Reflexão sobre o Sagrado Coração de Jesus: Deus tem um coração!
No Antigo Testamento, o coração de Deus é considerado como o órgão da sua vontade: o homem é julgado em relação ao coração de Deus. No tempo da plenitude, a vontade de Deus se manifesta e se realiza no divino coração de seu Filho.
Os primeiros versículos do capítulo 11 do livro do profeta Oséias nos descrevem a dimensão do amor com que o Senhor se dirigiu a Israel, no início da sua história: “Quando Israel ainda era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho” (v. 1). Na verdade, à incansável predileção divina, Israel responde com indiferença e até com ingratidão. “Mas quanto mais os chamavam, tanto mais eles se afastavam de mim” (v. 2). Todavia, Ele nunca abandona Israel nas mãos dos inimigos, pois “o meu coração – observa o Criador – comove-se dentro de mim, comove-se a minha compaixão” (v. 8).
O coração de Deus comove-se! Com essa expressão somos levados a contemplar o mistério do coração de um Deus que se comove e derrama todo o seu amor sobre a humanidade. Ele não se rende perante a ingratidão e a rejeição do povo que Ele escolheu para si; pelo contrário, com misericórdia infinita, envia ao mundo o seu Filho para que assuma sobre si o destino do amor aniquilado, a fim de que, derrotando o poder do mal e da morte, possa restituir a dignidade de filhos aos seres humanos, que o pecado tornou escravos. Tudo isto sob um alto preço: o Filho Unigênito do Pai imola-se na cruz: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13,1).
Somos levados a contemplar o Coração traspassado do Crucificado. “Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, estando nós mortos pelas nossas culpas, deu-nos a vida juntamente com Cristo… Com Ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos Céus, em Cristo Jesus” (Ef 2, 4-6). No Coração de Jesus, está revelado para nós aquilo que é essencial para nossa fé cristã: em Cristo foi-nos revelada e comunicada toda a novidade do Evangelho: o Amor que nos salva e nos faz viver já na eternidade de Deus. O evangelista João afirma: “Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 6). O coração de Cristo atrai o nosso coração; essa atração nos faz sair de nós mesmos, a abandonar as nossas seguranças e certezas humanas para confiar nele e, seguindo o seu exemplo, a fazer de nós mesmos um dom de amor sem reservas: eis a verdadeira oblação!
Quando Jesus nos chama a “permanecer no seu amor” (cf. Jo 15, 9), Ele não deseja outra coisa senão que assumamos a sua missão indispensável para a Igreja e para o mundo: a santidade. Precisamente por isso nunca devemos afastar-nos da nascente do Amor, que é o seu Coração transpassado na cruz. Só assim seremos capazes de cooperar eficazmente para o misterioso “desígnio do Pai”, que consiste em “fazer de Cristo o coração do mundo”! A vontade do Pai se realiza na história na medida em que Cristo se torna o Coração dos nossos corações.
Coloquemos no Coração de Cristo as nossas carências, os nossos limites e as nossas debilidades, a fim de que sejam superadas com a força renovadora de seu amor. Sobretudo aprendamos Dele a sentir a “dor dos pecados”, para que, no seu divino coração, sejamos reconduzidos ao Pai.
P. Leandro dos Santos (Paróquia/Santuário São Judas Tadeu).