PADRE DEHON EM VISITA A SANTA CATARINA (7)
Capítulo XXVII
Sobre o rio Itajaí – Itajaí – Viatura
Dia 1º de Novembro: Partida para Itajaí, de barco. As águas estão baixas, e é preciso tomar um barco pequeno, de rodas, chamado “Progresso”, até Gaspar. Lá tomamos o “Blumenau” que é maior. Enquanto se baldeiam as mercadorias temos algumas horas de repouso em Gaspar… e também atraso. Existem ainda muitas canoas de formas primitivas nesses pequenos portos.
O rio desce entre margens pitorescas: fundo verde, toiças (sic) de palmeiras, mimosas floridas, rochas de granito espelhando-se na água; relembra a Escócia.
Gaspar: igreja franciscana no alto. Vista linda para o rio que forma um cotovelo. Os padres nos oferecem um jantar. Felizmente já começo a falar um pouco de português para conversar com todo o mundo.
Pormenores sobre os costumes: os cavaleiros ainda usam estribos altos, à maneira da Idade Média. Gostam de chicotes com abo de chifre enfeitados com filetes de prata. A vida não é cara nas colônias: os ovos custam 200 réis a dúzia; a manteiga custa 1 mil e duzentos réis o quilo; um abacaxi: 200 réis; 100 bananas: 200 réis; 1 dúzia de laranjas: 100 réis. A pensão em São Bento custa 38 mil réis por mês para três pessoas.
Nosso rio se alarga e se torna possante. A tainha cortada em postas é secada ao sol. São bagres. É um antigo costume indígena que ficou. Chegamos a Itajaí. Duas colinas encobrem o mar. Não se vê o porto. Desembarcamos pelo trapiche junto ao quebra-mar.
Chego à casa dos nossos. O bom P. Foxius é muito hospitaleiro. O P. Thoneick é seu auxiliar. Atendem a três paróquias e seis capelas. A população é brasileira. Apenas algumas casas de comércio são alemãs.
No porto foram iniciados trabalhos orçados em 50 contos, cerca de 80 mil francos. Uma grande enchente em 1880 estragou o lugar de operações de navios. Constroem-se diques para tornar a saída do rio mais direta e mais profunda.
A vila é bonita e bem traçada. A igreja é modesta; nossos padres pretendem construir uma nova. A vida cristã se reanima. O número de comunhões pascais elevou-se de 500 para 1.500. geralmente há 100 comunhões por mês. O Apostolado da Oração está bem vivo, assim como a Irmandade do Santíssimo Sacramento e a Conferência de São Vicente de Paula. As capelas foram restauradas, e os corais embelezam o culto. As confrarias de homens e mulheres são toda a vida paroquial. Os zeladores do Apostolado dividem entre si os quarteirões, informam-se sobre os doentes a serem visitados e os batizados a serem feitos. Para empregar uma comparação familiar, são batedores que preparam boas caçadas.
O povo tem alguns costumes supersticiosos. As pessoas fazem promessa de assistir à missa com uma vela, com um rosário, de carregar uma pedra na cabeça na procissão, etc. Pedem para colocar a chave no sacrário na boca da criança a fim de aprender a falar mais cedo e com maior facilidade.
A região é bonita, mas as grandes árvores desapareceram. Uma pequena área de uma velha floresta na entrada, está em pleno desmatamento. Isto perturba as serpentes que ali viviam em paz. Agora se espalham pela vila. Uma jararaca veio procurar a morte nos degraus da casa paroquial e outra perto da igreja. Nos prados e nos jardins o Bem-te-vi se levanta como as andorinhas e canta como elas os louvores de Deus. Ainda estou cansado das minhas jornadas na carroça.
Circular SCJ – 15 anos de BSP e BRM.