Palavra de Papa Francisco: multiplicação de pão?
Como conheci Bergoglio
Pude entrevistá-lo em distintas oportunidades e circunstâncias, mas, nestes momentos em que proliferam os casos de quem diz tê-lo conhecido muito bem, minha história é mínima.
Só posso dizer que uma vez o vi multiplicar os alimentos, como Jesus fez com os pães e os peixes. Foi em outubro de 2012. Eu colaborava com a equipe de imprensa dos encontros ecumênicos de católicos e evangélicos que tinham o padre Bergoglio entre seus organizadores.
No estádio onde se realizava a reunião, a administração não permitia a entrada de um catering externo, de modo que, durante o recesso, todos os presentes deviam comprara o almoço dentro do próprio prédio. As opções não eram variadas: só empanadas, e ainda por cima poucas. Era feriado nacional e não haviam previsto mais nada.
Perguntaram a Bergoglio se preferia ir almoçar no exclusivo bairro de Puerto Madero, que fica perto dali e concentra numerosos passeios e restaurantes, mas ele disse que ficaria para comer com todos os outros.
Quando nós, que trabalhávamos na imprensa do evento, fomos convocados para o almoço, já era muito tarde, não restava quase nada. Dirigimo-nos ao final do salão. Quando passamos, Bergoglio se aproximou, cumprimentou cada um com um beijo e agradeceu pelo nosso trabalho.
Depois nos sentamos à última mesa. A garçonete trouxe um pratinho com cinco empadas (Éramos oito). Alguém tomou a iniciativa e começou a parti-las pela metade. Compartilhar, este era o espírito do encontro. E não restava outra opção.
De sua mesa, da outra ponta do salão, Bergoglio seguiu nossos movimentos e entendeu. Depois se levantou e começou a perguntar nas demais mesas se iam continuar comendo. Resgatou da mão de pastores e sacerdotes as últimas empanadas, reuniu-as em um prato e nos serviu.
Comovidos por seu pequeno gesto, nos sentimos adulados e envergonhados. Tinha multiplicado os alimentos. Este pequeno milagre ficou gravado em nosso corações. O homem que hoje ocupa o trono de Pedro tinha percebido uma necessidade e a reparou, quando outros nem sequer tinham se dado conta.
Este é o homem que, aos 76 anos, se propõe a mudar o mundo. Conseguirá?
(Evangelina Himitian, “A modo de epílogo, Como conheci Bergoglio”: A Vida de Francisco. O Papa do Povo).