MEMÓRIAS DE NOSSA HISTÓRIA
Conventinho de Taubaté. Os Dehonianos no Vale do Paraíba
5.4.4. O picadeiro
Entre os dois pavilhões, São José e Nossa Senhora Aparecida havia uma ampla passagem, que dava acesso do pátio interno do velho conventinho ao campo de futebol, passando por duas fileiras de belíssimas mangueiras. O espaço entre as duas alas chamava-se “picadeiro” {O Novo Dicionário Aurélio apresenta como local onde se adestram cavalos, e fazem exercícios ou se administram ensinamentos de equitação. Certamente não foi com este sentido que foi dado tal nome. Mas por ser quase uma área circular onde os fratres se reuniam todos os dias}, onde os fratres costumavam passar os recreios. A data da construção desse “picadeiro” coincide com a da “Ala Nossa Senhora Aparecida”, 1950, portanto.
Na parte térrea desse picadeiro havia um considerável espaço, onde se reuniam os fratres e os padres professores nos recreios, principalmente após o almoço, para contar piadas, tecer comentários teológicos (não muito ortodoxos de teólogos em suas primeiras incursões nas divinas ciências), bem como para pôr em dia os conhecimentos futebolísticos. Era o lugar preferido para conversas mais descontraídas. O recinto se prestava para exposições dos painéis de obras literárias da “Academia São João Crisóstomo” e outras comunicações. A parte inferior do picadeiro dava, ainda, acesso direto aos dois pavilhões (São José e Nossa Senhora Aparecida).
O picadeiro tinha também um piso superior, com grande sala, quase salão, que deveria servir de sala de recreio para os fratres. Mas não se prestava muito para essa finalidade. Aí se faziam as projeções de filmes. Ali chegou mesmo a funcionar um pequeno “Cineclube”, com participação de pessoas da cidade. Mais tarde, durante a construção do novo prédio do Conventinho, esse salão serviu, provisoriamente, de sala de aula.
5.4.5. A nova capela do Conventinho
O leitor deve ter percebido que dentro da ordem cronológica do surgimento dos prédios, a construção da capela deveria ter sido tratada logo após a conclusão da “Ala São José”, uma vez que a construção da capela foi bem anterior ao pavilhão Nossa Senhora Aparecida concluída em 1950. A capela ficava bem separada e distante do conjunto dos pavilhões São Cristóvão e São José.
Sem entrarmos em explicações do porquê dessa deslocação, achamos por bem tratar só agora da construção da capela do Sagrado Coração de Jesus.
Quanto à construção da 2ª capela do Convento, não temos absolutamente nenhuma documentação escrita. Nem sequer uma vírgula! Tudo aconteceu no silêncio. Até parece sugerir o silêncio durante a construção do Templo de Jerusalém, quando não se ouviu ruído algum de martelo, picareta ou qualquer outra ferramenta (cf. 1 Rs 6,7). Mesmo assim, decorridos 57 anos da construção daquele pequeno templo, vamos tentar resgatar-lhe a história escondida na memória dos que aqui viveram naquela época.
Entre os diversos confrades consultados sobre a origem da antiga capela do Conventinho, ouçamos o depoimento do padre Irineu Decker: “Em fins de 1939 foi iniciada a construção da 2ª capela pelo irmão Antônio Büchler e o frater Frederico Bloech. Este foi encarregado de fazer a compra do material. Era uma grande necessidade porque não havia lugar na antiga capelinha para pessoas de fora que vinham participar de algum ato litúrgico.
Padre Clemente Britzen era contra a construção, pois cuidava da chácara e não queria que fossem cortadas árvores frutíferas. Mas o então provincial, padre Pedro Storms, deu licença para construí-la nas férias de dezembro e janeiro, quando padre Britzen costumava estar ausente (ele passava as férias em Varginha). Quando voltou, estava diante de um fato consumado e também não reclamou porque respeitava a ordem do superior” {Documento Decker, p. 3}.
Padre Frederico Winkelmann complementa com outros dados, informando, que quem convenceu o padre provincial para a devida autorização e também como prover o dinheiro necessário para a obra, foi o então frater Frederico Bloech. Até então, nunca tinha havido festas no bairro em benefício do Conventinho. Para a construção desta capela foram organizadas duas festas com a colaboração do povo da Vila São Geraldo. O próprio frater Bloech fez a planta e obteve a assinatura de um engenheiro amigo {cf. Carta Winkelmann (Rio de Janeiro, aos 18.6.1993)}.
O término da obra da capela do Sagrado Coração de Jesus do Conventinho ocorreu pelo final de 1940. Mesmo sem estar completamente concluída, ela foi inaugurada por dom André Arcoverde de Albuquerque Cavalcante. Convém ressaltar, como referencial histórico, que dom André foi bispo de Taubaté, de outubro de 1936 a novembro de 1941.
O acabamento da capela, principalmente a parte interior, ficou por conta da habilidade do irmão Antônio Büchler, o capinteiro-mor da província. Coube-lhe a tarefa de fazer o coro, a escadaria, a mesa de comunhão, o altar principal, os altares laterais e os bancos. Também mobiliou a sacristia. Nosso irmão, além de primar nessa profissão, era exímio pedreiro.
O pequeno templo conventual tinha, atrás da sacristia, uma pequena torre, um campanário equipado de sino. No frontispício da capela, bem em cima, havia um cruzeiro e debaixo desse um nicho encravado na parede, onde ficava a imagem do Sagrado Coração de Jesus, imagem essa que lembrava o nome da capela e do Convento. Da porta principal da capela até a atual Avenida Francisco Barreto Leme estendia-se uma passarela cimentada, ladeada com duas filas de cedrinho.
Esta capela, além dos fratres, comportava um grande número de pessoas. Com o tempo, várias missas dominicais (5h30, 6h30, 7h30 e 8h30) eram celebradas. Muitos dos nossos fratres receberam aí as ordens menores em vista do sacerdócio e até mesmo diversos confrades foram ordenados presbíteros nessa capela {cf. Depoimento Goedert (Jaraguá do Sul, aos 12.9.1994); Cf. Cr. I, fl.33}.
Com o funcionamento dessa capela começou a ser organizada a catequese. Padre Frederico Winkelmann foi o primeiro catequista no bairro do Areão. O povo era sempre atendido em confissões por algum padre. Assim começou a ser desenvolvido um grande amor à vida eucarística.
Essa capela funcionou durante 31 anos, estando a serviço da evangelização do povo da Vila São Geraldo. Foi aí e nas dependências do Conventinho que as crianças foram iniciadas na vida cristã, os jovens e adultos receberam o alimento da Palavra de Deus e da Eucaristia. Ali nasceu a paróquia do Sagrado Coração de Jesus, canonicamente erigida a 8 de dezembro de 1969. Por algum tempo nossa capela serviu de sede da nova paróquia. Foi demolida em setembro de 1971, para dar lugar à construção da moderna e atual capela do Conventinho.
Pe. José Francisco Schmitt, scj.