Uma aproximação ao diálogo internacional católico-pentecostal
Resumo: O autor propõe uma aproximação ao Diálogo Internacional Católico-Pentecostal, hoje na Sexta Fase/Sessão III de sua programação. Após apresentar as Igrejas-membro e os temas deste Diálogo, o autor caracteriza a experiência do “novo Pentecostes” e seus elementos teológicos, como são compreendidos pelas Confissões participantes do Diálogo, à luz da “teologia da graça consumada” e da compreensão moderna de “avivamento espiritual”. O discernimento de um terreno teológico comum, com base nas Escrituras, tem levado o Diálogo Católico-Pentecostal a superar mal-entendidos, pontuando convergências promissoras para o caminho da unidade cristã.
Introdução
O encontro de cristãos identificados com a experiência do “novo Pentecostes” em diferentes denominações teve expressões modestas já no começo do século XX, com incremento significativo nos anos 60 e 70. Nestes anos, cresce entre os evangélicos a sensibilidade ecumênica e a articulação do movimento pentecostal em assembléias e conferências, especialmente na Europa e América do Norte. Entre os católicos, temos a recepção do Concílio Vaticano II e o florescimento das primeiras gerações da Renovação Carismática Católica. Nos dois meios se ensaia uma Teologia do Espírito Santo de fonte bíblica, em diálogo com a experiência denominacional e relacionada com a dimensão profético-escatológica da Igreja de Cristo. O meio evangélico – herdeiro da Reforma, do pietismo protestante e do movimento de santidade – desenvolveu sua doutrina do avivamento (revival) e do batismo no Espírito Santo acompanhado da conversão e do falar em línguas. O meio católico – herdeiro da tradição patrística, da lectio divina e da liturgia sacramental – desenvolveu a espiritualidade de renovamento carismático (renewal), com o batismo no Espírito Santo relacionado com os sacramentos de Iniciação Cristã, acompanhado do falar em línguas e/ou de outros frutos do Espírito[1]. Assim se caracterizavam, em linhas gerais, os grupos pentecostais avivalistas ou carismáticos.
A partir dos anos 70, católicos e evangélicos aprofundaram suas perspectivas teológicas, esclarecendo as distinções e percebendo as convergências. Apesar dos tensionamentos e das diferentes “culturas teológicas” entre reformados, católicos e pentecostais clássicos, aos poucos se organizou o mosaico de ênfases doutrinais e elementos identitários, com revisão histórica e superação de mal-entendidos. Celebraram-se encontros internacionais de oração e estudo, com escuta comum das Escrituras e partilha das perspectivas teológicas. Aos poucos se consolidou uma ambiência fraterna de estima, proximidade e oração, igualmente importantes para este tipo de iniciativa[2].
Observamos, ainda, que durante o Vaticano II (1962-1965) alguns representantes pentecostais haviam estabelecido contatos com a Igreja de Roma, participando das delegações protestantes que acompanhavam as seções conciliares. Os contatos se tornaram cada vez mais promissores, com apoio de algumas instâncias organizadas na Europa e América do Norte, favorecendo o lançamento da Comissão Internacional de Diálogo Católico-Pentecostal em 1972, integrada ao Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos.
Hoje o diálogo multilateral entre a Igreja Católica e os representantes das Igrejas Pentecostais clássicas converge na aceitação da Palavra de Deus como normativa para a vida cristã; na leitura conjunta do Novo Testamento à luz de uma hermenêutica de comunhão; na afirmação de que a ação do Paráclito na Igreja tem sido diversificada, mas contínua; no reconhecimento mútuo dos frutos da graça; no discernimento fraterno sobre os carismas e o significado da experiência de “batismo no Espírito Santo”; na explicitação da dimensão pneumatológica da Igreja; no chamado comum à conversão; enfim, na consciência de que o Espírito do Ressuscitado nos conduz a “ser um, para que o mundo creia” (cf. Jo 17,21).
Nestas páginas apresentamos como se tem abordado o diálogo católico-pentecostal em termos de enfoque, método e temas da agenda recente. Nossa intenção é informar e abrir perspectivas para estudos posteriores, que estabeleçam uma interface mais precisa entre os resultados deste diálogo e a reflexão teológica das Igrejas Cristãs, a começar das denominações participantes deste caminho ecumênico, desde 1972 aos nossos dias.
Confira o artigo na íntegra no link a seguir:
Por: Prof. Dr. Pe. Marcial Maçaneiro
Doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Docente de teologia na PUC-SP e na Faculdade Dehoniana (Taubaté, SP). Membro da International Commission for Catholic-Pentecostal Dialogue (Santa Sé). Autor e conferencista. Religioso da Congregação dos Padres do Coração de Jesus (dehonianos).