SUPERIOR GERAL NA VENEZUELA
Superior e Conselheiro Gerais visitam a Região da Venezuela
A capital, Caracas, parece estar parada no tempo, ou voltada atrás aos anos 50, quando os recursos eram poucos e a pobreza era companhia quotidiana. Carros velhos, crianças descalças e sujas caminhando pelas estradas, muitos mendigos e uma multidão de vendedores ambulantes que vendem quinquilharias e cigarros, coisas antigas e, para piorar, um montão de lixo jogado pelo chão. Aliás, lixo é o que mais se vê em qualquer quarteirão ou nas estradas da cidade. E tudo isso no Distrito Federal!
O mais triste, sabem o que é? O povo venezuelano tem fome. Uma das necessidades fundamentais, a preocupação quotidiana da população na República Bolivariana é a procura pelo alimento. E o governo insiste que tudo vai bem e todos estão felizes de ser venezuelanos e de viver aqui. Em toda a cidade se veem frase que exaltam as personalidades e suas ações, com slogans que prometem progresso e desenvolvimento. Que ilusão!!!
Os nossos confrades dehonianos não se deixam enganar por essas mentiras. Estão com o povo. A nossa casa encontra-se justamente na periferia, junto à via principal: El Cemiterio. Exatamente porque é um grande cemitério, atrás da nossa casa. Uma enorme e violenta favela circunda nosso edifício que compreende a Paróquia de São Miguel Arcanjo e o teologado. Os nossos religiosos sofrem com o povo e também eles alimentam-se mal. Não existe abundância. É triste ver que as pessoas comem menos para poderem comer mais vezes ao longo do dia. É triste ver os ônibus lotados e parcamente iluminados, diversos carros parados nas estradas porque estão estragadas, filas infinitas para conseguir gasolina, os policiais aliados aos traficantes para que assim consigam sustentar suas famílias, muitos jovens nas cadeias, muitas crianças abandonadas pelas estradas…
Nossa paróquia tem muitas famílias cujos filhos deixam o país! Partiram em busca de vida melhor no Peru, Colômbia, Brasil, Equador, Chile… De lá enviam o pouco que ganham, a fim de que seus parentes na Venezuela possam comprar farinha de milho para as arepas (um tipo de torta) que come com queijo ralado. Este é o principal alimento dos venezuelanos. Apesar de tanta tristeza e sofrimento, o povo venezuelano não se entrega.
É incrível a alegria dessas pessoas que gostam de cantar e dançar. Não creio haver-me preparado, alguma vez, tão bem para o Natal quanto aqui. Celebrei a liturgia todos os dias às 06h30 da manhã, escutando as típicas canções venezuelanas, cantadas com o coração. Depois da Missa as pessoas se reúnem junto à porta da igreja para cantar e beber um pouco de chocolate quente com um pedacinho de pão (que custa muito porque tem pouco). Este foi o maior presente de Natal.
Também entrar no favelas com o nosso Superior Geral e um grupo de leigos foi uma experiência única. Padre Carlos Luis está no coração dessa gente. As famílias abriram, por muitos anos, as portas à comunidade católica para desenvolver um trabalho excelente num ambiente com muitos problemas de droga e violência. Quantas pessoas reencontraram o caminho da fé graças ao trabalho dos nossos confrades! É aqui que Padre Dehon nos quer!
Tudo isso é o que estamos vivendo no contesto da visita canônica do Superior Geral. Chegados aqui no dia 1º de dezembro, visitamos as duas comunidades de Caracas: Seminário de Teologia com a Paróquia e Seminário de Filosofia (com sete seminaristas). Depois, visitamos as comunidades de San Carlos, Tinaquillo, Valencia e Mariara. Encontramos os confrades zelosos, preocupados com o povo. Esse é um potencial para o futuro da Região.
Em Caracas, na paróquia dehoniana de San Miguel, participamos da ordenação de dois novos sacerdotes dehonianos: Jackson José Caripa Torres e Luis Manuel Torres. Jackson é de Caracas e Manuel de Valencia. Foi uma celebração animada por um coral de crianças que fascinaram a todos. O cardeal de Caracas, Sua Eminência Baltazar Enrique, presidiu a celebração. Estavam presentes todos os confrades da Região, além de muitos outros sacerdotes das dioceses. Os dois sacerdotes trabalharão na paróquia e na escola de San Carlos.
O Superior Geral e eu temos consciência da situação no país. Impressiona-nos sobremaneira ver que aqui temos confrades guerreiros que não se desencorajam, apesar das muitas dificuldades.
Parto da Venezuela com o coração apertado e com imenso desejo de fazer qualquer coisa para mudar esta triste realidade. Espero que mediante o diálogo com os confrades e outras pessoas valorosas teremos condições de assumir alguma coisa. Também rezar! Já o estamos fazendo e continuaremos a dobrar os joelhos pedindo a Nossa Senhora de Coromoto, padroeira da Venezuela, de olhar maternalmente este sofrido país.
Levi dos Anjos SCJ, Conselheiro Geral (dehoniani.org.). Tradução de E&L.