MENSAGEM NATALINA DO SUPERIOR GERAL E CONSELHO
Caracas, 1° de dezembro de 2019
A todos os membros da Família Dehoniana
Mensagem de Natal 2019
“Não nos escandalizemos com a manjedoura!”
Queridos confrades e todos os membros da Família Dehoniana!
Um dos primeiros assistentes gerais do P. León Dehon, o P. Alfonso María Rasset, assim se expressava nessa data:
“No Natal, nasçamos com Jesus, tornemo-nos crianças, pobres, humildes, sofredores; não nos escandalizemos com a manjedoura” {“Pour Noël, naissons avec Jésus, soyons des enfants, pauvres, humbles, souffrants, ne nous scandalisons pas de la crèche”. P. Léon Dehon, Un prêtre du Sacré Cœur. Vie édifiante du Révérend Père Alphonse-Marie Rasset, 342}.
“Não nos escandalizemos com a manjedoura!” Que bonita exortação! De certo modo, pode-se compreender como um chamado a não desistir de contemplar o presente que nos foi dado: Jesus; por outra parte, é também uma provocação para que seja acolhido e vivido sem reservas tudo o que Ele nos ensina com sua Vida e sua Palavra, no seu amor constante à vontade do Pai. A proximidade do Natal nos convida a adentrarmos nas vias escandalosas e surpreendentes de Deus. Assim o viveram Maria, José, Isabel, Zacarias, os pastores, os Sábios do Oriente e tantos outros. Que bom se podemos também nós reconhecer o rastro de Deus em nossas vidas, em nossas comunidades e na vida de tantas pessoas com quem partilhamos quotidianamente nossa missão! Este período do ano é uma boa oportunidade para isso, para nos deter, reconhecer e agradecer a obra de nosso bom Deus entre nós. Olhando a vida da Congregação, quero partilhar três acontecimentos que podem ser lidos inclusive associando-os ao que celebramos nesses dias do ano. Neles existe algo de escândalo e de surpresa, mas sobretudo um grande dom de Deus.
Em primeiro lugar, indico a memória do P. Nicola Martino Capelli. Iniciando o mês de outubro, recordávamos que setenta e cinco anos atrás Martino fez de sua vida uma oferta agradável a Deus. Num período de muita escuridão, nosso confrade não deixou de guiar-se pela fé e pela vocação que recebera. Apesar do perigo que corria, atendeu nas montanhas de Monte Sole, na região dos Apeninos italianos, aqueles que mais sofriam: mulheres, anciãos e crianças terrificadas pela violência. Neles encontrou o rosto doloroso de Cristo. Apesar de tanta crueldade e desumanização, Martino, verdadeiro reparador, não deixou o coração se levar pelo ódio e nem desistiu de buscar a paz e a reconciliação, aproximando-se de todos. Não se deixou guiar por outra luz que não fosse a do Coração de Cristo que tanto amava. Martino não se escandalizou com a manjedoura. Foi executado por fidelidade à sua consagração religiosa. Sua grande aspiração era ser missionário na China, mas nunca pode chegar lá. Seu caminho foi outro: o de Jesus. Como os Sábios do Oriente que se dirigiam a Belém seguindo uma estrela, Martino fez o melhor dos caminhos: deixou-se guiar pela luz do Evangelho. Foi assim que nosso confrade, fazendo-se amigo e servo de todos, encontrou-se para sempre com o Príncipe da Paz.
Em segundo lugar, destaco o Encontro dos Superiores das Entidades da Congregação em Roma no mês de novembro. Durante aqueles dias tivemos ocasião para escutar-nos, rezar e refletir juntos. Foram dias que nos ajudaram a nos conhecer um pouco mais e, acima de tudo, a nos sentir mais corpo na vocação sempre desafiadora do Sint Unum. Dia após dia fomo-nos confirmando no chamado e no desejo de seguir fazendo do caminho de Jesus o nosso caminho: “Seu caminho é também o nosso caminho” (Cst 12). Somos conscientes de que temos que continuar a ajustar nossos passos e a afinar bem o olhar para reconhecer melhor o caminho que o Mestre nos vai mostrando. Temos que nos aproximar mais uns dos outros. Sabemos que não o alcançaremos sem nos distanciar de nossos próprios interesses e projetos. O desejo é grande, mas cabe a nós continuar a concretizá-lo. Queremos confiar mais uns nos outros. De fato, durante aqueles dias nos sentimos como os pastores que naquela noite santa se animavam uns aos outros para ir até Belém e empreender um caminho que os levaria ao Menino para poder adorá-lo. Eles o fizeram, e o fizeram juntos, porque confiaram nas coisas de Deus. Essa é a mensagem que precisamos nos presentear, dizer uns aos outros todos os dias, sempre de novo: Vamos ao seu encontro! Assim o fazemos quando nos alimentamos do mistério vivo de Deus na Eucaristia, quando o adoramos em nossas comunidades, quando o reverenciamos em nossos irmãos e quando o servimos em tantos rostos, especialmente naqueles dos mais pobres e aflitos.
Em terceiro lugar, por último, agradeço a Deus o dom dos confrades que, há apenas alguns meses, renovaram o “sim” generoso que proclamaram no dia de sua profissão religiosa. E o fizeram, na ocasião, para abrir caminho à Congregação na Colômbia, na periferia da cidade de Bogotá. São companheiros da Argentina, Brasil, Indonésia e Filipinas que contarão com especial apoio dos nossos confrades do Equador e da Espanha. Cada um deles, no discernimento com suas Entidades de origem, deixa de lado seus compromissos e sua vida ordinária para começar e partilhar uma nova missão. Todos chegarão como discípulos humildes que têm muito que aprender, mas chegarão também com o desejo de partilhar numa terra necessitada de paz e de reconciliação a sua vocação de Amor e Reparação. Como Maria e José, esses nossos companheiros foram surpreendidos por uma proposta que os tirou de seus planos e da sua vida quotidiana. Sem dúvidas, reconheceram em tudo isso o chamado do bom Espírito de Deus e o acolheram com fé e esperança no desejo de contribuir, desde a pequenez e a fragilidade dos primeiros passos, com a missão da Igreja de viver e anunciar o Evangelho.
Queridos amigos, a estes três acontecimentos certamente podemos acrescentar muitos outros. Seria estupendo que também em cada comunidade se encontre um tempo para partilhar outras muitas ocasiões e vivências que podem ser reconhecidas como especial proximidade de Deus no meio de nós ao longo deste ano.
Juntamente com todo o Conselho geral e os membros da Cúria geral, desejo a todos um feliz Natal; que não nos escandalize o Mistério de Belém e que continue a encorajar-nos no caminho de vida e serviço que queremos continuar realizando no próximo ano novo. Fraternalmente, in Corde Iesu,
Pe. Carlos Luis Súarez Codorniú, scj Superior Geral e seu Conselho.