MEMÓRIAS DA NOSSA HISTÓRIA
Conventinho de Taubaté. Os Dehonianos no Vale do Paraíba
7.4. A morte da sapucaia e das mangueiras…
No ano seguinte, dia 9 de dezembro de 1980, o momento fatídico para as frondosas árvores e as outras dependências do velho Conventinho. As exigências do novo são inexoráveis. O novo se faz com sacrifícios, morte, e às vezes, com gestos de violência. Nesse sentido, até parece que estava chegando o dia do cumprimento das “profecias apocalípticas”.
O responsável pelo assentamento das crônicas do Conventinho contemplando a fúria das máquinas demolidoras, decide registrar o evento. É o início dos trabalhos para a construção da nova ala da Faculdade de Teologia. Essa obra exige o sacrifício de vida da belíssima sapucaia e das cinco majestosas mangueiras.
O cronista, em seus apontamentos lacônicos, observa o triste final da sapucaia, com mais algumas pequenas árvores que compunham um modesto jardim no interior do pátio do antigo Convento… Agora estão amontoadas num canto. Diante desse ato de crueldade praticado contra o reino das árvores, surge “o cantor das elegias do Conventinho”, padre Darci Dutra. Ele reage com um hino de dor em homenagem às árvores amigas que já não existem mais, e denuncia os atos de violência praticados contra as dependências do antigo Conventinho. Aqui vão as palavras e o sentimento do pobre profeta que chora:
“Quem agora vier ao Conventinho, não encontrará mais alguns de seus marcos típicos. Do velho QG não ficou pedra sobre pedra. Da outra ala só uma pequena parte sobrou como depósito da CONSTRÓEM, que está construindo uma ala bem maior, ao lado.
E a SAPUCAIA? Nunca mais a veremos colorida e sobranceira entre o verde das jovens sibipirunas e das velhas mangueiras.
E vós, MANGUEIRAS seculares, onde estais? A vossa vontade de viver, tão enraizada neste chão do Conventinho, resistiu à devastação do passado, mas não à de hoje. Cada tronco que tombava nos confrangia o coração. Padre Emílio (Lunkes) que o diga! Aquela lágrima furtiva – lembra-se? – revelou tudo. Aconteceu em dezembro, na ausência dos fratres, adeptos ferrenhos da Ecologia.
A última mangueira foi a que mais resistiu. Dois tratores de esteira cavaram ao redor, quase sumindo lá no fundo da terra ao nível das últimas raízes. E com o reforço de uma possante retroescavadeira conseguiram, enfim, arrancar e arrastar para longe o pesado tronco. Na passagem entre o Conventinho velho e as garagens (antiga “Vila Netinha”) o tronco descomunal, atrelado aos dois tratores e empurrado por outra máquina gigante, enroscou no telhado e quase se vingou rolando por cima das garagens. Um cabo de aço arrebentou; outro mais forte, porém, deu conta do recado.
‘SE AS MANGUEIRAS PUDESSEM FALAR!…’ Refrão eloquente. Estrategicamente situadas, elas sabiam de tudo o que se passava aí no ‘picadeiro’, nas salas de aula, nos quartos, lavató-rios e chuveiros, na cancha de bochas, na gruta, no antigo viveiro e no pomar, no campo de futebol e… em toda a província.
E por falar em cancha de bochas, que saudade!… Padre Renato até parece Jeremias desconsolado diante das ruínas de Jerusalém. Não há mais “peru” nem “bochiador”! O “peru mor” foi, aliás promovido e coroado de mitra. Pois é, Teco, uma desgraça nunca vem só.
Que saudade daquelas mangas gostosas! Caindo ao chão nas caladas da noite, causavam algum sobressalto ao sono tranquilo dos frades. No dia seguinte, bem cedinho, lá estavam eles como os israelitas a recolher o maná caído do céu.
E era uma vez uma gruta bonita e bem iluminada, não é mesmo, irmão Estêvão? Quando diante dela se rezava, e reboava o canto “Do Prata ao Amazonas”, o averno se punha a rugir!…
Que saudades daquela sombra acolhedora, onde passamos horas amenas, preparamos exames, curtimos a nossa amizade na convivência alegre e fraterna! Tudo isso continua e deverá continuar – assegura o padre Silvino – em outro contexto, na ala nova, no Conventinho que se renova, mas que permanecerá sempre o Conventinho SCJ de Taubaté” {Padre Darci Dutra, “Saudades…”, in: O CONVENTINHO (mar. 1981), p. 5; cf. Cr. 5. fl. 46}.
Pe. José Francisco Schmitt, scj.