PADRE DEHON, DE SANTOS AO RIO DE JANEIRO
01 de Dezembro (continuação): Santos progrediu muito nos últimos anos. O quadro que dela traça M. de Rancourt em 1901 é absolutamente diferente desse que estou reproduzindo “A cidade em que me demorei o menos possível, diz ele, tem a peculiaridade de receber e multiplicar todos os micróbios maléficos do mundo. Ultimamente foi a peste; na minha passagem a febre amarela; sem contar a malária que ali impera sem cessar, com a presença dos pântanos insalubres que a rodeiam por quase todos os lados. As ruas são sujas, malconservadas e malcheirosas. De longe, no entanto, parece uma cidade elegante, mas não se deve vê-la muito de perto”.
Santos, como o Rio, foi transformada. Passo algumas horas em terra. O agente da Companhia me informou mal. Disse-me que o Amazonas está vindo em direção ao sul, mas na realidade é o Magalhães. Envio um telegrama para Recife, a fim de que enviem minha valise com o Amazonas. Que confusão!
Chego com tempo bom ao Rio, no dia 2 às duas horas. Novamente admiro a beleza da baía, a mais linda que a costa dos mares nos pode apresentar.
A necessidade de área e de espaço obrigam a arrazar (sic) o Morro do Castelo. É um trabalho gigantesco, que merece ser admirado, mas é lamentável sob o ponto de vista da história. Lá encontrava-se a primeira acrópole do Rio, com a primitiva igreja de São Sebastião. Envio novo telegrama, pedindo minha valise que ficou no Recife. Espero poder encontra-la aqui na minha terceira viagem num mês.
Os beneditinos me oferecem hospedagem. Revejo com prazer a grande igreja de São Bento, com seu ouro que atesta a riqueza do mosteiro nos séculos passados. A nave apresenta aos olhos maravilhados suas colunas retorcidas e ornadas com grinaldas e suas pilastras ornadas com folhagens, fazendo emergir anjos e bustos de santos. A escultura não é fina. A catedral e a igreja de Nossa Senhora do Carmo são do mesmo estilo, porém menos ricas.
Subo o Corcovado de trenzinho. Bonita subida por cima da floresta: 711 metros. Panorama único: pleno mar ao leste, a enseada ao norte com suas ilhas, a cidade imensa com relevo dos morros, enfeitada com suas palmeiras e jardins. Ao longe a Serra dos Órgãos, as montanhas com matas.
Os panoramas da Suíssa (sic) são bem maiores com seus imensos horizontes de neve, geleiras, montanhas e lagos; este panorama daqui tem mais charme, mais variedades e mais cores. Que cidade nos poderá oferecer isto? Um rochedo atrevido e delgado e no entanto acessível pela via funicular e que vai duas vezes mais alto do que a torre de Eifel, a 711 metros de altura! Desço por Santa Tereza, o bairro das vilas e das pensões. Todas essas casas têm o privilégio de alegrar-se com jardins exuberantes, com vistas panorâmicas sobre a cidade, a baía e as montanhas, com a brisa refrescante de cada manhã. Entro na cidade pelo grande viaduto, o dos Arcos de São Francisco, que vai de um morro ao outro.
O P. Lefevre, sub-prior de São Bento, exercera comigo, por alguns dias, caridosas funções da grande hospitalidade beneditina. Ele é do Norte de nosso País. Seus pais estão ligados às melhores famílias de Tourcois, os Tiberghin, os Flipo.
Circular SCJ – 15 anos de BSP e BRM.