PADRE DEHON EM VISITA A SANTA CATARINA (10)
18 de Novembro: Domingo, dia de espera. O povo é edificante. Há 15.000 comunhões por ano, para uma população de 10.000 almas. Um velho alemão, querendo de toda maneira ver o Padre Geral, veio de 12 quilômetros, e dizia: “Falei que o veria e consegui vê-lo”. Vir à missa de 12, 15 e 18 quilômetros não lhes custa. Na Europa queremos uma igreja em cada rua e missa a toda a hora.
Aqui existem borboletas esplêndidas. Vejo nesses insetos um símbolo da ressurreição. As larvas e lagartas representam a vida terrestre, as
borboletas aladas a vida celeste. Dante diz: “Noi siamo vermi nati a formare l’angelica farfalla”. Somos vermes destinados a formar a angélica borboleta.
Os colibris, pássaros-moscas, beija-flores alegram o nosso jardim. No
bosque atrás da casa estão os cardeais, na rua os pardais. Em toda a parte, os grilos e os pirilampos. Os índios estão às nossas portas. Os bugres, como aqui são chamados, vêm de noite roubar o milho e os carneiros.
A América antiga devia estar habitada por todos os lados: os fenícios
e os hibéricos no leste; os japoneses e os malaios ao oeste: os noruegueses e siberianos ao norte.
Encontram-se tipos fenícios e sírios, com os costumes correspondentes, no Peru entre os Quitchouas, e no México. Existem relevos de caráter assírio, múmias, hieróglifos no México e tecidos à moda oriental no Peru.
Os tupis e os guaranis, no Brasil, parecem ter formado uma só raça primitiva na idade da pedra polida. Antes da chegada dos europeus, eles conheciam os metais. Chamavam o ouro de pedra amarela; o ferro de pedra preta; o bronze de pedra que ressoa. Parecem ter guardado a lembrança do dilúvio. Tinham chefes civis chamados caciques e sacerdotes fetichistas. As tribos tupis e guaranis têm geralmente o tipo da raça amarela, com olhos mais ou menos oblíquos. Estas raças vêm da Mongólia, do Japão e da Malásia. Reclus assinala esta origem na sua geografia. A propósito dos goyazes, uma tribo tupi, diz: “Alguns índios apresentam um tipo mongoloide mais acentuado”. Faz a mesma observação de outras tribos. Dos guaranis, diz: “Eles são do número dos indígenas americanos que se aproximam do tipo asiático oriental”.
Outras tribos no nordeste devem descender dos fenícios, dos berberos e dos iberos. Adotaram a língua tupi, mas diferem dos tupis. A língua lhes terá sido imposta pela supremacia dos tupis, ou fizeram aliança com eles.
Os caynas, por exemplo, têm uma cor mais clara que os outros índios. Praticam a incubação, costume que Estrabão atribui aos iberos e que se perpetua nos bascos. Na incubação o marido se deita na cama e recebe os cumprimentos dos visitantes quando a mulher deu à luz uma criança. A língua dos guaranis e dos tupis é aglutinante como muitas línguas da Ásia.
Uma tribo, a dos Xavantes, têm a cor quase preta. Levam uma vida miserável, sem cabanas e sem tendas. Estes podem ter vindo da África; mas a Malásia, a Oceania e a Málaga têm pretos que podem ter chegado à América. Os patagãos lembram os australianos.
A origem dos índios pode ser estudada sob outro ponto de vista; pode-se dizer, a priori, segundo nossos textos clássicos. É possível que Salomão enviou seus navios até lá. Fez construir uma frota no Mar Vermelho. Era preparada sobretudo pelos fenícios. Ia para longe, à procura de ouro, perfumes, madeiras preciosas. Salomão disse a si mesmo: “Dominus dedit mihi horum quae sunt scientiam veram ut sciam dispositionem orbis terrarum et virtudes elementorum – Deus deu-me a conhecer a disposição do globo terrestre e as forças da matéria (Sb 7)”.
O sábio beneditino e orientalista Genebrarbo (1537-1597), disse a respeito dessa frota, de que fala o 3º livro dos Reis: “Partindo do Mar Vermelho, ela devia ter aportado nas Índias orientais, na Malaca em Sumatra, para depois se dirigir diretamente até a ilha de São Lourenço (Madagascar), de lá ao Cabo da Boa Esperança e ao Brasil, depois a Cuba, à ilha São Domingos até o México. A frota de Salomão viajou 1.200 anos antes de nossa era.
Circular SCJ – 15 anos de BSP e BRM.