MENSAGEM DE NATAL 2018: REGRESSAR A BELÉM
Esta época do ano fala-nos de caminhos. A voz dos profetas convida-nos a reparar os caminhos deteriorados e a construir outros novos para continuar a dar uma direção à vida. O Evangelho destes dias fala-nos de caminhantes e não tanto de caminhos: um jovem casal de Nazaré, uns sábios vindos de longe e um grupo de pastores surpreendidos no seu trabalho. Todos eles caminhavam. Nenhum deles caminhava sozinho.
Para muitos, Maria e José cumpriam sim-plesmente a sua tarefa, mas a verdade é que ambos tinham iniciado um caminho apaixo-nante. Acompanhava-os a fé e a solidariedade profunda que os unia e, sobretudo, aspirar sempre a vontade de Deus. Os pastores, por sua vez, sentindo-se enviados e testemunhas do Pastor que age para o bem do seu povo, superavam os seus medos e caminhavam na noite. Acompanhava-os a alegria partilhada de uma manhã diferente que se iniciava naquela mesma noite sob os seus olhos arregalados. Os outros, os mais distantes, eram estrangeiros, sim, mas acima de tudo sábios, porque sabiam muito bem que, para alcançar o objetivo, é necessário discernir e deixar-se guiar. Nenhum destes caminhantes ficou desiludido. O encontro com Jesus iluminou os seus rostos e as suas culturas. Ninguém se sentiu estrangeiro e ninguém pensava que os outros fossem estrangeiros. O único que se manteve alheio a tudo isto foi Herodes. Ele próprio quis ser estrangeiro ao colocar-se de fora. Ele não quis sair de si mesmo, e muito menos colocar-se a caminho com os outros. Permaneceu prisioneiro do seu poder. Todos os outros puderam entrar em Belém. São os simples, os que se deixam surpreender, os que não ambicionam poder nem prestígio, os inquietos, os que buscam a verdade que continuam a ensinar-nos o caminho a percorrer e como fazê-lo.
Precisamente neste ano, a voz do XXIV Capítulo Geral que celebrámos pede-nos para que continuemos a fazer juntos o nosso caminho, crescendo na cultura sinodal. Trata-se de caminhar à luz do Espírito, dando, todos os dias e em tudo o que fazemos, mais espaço à Boa Nova que nos vem de Jesus. É a partir dali, é d’Ele, que o nosso caminhar tem vida e sabor: “O seu Caminho é o nosso caminho” (Cst. 12). Esta é a herança viva que o Padre Dehon nos deixou. Compete a nós acolhê-la, vivê-la e partilhá-la.
E neste mês de Dezembro, recordamos que há 150 anos atrás Dehon estava a prepara-se para celebrar o seu primeiro Natal como sacerdote. O seu ministério na Igreja foi um contínuo aprender a caminhar com os outros e para os outros. E se assim foi, é porque ele aprendeu muito bem o caminho para Belém.
Contemplando uma vez mais aquilo que ali acontece, a vida do nosso Fundador foi-se dinamizando. Belém, a Santa Noite de Natal, foi para ele o ponto de partida. Ali ele aprendeu a estar e a caminhar com Deus para sair de si mesmo e ir ao encontro dos outros, apontando o caminho para encontrar e acompanhar os que então reconheceu como mais necessitados de atenção e de cuidado, particularmente os jovens, sem se esquecer de procurar sempre novos horizontes: “Où faut-il aller? Je suis prêt : ‘Ecce venio!’. Faut-il aller à Bethléem, à Nazareth, en Égypte, en Galilée? ‘Ecce venio!’ ”. [“Aonde devo ir? Eu estou pronto: ‘Ecce ve-nio!’. É necessário ir a Belém, a Nazaré, ao Egipto, à Galileia? ‘Ecce venio!’ ”] (CAM 1/63).
Chegou a hora de regressar a Belém, de entrar em Belém. Não fiquemos de fora, estrangeiros, solitários, porque em Belém encontraremos sempre proximidade e ternura, alento e estímulo para continuar a caminhar nas etapas que se seguem. Belém é testemunho vivo e missão partilhada. “[…] Que o mundo do nosso tempo que procura, ora na angústia, ora com esperança, possa receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes e descoroçoados, impaci-entes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho cuja vida irradie fervor, pois foram quem recebeu primeiro em si a alegria de Cristo” {Paulo VI, Evangelii nuntiandi, 80 (citado pelo Papa Francisco in Evangelii Gaudium, 10)}.
Desejamo-vos um Feliz Natal e um Novo Ano cheio de esperança e de generosidade para continuar a caminhar juntos e atentos ao hoje de Deus para todos nós.
In Corde Iesu,
P. Carlos Luis Súarez Codorniú, scj (Superior Geral) e seu Conselho.