vê na entrada da capela, padre Murilo S. Krieger se inspirou na colocação em uma igreja, em Brasília}.
Mais tarde, em 1980, houve algumas modificações no interior da capela. O piso de pedras foi substituído por piso de “tacos”. O tabernáculo que ficava à esquerda, foi mudado para o lado direito (o tabernáculo antigo, de metal, foi doado à paróquia de Estiva). O altar também foi modificado. Atrás do novo altar foi feito um banco fixo em forma de arco, que serve de assento para os concelebrantes.
Pe. José Francisco Schmitt, scj.