RETIRO DA PROVÍNCIA BSP: ARREPENDEI-VOS!
“Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2,38).
Através deste versículo, Dom José Luís Azcona Hermoso [Nascido em Pamplona, 28 de março de 1940, Dom José Luís é um religioso missionário da Ordem dos Agostinianos Recoletos. Bispo emérito do prelado de Marajó, no Estado do Pará. Filho de Martin Azcona e Esperanza Hermoso, sua vocação religiosa manifestou-se desde cedo. Foi para o Seminário Menor aos dez anos de idade na cidade de São Sebastião (Espanha)]. Professou os votos simples em 1958 e os votos solenes em 1961. Foi ordenado sacerdote por Dom Giovanni Canestri, na Basílica de São João de Latrão, em Roma, em pleno Concílio Vaticano II. Em 1964 concluiu a teologia e cursou o doutorado em teologia moral no Instituto Alfonsiano dos padres redentoristas em Roma.), iniciou a pregação de nosso Retiro Provincial, na Casa Tabor das Irmãs do Santuário de Schoenstatt, em Atibaia-SP. Éramos quarenta e dois religiosos, que neste tempo quaresmal procurávamos reencontrar o Senhor através da oração, do silêncio e da penitência.
A exortação de Atos dos Apóstolos, proposta pelo bispo, sintetiza tudo aquilo que por nós foi rezado e meditado nesses quatro dias de reflexão. Segundo Dom Azcona, essa é a resposta de Pedro a todos aqueles que buscam dar razão a sua fé em Cristo Jesus, que foi crucificado pelos nossos pecados. Sem essa experiência transcendental de arrependimento (conversão) nós jamais seguiremos a Cristo verdadeiramente; jamais seremos homens novos; jamais formaremos comunidades fraternas e autênticas; nem permitiremos que o Espírito Santo dessa sobre nós e nos conduza a verdadeira Missão de instaurar o Reino de Deus nas almas e na sociedade.
Para Dom José, o arrependimento é um dos elementos centrais e primordiais, do qual descansa todo o anúncio do evangelho e dos sacramentos, a estrutura da Igreja, e tudo que envolve a missão. Isto significa, que a Igreja existe para proclamar o arrependimento. Experiência que só se dá pela graça (cf. Jo 16,7ss), dom de Deus, concedido através do Espírito, que jamais poderá ser alcançado pelas nossas próprias forças (cf. 2Cor 5,18).
Citando em suas reflexões as inspirações carismáticas (cf. Cst.4;7;11;21e23) de nosso fundador (Padre Dehon), Azcona, nos assegura que temos uma fonte preciosa, que pode nos conduzir a uma verdadeira radicalidade batismal, através da consagração religiosa que um dia fizemos. No entanto, nos alerta para que as palavras escritas em nossa regra e constituições não sejam: “letra morta” ou “letra que mata”. Devem ser conscientemente vividas, experiênciadas, e proclamadas através de nossa missão. Se isso não acontecer confirmaremos o que o profeta Jeremias nos exortou na liturgia de quinta-feira (8 de março de 2018): “Eles não ouviram e não prestaram atenção; ao contrário, seguindo as más inclinações do coração, andaram para trás e não para a frente (…) obstinaram-se no erro, procedendo ainda pior que seus pais. Se falares todas essas coisas, eles não te escutarão, e, se os chamares, não te darão resposta. (…) Sua fé morreu, foi arrancada de sua boca” (cf. Jr 7,23-28).
Portanto, cuidemos para que em vez de “novos homens”, não sejamos na Igreja e na Congregação os novos fariseus: religiosos que por trás de belas e grandiosas ações escodem um orgulho diabólico, cheio de arrogância, vaidade e triunfalismo. Tão cheios de si mesmos que se tornaram “cegos”, “duros” e “cruéis”. “Padre Dehon é profundamente sensível ao pecado que enfraquece a Igreja, sobretudo quando cometido por almas consagradas. Conhece os males que afligem a sociedade; estudou-lhes cuidadosamente as causas no plano humano, pessoal e social. Mas percebe que a causa mais profunda dessa miséria humana está na recusa ao amor de Cristo” (Cst. 4).
Se assim estamos e nos percebemos, seria prudente e urgente sondar o nosso coração: Será que eu, realmente, amo a Deus? Será que sou capaz de dar a vida pelas ovelhas que o Senhor me confiou? Será que a vida que tenho testemunhado, corresponde a uma consagração obediente, casta e pobre que um dia eu disse “sim”? Será que em vez de nova criatura eu não tenho me tornado o “pródigo”, aquele do Evangelho de Lucas, que pediu os bens e se afastou do pai para viver a vida como bem queria, e depois de um tempo, perdeu sua identidade e não se reconhece mais como filho e nem como homem? Pois, se misturou aos porcos e se saciou com sua comida? Não deveria eu, bater no peito e reconhecer dolorosamente que não amo a Deus e não amo a ninguém!?
Quem não ama com o amor de Cristo está totalmente perdido, diz Dom Azcona. Precisamos voltar para a casa do Pai! (cf. Lc 15,11-32) Nascer de novo! (cf. Jo 3,1-8) Tornar nova criatura. Reavivar a chama que se apagou. Pedir incessantemente a graça da conversão e do arrependimento, para receber o Espírito da Vida que nos lança na comunidade de discípulos, para testemunhar Jesus de Nazaré, aquele que assumiu nossos pecados e nos salvou para dar-nos a vida eterna. “Do Coração de Cristo aberto na cruz, nasce o homem de coração novo” (cf. Cst. 4)
É hoje o tempo da graça, já é hora de mudança, transformação, renovação, libertação, reparação, SALVAÇÃO. Para isso, “haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus (…) que despojou-se… humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz!” (cf. Fl 2,5) Ou seja, precisamos morrer com Cristo. Ser pregado na cruz com ele (cf. Gl 2,20). O homem velho precisa ser sepultado. Arrancar as máscaras que escondem o rosto desfigurado. Lavar as imundices do pecado através do sangue e da água que jorram do “lado aberto”. É preciso colocar-se aos pés de Deus, e pedir sem cessar o “Dom do Arrependimento” e assim renascidos proclamar como São Paulo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20b).
Tendo contemplado os mistérios de Cristo para a nossa salvação, ao final do retiro, partilhamos em plenário os frutos que colhemos de nossas orações e nos enriquecemos com as partilhas e os testemunhos de nossos irmãos. Se não bastasse, tivemos ainda, a grata surpresa de enviar três de nossos confrades para a “missão de estudar”, como foi assim anunciado pelo provincial Pe. Ronilton, que presidia a celebração de encerramento. São eles: Pe. Damião Pereira da Silva, Pe. Lucas Luís Matheus de Mello e Pe. Ademir Joel Pedroso. Eles morarão no Colégio Internacional Leão Dehon, em Roma – Itália. A eles, estendemos as nossas preces e bênçãos, para bem exercer essa missão.
Por fim, para aqueles que estiveram no retiro, rezo para que perseverem na oração e não desistam de pedir a graça do arrependimento. Aos irmãos que não puderam estar, peço que busquem a Deus sem cessar, pois é somente nele que encontramos a vida. Da minha parte, não sei se posso dizer que alcancei a “graça”, mas encontrei homens que com a vida a proclamam. E é isso que desejo e sonho um dia poder proclamar:
“Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei!”
(Santo Agostinho).
Ir. Valdemar Érico Scramim SCJ
Formador no Convento SCJ, Taubaté/SP