Memórias da nossa História
Conventinho de Taubaté. Os Dehonianos no Vale do Paraíba
6.3. A criação da Província Brasileira Meridional
6.3.1. Origem da Missão Meridional Brasileira
A vinda dos nossos padres ao Sul do país está vinculada aos insistentes pedidos de um sacerdote, originário de Münster (Alemanha), monsenhor José Topp, pároco de Florianópolis (SC). Esse pedido era secundado pelo desejo do próprio Padre Dehon. O espírito missionário do Padre Fundador e de sua Congregação fizeram aportar os primeiros arautos dehonianos do Evangelho em Florianópolis, Santa Catarina, precisamente aos 15 de julho de 1903. Deve-se ao protagonismo dos padres José Foxius e Gabriel Lux a iniciativa dessa história. Realizava-se assim o plano do padre José Thoss (+1910), procurador das missões na Alemanha. Coube a ele o mérito de organizar um grupo de sacerdotes missionários preparados para as novas frentes apostólicas no Brasil {cf. Cr. 1. fl. 2v.}.
Já em terras catarinenses, em 20 de janeiro de 1904, padres Foxius e Lux receberam outros três companheiros vindos da província Alemã: padres João Stolte, Pedro Henrique Meller e irmão José Kueppers {cf. Koch, op. cit., p. 28; Busarello, op. cit., p. 54}. Aos 4 de outubro de 1904, dom Duarte Leopoldo e Silva, bispo de Curitiba confiava à Congregação as paróquias de Brusque e São Bento do Sul. Originalmente, o campo de apostolado dos padres foi junto às populações de imigrantes alemães e seus descendentes. Assim foram surgindo as primeiras comunidades dehonianas na Missão Brasileira Meridional. Padre Gabriel Lux foi designado primeiro superior regional {cf. Busarello, op. cit., p. 54}.
Quando o Brasil entrou na Guerra Mundial (1914-1918), nossos padres tiveram que abandonar algumas paróquias. Diversos deles se dispersaram, ficando isolados. Depois da guerra, foram se reorganizando a ponto de, com o decorrer dos anos, assumirem novas frentes de trabalho até atingir os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O primeiro período da região missionária, germe da futura província, teve audaciosos pioneiros a lhe dar feições próprias. Exerceram o mandato de superior regional os seguintes padres: 1. Padre Gabriel Lux, 1903 – 1908; 2. Padre Henrique Meller, 1908 – 1911; 3. Padre Antônio Wolhmeiner, 1911 – 1913; 4. Padre Pedro Storms, 1913 – 1914 {Em 1914 padre Storms viajou para Europa. A deflagração da I Guerra Mundial impediu o seu regresso e acabou sendo escolhido superior provincial na Província Alemã}; 5. Padre Henrique Lindgens, 1914 – 1920; 6. Padre Augusto Weicherding (superior do Sul), 1920 – 1925; 7. Padre Guilherme Thoneick (superior do Centro), 1920 – 1925; 8. Padre José Foxius (superior regional único), 1925 – 1927; 9. Padre Geraldo Spettmann, 1927 – 1928 (interino); 10. Padre Pedro Storms, 25.1.1928 – 1934 {cf. Curia Generalis, Congr. Sacerdotum a S. Corde Jesu – Archivum (gentileza de padre Otto Seidel, Roma, aos 29.10.1996); Busarello, op. cit., p. 47}.
6.3.2. Ereção canônica da Província Brasileira Meridional
Em 1930, por ocasião da visita canônica o superior geral, padre José Philippe, delineou os alicerces da futura Província Brasileira Meridional através de uma carta circular. Entre as obras que o superior geral mais insistiu foi o empenho pelas vocações sacerdotais por parte de cada padre e que o interesse pelas vocações ocupasse o primeiro lugar entre todas as atividades da paróquia. Quanto ao irrenunciável compromisso da pastoral vocacional, temos essas palavras textuais: “Todo padre seja, na paróquia, um apóstolo agenciador de vocações. Embora um pastor de almas tenha levado uma só vocação de sua paróquia até o sacerdócio, o seu trabalho não terá sido em vão” {Carta do superior geral, padre José L. Philippe, escrita em Tubarão, SC (aos 23.8.1930); cf. Crônica Schmitz, p. 68}.
Sobre o processo da criação da nova província, o superior geral tem palavras animadoras após a visita canônica, em Corupá. Na sua belíssima carta circular, ele se expressa assim:
“Em Hansa (hoje Corupá) vi a concretização de um desejo longamente acariciado. Nossa Congregação no Brasil vai ao encontro de novos e melhores tempos. Ela quer caminhar sozinha, na própria pátria. Tomar pé em terreno firme e ir adquirindo foros de cidadania. Como organização católica ela não está vinculada a país algum. Por isso, está em seu pleno direito, se num país novo como o Brasil ela forceja por conquistar também um lugar ao sol. Por mim só tenho de agradecer aos padres pelos progressos realizados” {Busarello, op. cit., p. 67}.
Assim, o 10o Capítulo Geral da Congregação reunido em Louvaine, em 1932, aprovou a ideia de se fundar uma província no Sul do Brasil. Finalmente, após 31 anos da chegada dos primeiros dehonianos (e obtida a apreciação da Sé Apostólica), no dia 24 de abril de 1934, por decreto do superior geral padre José Philippe foi canonicamente ereta a Província Brasileira Meridional. O decreto foi promulgado no dia 25 de abril de 1934, na festa de São Marcos evangelista e tem o seguinte teor:
“Considerando o no 266 das Constituições da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, que reza: alterar os limites de províncias constituídas ou erigir e suprimir províncias, é da competência da Sé Apostólica;
Considerando também o Rescrito da Sagrada Congregação para os assuntos das Congregações Religiosas, publicado no dia 20 de novembro de 1933, mediante o qual foi conferido ao Revmo. Pe. superior geral a faculdade de criar a província brasileira;
Ouvida a opinião do seu conselho na reunião realizada no dia 24 de abril de 1934, – declarou e decretou canonicamente criada a província brasileira, que vem a ser a sexta do nosso Instituto.
E promulgou esse Decreto de ereção, no seguinte dia 25 de abril, na festa do Evangelista São Marcos.
Roma, dia 1o de maio de 1934.
Pe. José Philippe, superior geral”
{Circular SCJ (abr. mai. 1984), pp. 106 -107; Crônicas Schmitz, p. 162. O documento foi traduzido do latim pelo padre Elói Koch. Cf. Busarello}.
Para primeiro superior provincial foi nomeado padre Pedro Storms, que assumiu aos 30 de junho de 1934. Durante seu 1o triênio teve por conselheiros os padres Clemente Britzen, Fernando Baumhoff, João Cristóvão Fischer, Geraldo Claassen, e o ecônomo padre Frederico Bangder {cf. Busarello, op. cit., p. 68; Circular SCJ (abr. mai. 1984), p. 106}.
A sede do provincialado ficava em Taubaté, no Convento Sagrado Coração de Jesus. Em 1942, por duas vezes, o provincial e seu conselho decidiram transferir- se para a paróquia São Judas Tadeu, no bairro de Jabaquara (SP) {cf. Boletim da Província SCJ (fev. 1942), p. 2}, mas essas transferências não se concretizaram. O superior provincial dividia o seu tempo de estada entre São Paulo e Taubaté.
Em 1945, com a compra de um pequeno convento pertencente aos padres servitas, o então superior provincial, padre Poggel, decidiu instalar a sede provincial no Rio de Janeiro (Boca do Mato – Méier), àquela época capital federal.
Depois, padre José Antônio Schmitt, a 30 de outubro de 1963, transferiu a sede do Provincialado para São Paulo, à Rua das Perobas, 600 (bairro de Jabaquara). Com a desapropriação desse local pela Cia. Metropolitana, em 1973, o Provincialado foi transferido, provisoriamente, para a casa paroquial de São Judas Tadeu, Jabaquara. Aos 30 de março de 1978 foi ereta nova casa do provincialado, no bairro de Santo Amaro, à Rua Barão de Cotegipe, 180. O novo provincialado foi inaugurado em 4 de julho de 1978 {cf. Circular SCJ (abr. mai. 1984), p. 105}.
Retomando a história da criação da província, o acontecimento que mais animou a jovem província, já no seu primeiro ano de vida (8.12.1934, na catedral de Taubaté), foi a ordenação sacerdotal de cinco diáconos: Francisco Schlosser, João Büscher, Jorge Brand, Conrado Rech e Tomás Gasser {É um evento importante, porquanto são as primícias da jovem província. Os padres Brand e Rech são os primeiros dehonianos brasileiros. Os demais, embora alemães, fizeram todo o estudo no Seminário Maior da diocese de Taubaté (cf. Cr. 1. fl. 2v; Crônicas Schmitz, p. 179; Busarello, op. cit., p. 68)}.
Outro evento merecedor de registro neste documentário é a realização do Primeiro Capítulo Provincial da jovem província, sob a presidência do padre Pedro Storms, em Taubaté, aos 14 de setembro de 1935 {cf. Busarello, op. cit., p. 68; Crônicas Schmitz, p. 179}.
A Província Brasileira Meridional, desde sua ereção canônica até hoje, foi dirigida pelos seguintes provinciais: 1. Padre Pedro Storms, 30.6.1934 – 1941 (dois triênios); 2. Padre José Poggel, 1.4.1941 – 1947 (dois triênios); 3. Padre Geraldo Claassen, 1.4.1947 – 1953 (dois triênios); 4. Padre Honorato Piazera, 1.4.1953 – 1959 (dois triênios); 5. Padre José Antônio Schmitt, 1.11.1959 – 1966 (dois triênios); 6. Padre Irineu Decker, 1.9.1966 – 1969 (um triênio); 7. Padre Mauro Jungklaus, 1.9.1969 – 1978 (3 triênios); 8. Padre Alberto Piazera, 4.7.1978 – 1981 (um triênio); 9. Padre Murilo S. R. Krieger, 4.7.1981 – 16.2.1985 (dois triênios incompletos) {Padre Murilo, aos 16.2.1985 é eleito bispo}; 10. Padre Silvino Vicente Kunz, 9.4.1985 – 1991 (dois triênios); 11. Padre Osnildo Carlos Klann, 4.7.1991 – 1997 (dois triênios); 12. Padre João Cláudio Weber, 4.7.1997 (início do primeiro triênio) {cf. Circular SCJ (abr. mai. 1984), pp. 101-104}.
Pe. José Francisco Schmitt, scj.